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terça-feira, outubro 30, 2012

Porque a Microsoft fracassou no mobile... por enquanto

Você pode não conhecer o arquiteto de software Ray Ozzie. Ele foi co-criador do Lotus Notes e trabalhou alguns anos na IBM. No começo dos anos 2000 ele saiu da IBM e abriu sua startup. Chamava-se Groove Networks e buscava criar um serviço de streaming e armazenamento de arquivos on-line. É o que conhecemos hoje como "Cloud" ou "armazenamento na nuvem". É o que consideramos ser o futuro da computação.

Bill Gates, depois de perder o bonde da internet, sabia que Cloud era o futuro e em 2005 a Microsoft comprou a Groove Networks. Ozzie tornou-se amigo pessoal de Gates e era o escolhido para assumir o papel de grande visionário que levaria a MS ao futuro. Ozzie juntou uma equipe de mais ou menos 50 engenheiros e passou a trabalhar em um projeto chamado Live Mesh.

O Live Mesh seria uma nova tecnologia e um serviço que armazenaria online e distribuiria em tempo real imagens, documentos e música para qualquer dispositivo compatível. PCs com Windows, X-Box, Smartphones e Tablets com Windows seriam clientes e um arquivo que você editasse em um PC seria sincronizado automaticamente com seu telefone ou video-game, por exemplo. Ou seja, em 2005, 2 anos antes do iPhone chegar ao mercado, a MS já tinha definido seu conceito de iCloud. Mas então, o que deu errado?

A equipe da divisão Windows estava trabalhando desesperadamente no Longhorn (que viria a ser o terrível Windows Vista) e em um projeto chamado SkyDrive. O SkyDrive era um sistema parecido com o Live Mesh, só que era mais um web storage à lá Dropbox, um lugar apenas para colocar seus arquivos on-line. As funcionalidades de streaming não existiam porque a MS acreditava no poder de uma loja de música como o iTunes e não em um streaming online de música como a Pandora.

O Vista estava muito atrasado e Steven Sinofsky assumiu a presidência da divisão responsável pelo Windows em 2006. Sinofsky trabalhara no SkyDrive e era visto como um dos pais da idéia do Windows Live. Imediatamente ele passou a rejeitar o conceito do Live Mesh e relatos dizem que ele via o Live Mesh como um inimigo de sua idéia. Insistiu que o SkyDrive era o futuro. Ozzie e Sinofsky travariam uma das épicas guerras que definiriam os rumos da MS e os contornos de toda uma indústria.

O Presidente da divisão Windows refutava a idéia de ter um serviço intimamente ligado ao sistema operacional que não tivesse saído de dentro de sua própria equipe. Se era relacionado ao Windows tinha que vir da divisão Windows. O Live Mesh era diferente de sua própria visão sobre como este serviço deveria ser. Sinofsky passou a torpedear todos os esforços da equipe de Ozzie para fazer o Live Mesh deixar de ser apenas um projeto.

Quase 3 anos se passaram e o Live Mesh ainda não havia sido lançado. O Windows 7 chegou ao mercado em 2009, desenvolvido sob a batuta de Sinofsky e seu sucesso deu a ele muita credibilidade. O Live Mesh ainda era um protótipo e o SkyDrive estava no MSN Mail, tínhamos um vencedor. Mas a guerra interna ainda persistia.

Em 2010 Sinofsky, na condição de dono do produto mais rentável da empresa, pediu uma reunião com Steve Ballmer. Após a reunião o presidente da Microsoft decidiu que o Live Mesh deveria ser descontinuado e que seu time seria desmontado, todos receberiam novas atribuições. Era o fim da guerra, a morte do Live Mesh e a vitória absoluta de Sinofsky e seu SkyDrive.

Em Outubro de 2010, pouco depois da decisão de Ballmer, Ozzie pediu demissão da Microsoft. Hoje a visão de Ozzie é o iCloud da Apple que atende Macs, iPhones e iPads. E o Windows 8, idealizado pelo time de Sinofsky, ainda tentará reproduzir o modelo de loja de Apps criado pela empresa de Steve Jobs lá em 2008. Também é da equipe de Sinofsky a intransigente idéia de ter duas interfaces distintas para o mesmo sistema na versão 8 do Windows. Relatos de funcionários da MS encontrados aos montes na web registram que a equipe está ciente de todo barulho e reclamação das pessoas e da imprensa sobre a dualidade de interfaces no Windows 8. Mas segundo eles a direção da empresa diz que as pessoas vão se adaptar. 

Com 23 anos de carreira dentro da Microsoft Sinofsky é visto e descrito como alguém brilhante e que combate ativamente pelas idéias que defende. É a grande esperança da MS para virar a mesa e conquistar um lugar de destaque no mundo móvel. Espera-se que o Windows 8 repita o sucesso do Windows 7 não apenas nos PCs, um mercado em franco declínio, mas também no mobile onde Apple e Google reinam absolutas.

Mas era Sinofsky quem chefiava a divisão do Office quando esta foi a grande responsável pelo fracasso dos tablet computers em 2001. A MS foi a primeira grande empresa a levar o conceito de tablet à sério. Ele tinha um processador Intel, 13 polegadas, uma caneta stylus e rodava Windows XP. Após os primeiros insucessos no mercado a MS definiu que ele teria quer ser mais portátil, ou seja, menor e mais leve.

A MS pensou em um protótipo com processador ARM e rodando Windows CE mas a divisão Office anunciou que não portaria o pacote de escritório para a nova plataforma. Mas a impossibilidade de praticar os mesmos preços em um Office Mobile reduziriam a receita e a Microsoft não via sentido em empreender recursos para criar software que seria vendido mais barato, se o software mais caro vendia como pão quente. A empresa tinha receio que o Office móvel roubasse clientes do Office desktop e isso seria ruim para os números no fim do ano. Sinofsky, encarregado da divisão do Office, passou a combater, dentro da MS, a idéia dos tablets com a força costumeira.

De acordo com sua própria visão, sem um Office o conceito de tablet fracassaria e a MS desistiu. Anos depois, enquanto a MS se preocupava com o mercado de video-games, a Apple tomou o mundo móvel de assalto e virou tudo de cabeça pra baixo. Hoje o iPad, sem Windows e sem Office, é o modelo único de computador pessoal mais vendido da história. E a MS continua tentando entender como produzir algo que rivalize com o iPad e o iPhone. Será Sinofsky quem ajudará a MS a conseguir isso?

Sinofsky, apesar de ser formado em Ciência da Computação, é a demonstração clara do que acontece quando um homem de negócios vence uma disputa contra um profissional técnico. E apesar de estar copiando a Apple em muitas coisas atualmente, até na cor do uniforme dos funcionários das lojas, há uma lição de Jobs que Sinofsky ainda não aprendeu. Se você não se canibalizar, alguém fará isso por você. É por isso que a Microsoft deveria estar preocupada em desenvolver um substituto para o Windows e não uma nova versão dele.

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