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sexta-feira, setembro 03, 2010

Porque estou abandonando o Google Chrome

O Google Chrome foi uma excelente idéia. Foi uma brisa fresca no mercado de navegadores que insiste em ignorar o Opera. Dividiu o navegador em processos, um para cada aba aberta, ótimo para sistemas com vários processadores (reais ou virtuais). Copiou muitas coisas dos outros, verdade. Mas principalmente foi a primeira vez que um navegador foi abordado pela ótica da performance. Sem o Google Chrome ainda estaríamos executando JavaScript umas 6 vezes mais devagar do que hoje.

Faz todo sentido para o Google ter um navegador próprio, com a ambição de tornar o Sistema Operacional obsoleto e levar o usuário para a "nuvem". Não dá para confirar em terceiros para administrar a parte mais importante da infra-estrutura de sua visão de futuro: o navegador. E o Google tomou isso nas mãos e, críticas a parte, o fez com brilhantismo.

Em uma máquina com 8GB de RAM, onde tudo roda bem, o Chrome é muito mais rápido que os concorrentes. É visível e não preciso de benchmarks para perceber. Em meus sistemas Linux e Mac ele tomou o lugar do Firefox assim que ficou disponível. A cada nova versão ele era baixado, atualizado e usado com muita satisfação. Até ontem.

Ontem eu decidir voltar a usar o Firefox como navegador padrão. A razão é muito simples, de fato tão simples que pode até parecer infantil. O Google Chrome 6, lançado em 02 de Setembro de 2010, alterou a forma de mostrar o endereço de navegação e ocultou o prefixo "http://" desrespeitando um padrão da Web. Eu sempre critiquei muito o Internet Explorer por desrespeitar os padrões e querer empurrar sua forma de fazer as coisas sobre os usuários e ontem o Google Chrome fez o mesmo. Minha reação é simples, usar outro produto, que seja compatível com os padrões estabelecidos para a Web.

Google Chrome 6 exibindo uma URL sem o cabeçalho http://

Antes que você possa achar que estou fazendo tempestade em copo d'água vários fatores, todos eles ligados à essa singela modificação, podem ser apontados para mostrar que fazer isso é uma péssima idéia. Como toda péssima idéia ela merece reprovação e minha forma de demonstar isso ao Google é não usar seu produto. Além, é claro, de escrever esse artigo buscando fazer você concordar que não devemos usar produtos que desrespeitem padões estabelecidos de mercado.

Mozilla Firefox 3.6 exibindo a mesma URL mas atendendo aos padrões W3C

1- Desrespeito ao padrão W3C
O World Wide Web Consortium é uma entidade encarregada de definir padrões para a Internet. Padrões são importantes para que eu possa, com meu navegador, acessar um site que você tenha feito e hospedado em um provedor de serviços sem que tenhamos que discutir que modelos de dados e comunicação usar. A internet só existe porque exsitem padrões abertos e implementáveis de todas as tecnologias usadas.

O W3C definiu o padrão HTTP1.1 e especificou que todas as solicitações web devem ser feitas com o prefixo http://. Ainda que a ocultação do prefixo na apresentação do usuário não constitua uma desobediência ao padrão ela fere o estabelecido na RFC 3986 que afirma que, para sintaxe, o prefixo (chamado URI) não deve ser ocultado. Imagine se a Cisco decidisse que seus roteadores não vão mais transmitir requisições com o http:// como prefixo? Ainda que o prefixo estejá lá no Google Chrome sua simples omissão causa transtornos que veremos adiante.

O que deve ficar claro é: existe um padrão que deve ser seguido. Se o Google discorda do padrão deveria submeter seus argumentos para uma avaliação e aguardar que o padrão mudasse. Em lugar disso decidiu criar uma forma nova de exibir endereços web que são regidos por uma norma. Isso é ruim para todos que usam a internet.

2- Falta de bom senso.
Quando o primeiro build do Chrome com a nova "funcionalidade" foi disponibilizado vários beta-testers perceberam que faltava o http:// à frente do endereço. Imediatamente dezenas de bug reports foram feitos relatando o erro. Na lista de desenvolvimento do Chrome os desenvolvedores começaram a tentar convencer os testadores que o problema era na verdade uma funcionalidade. Nenhum testador elogiou a mudança, ao contrário ela foi alvo de muitas críticas.

O principal argumento dos desenvolvedores é que o http:// não é necessário para navegar na internet e que era apenas mais texto para atrapalhar o usuário leigo. Ora, se o usuário leigo se importa com ter de digitar http:// poderíamos também retirar o www. e o .com da sintaxe dos endereços web do navegador. A sigla www parece atrapalhar tanto quanto http, não entendo porque uma deve sair e a outra pode ficar. Além disso, testadores tendem a ser menos leigos do que o usuário comum. Até por isso estão baixando software beta e colocando nas suas máquinas.

Quando seus usuários menos leigos criticam uma alteração que deveria deixar o produto mais simples, cuidado. Faça software para idiotas e apenas os idiotas o usarão é uma grande máxima no desenho de interfaces. E mesmo com toda a argumentação técnica dos testadores os desenvolvedores seguiram em frente e colocaram a funcionalidade na versão final, sem uma opção para desligá-la.

3- Usuários treinados para omitir
Novos e leigos usuários vão acostumar-se com o fato de que não é necessário digitar http:// para usar o Chrome e quando usarem outro navegador acharão que este tem um problema pois seus endereços web podem não funcionar. Além disso, desconhecendo o padrão correto eles não conseguirão criar links em blogs ou sites sociais se estes não estiverem prontos para colocar o http:// em endereços digitados fora do padrão.

O Google vai forçar a web a se adaptar à sua nova idéia, como a Microsoft fez tantas vezes nos dias do IE6. Já vimos esse filme, é ruim, não precisamos dele de novo.

4- Desenho ruim pode fazer Sites seguros parecerem "assustadores"
Não acostumado com o http:// o usuário pode ficar apavorado quando, ao entrar em um site seguro, topar com o https://. Não sabendo que existe um prefixo que é natural para a internet ele vai, no mínimo, estranhar aquelas letras esquisítas "que nunca tinham aparecido antes". Em lugar de educar o usuário o Google Chrome opta por esconder e não ajuda a resolver o problema de segurança na web. Ao contrário, usuários conhecerão menos ainda como a internet funciona. Sob nenhum aspecto o desconhecimento, ou a ignorância, pode ser positivo. É o contrário do que tentamos fazer com o software livre.

Além disso, omitir o prefixo para um tipo de site e apresentá-lo para outro tipo é uma inconsistência de interface difícil de explicar. Pode gerar confusão na cabeça dos usuários, mais ainda, não resolve problema algum e apenas adiciona complexidade (pois algum tratamento deve ser feito quando se copia-e-cola a URL para fora do navegador). Ruim sob vários aspectos.

5- Problemas de copia-e-cola e edição da URL
Vários testadores e usuários apresentam reclamações sobre erros e problemas ao tentar copiar, colar e editar URLs com a omnibar do Chrome omitindo o protocolo http. Entre as reclamações que apareceram muitas são coisas corriqueiras que simplesmente param de funcionar ou funcionam de forma diferente, causando transtorno:

a) Inconsistência ao usar FTP: Se você está em um site http://ftp.site.com/home e adiciona manualmente /nome ao final da URL ela vira ftp://ftp.site.com/home/nome/ e se o site não tiver uma versão ftp com o mesmo dimínio a conexão quebra. Isso funciona em todos os outros navegadores que posso usar em Linux e transforma a funcionalidade do Chrome em bug;

b) Digitação desnecessária: Acontece o tempo todo comigo, um site é SSL e eu digito um endereço convencional http, principalmente quando quero acessar meu roteador sem fio. Com a funcionalidade do Chrome não se pode mais digitar apenas o "s" que difere o site seguro do normal. É preciso digitar toda a string https:// pois o prefixo normal não está sendo exibido.

c) Colar uma URL em um editor de texto pode levar a erros: Estudantes que usam a web como fonte de pesquisa normalmente copiam-e-colam os endereços nos editores de texto para referenciar suas fontes. Um estudante que desconhece o protocolo http pode copiar a URL do Chrome e ao colar no editor achar que a string http:// é um erro. Deletar esse texto seria a atitude normal e o endereço ficaria inválido para ser lançado por um clique a partir do editor, à menos que ele esteja preparado para o modo Google de ver os endereços da web. Quebra de funcionalidade sem resolver nenhum problema, resultado de design ruim.

d) Incompatibilidade começando em casa: Várias ferramentas do próprio Google não aceitaram bem a ausência de http:// nas URLs provenientes do padrão Chrome. Ao usar URLs sem o prefixo no finado Wave, no Talk e mesmo na ferramenta de bugs do próprio Google Chrome elas não são reconhecidas e validadas como URLs. Isso é ruim pois usuários que não saibam que http:// existe e que é necessário para que a web funcione vão espalhar esse erro por todos os lados. Várias vezes você vai econtrar usuários do Chrome digitando endereços assim: www.google.com.br e não entendendo porque eles não foram transformados em links para sites na web visto que eram assim que apareciam na omnibox do Chrome.

Enfim, a nova forma que o Chrome usa para exibir as URLs desobedece aos padrões da Web, não resolve problema algum mas causa vários outros. Defective by design. E tornou-se a única razão para que hoje eu esteja movendo meus favoritos devolta para o Firefox.

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