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segunda-feira, maio 17, 2010

A falta de tração do Linux no desktop

Quando surgiu em 1991 o Linux tinha como objetivo ser um UNIX para x86 que pudesse ser usado em casa. O Linus, e muitos outros estudantes da época, usavam esses sistemas na faculdade e quando chegavam em casa só tinham o DOS/Windows (ou OS/2 e outros poucos sistemas proprietários) para usar. Isso parece ser muito irritante para mim e eu aderiria facilmente a um projeto que me desse chance de usar um sistema de milhares de dólares em casa e de graça.

Rapidamente o projeto de Linus ganhou força e em pouco tempo eles tinha um kernel tão compatível com o UNIX que poderia operar o sistema GNU com perfeição. Como o GNU não possuia um kernel, mas já tinha várias partes prontas e muito boas o casamento deu certo. O GNU/Linux nascera e viria a se tornar um dos sistemas operacionais mais importantes do mundo nos dias de hoje.

Essa breve história explica como o Linux chegou até aqui, tendo uma boa parcela do mercado corporativo. Mas não explica porque ele ainda é insignificante no mercado doméstico, a despeito de todos os esforços de várias empresas.

1- Esforço que faz sentido
Para as empresas o GNU/Linux foi providencial. Para o UNIX também. Acredito que o UNIX estaria quase morto hoje se o Linux não tivesse aparecido e ganho a força que conseguiu no mercado corporativo. É verdade que muitas empresas ainda pagam milhares de dólares por licenças de sistemas UNIX proprietários de missão crítica. Mas eles seriam gatos pingados perto das dezenas de milhares de máquinas virtuais de Linux usadas pelo Google e por várias outras empresas.

O fato de o Linux ser gratuito e livre (código aberto + licença liberalista) proporcionou avanços tecnológicos e de mercado que deram ao sistema estatus de majestade dentro dos CPDs de grande parte das empresas. Mais que isso, a liberdade criada pelo Linux deu um empuxo a toda economia. Poucas startups decolaram pagando licenças de UNIX, Windows, Office, Photoshop, Internet Information Services. A maioria das empresas inovadoras surgidas na era da internet o fez sobre sistemas livres e gratuitos.

Além disso todo um ecossistema FOSS (Free and Open Source Software) surgiu na esteira do que o pessoal da FSF e OSI fez, movimento do qual o GNU/Linux é o maior ícone, em minha opinião. Quantos de vocês teriam um sistema UNIX com um banco de dados relacional, um web server, algumas IDEs para linguagens de alto nível além de outros 300 ou 400 softwares se tivessem que pagar por tudo isso?

Para profissionais faz muito sentido que o GNU/Linux (e todo o resto) exista. Faz muito sentido, para todos os clientes corporativos da RedHat, que o RH Enterprise Linux esteja ali, como produto, desbancando dezenas de outros sistemas UNIX e também o Windows, pois certamente ele traz muitas vantagens. Este é o ponto chave. Para o cliente de um RHEL haver dezenas de opções não atrapalhou em nada.

2- Esforço sem (muito) sentido
Eu acabei de escrever um novo driver hipotético para sua placa de vídeo. Ele não traz grandes benefícios para você agora, visto que não performa melhor do que o seu driver atual, tão pouco implementa alguma funcionalidade nova. Mas ele é escrito em uma linguagem orientada a objetos e é cumpridor solene de todos os design patterns que pude encontrar. Você gostaria de fazer o download agora deste driver hipotético e colocar em produção no seu sistema?

Se você respondeu “não”, parabéns. Você é, grosso modo, um usuário de Windows que disse não ao Linux. Porque alguém que está feliz com seu sistema (ignorando o quão ruim ele possa ser para uma série de coisas) o trocaria por outro apenas porque este novo tem uma série de atributos que fazem pouco, ou nenhum sentido?

Para um usuário comum, médio, de Windows, o GNU/Linux não agrega vantagens tão grandes hoje em dia. Espere um momento, não agrega?

3- O mundo evolui rápido
Em 1991 quando o esforço em torno do Linux começou o Windows era muito pior do que é hoje. Grande prova disso é que o Linux era, na década de 90, apenas mais um candidato a concorrente do sistema da Microsoft. Contra Be/OS, OS/2, Mac OS, GNU/Linux, BSD e outros sistemas UNIX o Windows da década de 1990 é um pangaré que envergonha o dono. E mesmo assim o Windows prevaleceu sobre todos esses concorrentes no mercado desktop.

Hoje o Windows é um sistema muito competente. O 7 continua sendo um bloatware da mais alta estirpe (seus requisitos de sistema são os mesmos do Vista e bloatware sem bugs não é software bom por definição) mas o Windows mais usado do mercado, o XP, é um cão difícil de matar. Conheço várias pessoas que compraram máquinas nos últimos anos e trocaram seus Vista e 7s por versões XP assim que tiraram os computadores da caixa.

Competindo contra os Windows de hoje (ou de 2001 como é o caso do XP) o Linux encontrou um sistema que não trava tanto quando o 3.11 que possui uma grande gama de softwares disponíveis, que roda jogos melhor que qualquer outro SO e que está amplamente disponível a preços baixos ou de graça. Encare a realidade.

Um usuário médio pode conseguir um CD de XP ou 7 com um amigo gastando poucos trocados e instalar no seu computador. Por que ele iria querer instalar o Linux, que sequer roda jogos, só porque é mais seguro e leve do que o Windows? Responda esta pergunta e você poderá se candidatar a diretor de marketing da RedHat. Certamente você irá conseguir aumentar muito a participação de mercado do Linux.

4- Porque o Linux não decola no mercado desktop
Não tem nenhuma relação com a quantidade de distribuições existentes. Esse argumento é absurdo. Não o fosse as montadoras de automóveis ofereceriam apenas um carro de cada marca pois o excesso de modelos dificultaria a escolha e empurraria os compradores para as motos. Viu como o argumento é absurdo. Mais um exemplo, Unilever e Procter & Gamble, apenas pra ficar nas duas maiores, oferecem, no mínimo, duas marcas de sabão em pó e duas marcas de detergente de louças cada uma. Isto não dificulta a escolha do consumidor, ao contrário. Isso faz com que a marca atinja um público potencial maior.

A própria Microsoft, tem mais de duas versões de Windows e isso não impele os clientes do sistema para outras plataformas, não é?

O Linux não decola no mercado desktop por questões essenciais e simples, como:

- Não existe um marketing de longo prazo da marca Linux: pense em quantas propagandas Get a Mac a Apple precisou fazer para conseguir 8% do mercado;

- O sistema GNU/Linux apresenta vantagens sobre o Windows que significam pouco para a maioria dos usuários médios: dizer que ele não precisa de anti-vírus significa pouco para um mercado que formata e reinstala o sistema com uma frequência maior do que a que troca de carro;

- O software livre pode ser um grande inimigo do software livre: Muitos programas que eram diferenciais do GNU/Linux no passado têm hoje versões Windows. Alguns deles, como o Apache, ajudaram a difundir o uso do sistema livre no passado e eram um grande argumento para migração mas hoje possuem versões muito boas e competentes para Windows;

- O contrário não é verdade, grandes softwares de Windows não possuem versão Linux: o próprio MS Office é um grande e óbvio exemplo, além da grande parte dos softwares da Adobe e de outro sem número de desenvolvedores de porte que ainda ignoram o Linux. Não entrarei no tópico do jogos, que ainda é um mundo a parte, mais pela falta de vontade das grandes produtoras do que pela falta de potencial técnico da plataforma;

- As grandes empresas que fazem bons sistemas Linux querem se livrar desse nome: ou você viu algum Linux perto de Android, Ubuntu, Chromium OS, etc? Se as pessoas soubessem que seu celular opera com Linux talvez estivessem dispostos a testar o sistema no PC;

- Não existe uma única marca conhecida mundialmente de hardware que aposte no Linux para desktop. Assim que disponibilizou uma versão do Windows para Netbooks a MS varreu o Linux daquele mercado de tal forma que é mais fácil achar modelos com Windows em um mercado que começou graças ao Linux. A falta de fidelidade dos fabricantes de hardware se dá pela ausência de um player forte. Isto poderia mudar com o Google se ele usasse a marca Linux;

- A Apple conseguiu ganhar tração no mercado desktop graças a um pacote muito bem montado de hardware e software (sendo este último um sistema e programas para uso pessoal) que a Microsoft consegue simular (usando hardware de toda uma indústria que produz computadores para rodar seu sistema). O Linux nunca teve tudo isso ao mesmo tempo;

- A falta de padronagem entre as distros não é um grande problema. No Mac é comum termos pacotes de instalação de um software com várias versões, uma para cada versão do próprio sistema operacional. Muitos aplicativos de uma versão específica de Windows apresentam problemas para rodar em outra versão do mesmo sistema. Isso é normal. O que falta é uma única e boa ferramenta que suporte a plataforma e não uma distro e que crie, em uma única iteração, pacotes que funcionem em todas elas criando uma impressão de padronagem. Não encontrar um pacote que funcione para sua distro no site do Skype é frustrante e cria a aparência de que as coisas são mais difíceis do que realmente são.

Pode ser que essa lista continue indefinidamente, mas percebo esses fatores como aqueles que mais atrapalham a evolução do Linux no desktop. As coisas não são mais como antes. A evolução da Microsoft, melhorando aspectos sensíveis de seu sistema, e da Apple, tornando-se uma alternativa real e competente (em parte pelo hardware atrativo) e a falta de suporte verdadeiro do resto da indústria são fatores que importantes.

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