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sábado, fevereiro 14, 2009

O hardware definitivo

O purismo e a utilidade
Estou pegando emprestado o termo usado pelo Adan, quando comentou minha última postagem, e fazendo uma tradução livre. O hardware definitivo seria um notebook (desktops estão fora de moda não acha?) no qual uma distro Linux qualquer rodasse de forma perfeita. Digo uma distro Linux qualquer porque, não importa qual fosse, no dia seguinte todas as outras distros do mundo poderiam estar rodando tão bem quanto. Essa é uma das belezas do software livre. E deve ser uma distro qualquer mesmo, porque se eu tiver que escolher uma distro específica que eu tenha que usar, ora, seria muito parecido, em essência, com ter que ficar no Windows. Liberdade é, acima de tudo, o poder de escolher.

Refiro-me a isso como algo muito raro, se realmente existir, porque eu não me lembro de ter visto um notebook assim. Todos os notebooks em que tive o prazer de rodar Linux sempre deixavam algo de fora, como o (win)modem, ou o teclado auxiliar, ou o controle remoto, ou a hibernação, ou... Afinar um Linux em um notebook moderno e sua pletora de funcionalidades é trabalho não só para um bom e experiente usuário, mas também para alguém com algumas inclinações para programação. Nem que seja a “programação de botequim” dos arquivos de configuração dos muitos softwares de um sistema GNU/Linux completo (para agradar aos mais puristas, coisa que um dia já fui). Além disso, toma tempo.

Tempo que eu tinha quando programava para viver (não PCs diga-se) e/ou estava na faculdade. E que não tenho mais, pois agora trabalho com outras coisas que pagam a conta no fim do dia. Tornei-me um entusiasta de Linux (no sentido mais hobbista que essa palavra pode ter). E com isso, passei a ter ressalvas com relação a gastar dois dias programando as teclinhas azuis do teclado auxiliar do meu notebook. Foi mais ou menos aí que me tornei menos purista.

Continuo achando que computador é pra quem entende. Quem não entende deveria aprender a entender, afinal de contas provavelmente hoje o emprego quase sempre depende de computadores e de sua destreza relativa ao usá-los. E quem não quer entender pode parar de reclamar e voltar a usar máquina de escrever. Sempre defendi que os computadores, como máquinas complexas e capazes de executar as mais distintas e igualmente complexas tarefas, devem e são mais difíceis de usar do que uma cafeteira e uma televisão. Portanto dizer que eles serão fáceis e usar é agir de má fé. É isso que Microsoft e Apple tem feito desde que lançaram a interface gráfica. É essa a razão principal pelo meu desdém pelo que essas empresas às vezes fazem.

Ainda assim, quem quiser fingir que um computador é uma peça fácil de usar pode ficar à vontade e manter seu Windows. Em lugar de gastar dois dias configurando teclinhas azuis vai ficar dois dias fazendo backup e reinstalando sistema. Se for pra escolher eu prefiro a “programação de botequim” porque ao menos é melhor do que dar banho em porco formatando e reinstalando Windows.

Hardware + Software = ?
Mas tem uma coisa que eu posso dar-me o luxo de invejar no mundo extra-Linux (que compreende tudo aquilo que não é Linux). A descartabilidade. Em vez de ficar tentando fazer toneladas de placas de rede ISA funcionar os outros sistemas operacionais seguem adiante. A retro-compatibilidade do Windows é uma piada de mau gosto há tempos. Steve Jobs deu uma entrevista e disse:
Quando eu voltei em 1997, estava procurando espaço e achei um arquivo com Macs velhos e outras coisas. Eu disse: ‘Tirem isso daqui!’ e mandei toda aquela merda para Stanford. Nesse negócio, se você olhar para trás, será esmagado. Você tem de olhar para frente.


Podemos nos gabar o quanto quisermos de que nosso sistema roda em computadores 486 que podemos usar como firewalls de pequeno porte. Hoje eu acho que seria mais vantajoso poder rodar o Linux em um HP Touchsmart sem os inúmeros problemas e conseqüentes soluções que existem relatados por aí, como por exemplo aqui. Mas no lugar do HP Touchsmart você pode colocar qualquer notebook topo de linha de qualquer marca. Provavelmente um Sony Vaio de R$ 12mil vai necessitar de alguns dias de configuração cuidadosa antes de entregar tudo que pode sob a batuta de um Ubuntu ou Fedora. Ainda que se possa transformar aquele AMD K6 já amarelado pelo tempo no firewall de maior consumo de energia do hemisfério em pouco mais de 20 minutos.

Fazemos coisas legais e únicas com Linux. E sofremos para fazer coisas comuns. Porque ainda que seja pouco útil, é relativamente fácil dar suporte para hardware antigo. A base instalada de placas de rede NE2000 é enorme, portanto o Linus Torvalds vai dizer que se justifica dar suporte a isso de forma consistente. Ele está certo. Mas enquanto empregamos energia para suportar coisas que ouros sistemas e plataformas abandonaram, estamos perdendo a oportunidade de olhar para algo novo.

O hardware certo
A Apple possui uma dupla muito bem acertada. Seu MacOSX só existe porque tem um computador onde ele roda de forma perfeita (flawless). Entretanto isso causou uma dependência forte de controle do hardware, e de como o software se comporta nele, que faz coisas bobas como a Psystar criarem um medo pavoroso na maçã. A Apple então é levada a cometer insanidades que são piores que as da Microsoft quando o assunto é ética com o cliente. Ainda assim é preciso se reconhecer que a Apple possui a mais acertada dupla de hardware e software do mercado, e seus usuários parecem bem felizes.

A Microsoft preferiu uma abordagem diferente: vamos dar suporte a tudo desde que não precisemos dar suporte a nada. Assim os fabricantes correm para comprar adesivos “Desenhado para MS Windows [if (year>2009) { cout << “7” << endl;} else { cout << “Vista” << endl;}]” Como se o hardware devesse ser desenhado para o software e não o contrário.

O fato é que lá atrás, quando o Windows não era muita coisa e competia com outras interfaces gráficas, a Microsoft se empenhou muito para criar ela mesma muitos drivers, e ainda faz isso. A maioria dos dispositivos básicos de um notebook típico usa drivers para Windows feitos pela própria Microsoft. Entretanto quando o trabalho é sujo de verdade, ela deixa o problema para o pai da criança. Placas de som, vídeo, etc possuem drivers prórpios, também eles projetados e ajustados para Windows.

Três Reis
Isso nos coloca três modelos distintos pelos quais os maiores sistemas operacionais da atualidade (em número de almas capturadas) se relacionam com seus hardwares base.

1-Modelo Mac:
Eu cuido de tudo, o que não é muito, pois vou usar pouco hardware;
Os Macs são bem parecidos por dentro e com poucos drivers a Apple dá conta do recado e customiza ao seu prazer o computador, fazendo o software rodar muito bem.

2-Modelo Windows:
Eu cuido do que não aparece, pois é pouco, e você cuida do que é mais visível, pois é muito;
Existem bem menos modelos de controladores USB sendo usados em computadores novos do que de placas de vídeo. Então a MS fica com o trabalho de base, onde a estabilidade do sistema é mais crítica, e deixa que nVídia e ATI se matem para ajustar seus drivers ao máximo para o Windows, onde os jogos de computador vão rodar. Isso é flexível pois também existem muitos drivers de fabricantes para as bases dos PCs, como os controladores USB, por exemplo. Entretanto a MS precisa desse trabalho para que o sistema rode em um computador novo, antes das otimizações e Service Packs.

3-Modelo Linux:
Eu cuido de tudo e você não precisa se preocupar, vou tentar dar suporte a tudo que o Windows dá e rodar como o MacOSX roda nos Macs;
Temos os programadores de Linux tentando fazer tudo sozinhos, pois mesmo quando a empresa que fabrica o hardware está ajudando (como a ATI que publicou APIs de seus chipsets de vídeo) ela está mais preocupada com os movimentos do concorrente no mundo Windows do que com o Linux de verdade. E o resultado quase sempre é um suporte incompleto, lento, com muitos bugs e que não contempla todas as funcionalidades do hardware.

Pensando seriamente sobre isso, não é muito difícil de adivinhar quem está na desvantagem, não é?

Sem dinheiro, sem suporte, sem ajuda. O que fazer?
Em mares de barracudas os peixes menores tendem a nadar juntos, agrupando-se em cardumes. Eles movimentam-se todos juntos ao mesmo tempo. E ainda que isso não diminua as chances da barracuda conseguir algo para comer, fica muito óbvio que cada peixe individual tem chances dramaticamente menores de ser capturado por uma barracuda que ataque o cardume. Ou seja, para enfrentar um predador poderoso, a natureza usa a união dos mais fracos. Muitos outros seres usam desta mesma tática contra outros predadores, inclusive fora do mar. Assista o NatGeo que você verá que isso realmente ocorre.

Parece-me pouco inteligente usar uma demanda limitada de programadores de software livre para tentar “dar suporte à maior quantidade de hardware possível”. Existem muitos programadores, em várias empresas, com orçamentos generosos, escrevendo drivers para Windows operar hardwares de diversos tipos, alguns ainda por serem lançados. Quando mais penso sobre isso mais fica claro que não conseguiremos dar conta de acompanhar o trabalho desses caras. Deveríamos estar procurando outro modelo em lugar de manter suporte a placas ISA.

O modelo bazar pode funcionar muito bem para o sistema operacional em si, mas talvez não seja tão adequado ao ciclo de vida de uma placa de vídeo. Até que o driver fique pronto e sem graves erros na aceleração 3D talvez aquele processador de vídeo não esteja mais sendo fabricado.

O que estou querendo dizer é que talvez, em lugar de tentarmos dar suporte a 500 placas de vídeo diferentes, talvez tenhamos que escolher 50 e diminuir o tempo em que esses drivers ficam em versão beta. Em vez de tentar fazer todas as 40 distros que achamos simpáticas rodar em 400 modelos diferentes de notebooks poderíamos fazer todas as 40 rodarem bem em 40 modelos de notebook.

E quanto à liberdade?
Isso parece restritivo? E se eu disser que acho que deveríamos escolher uma marca de notebooks apenas e tentar dar suporte para todos os modelos dessa marca? Antes de ficar tentado a responder que isso afeta as liberdades que envolvem o software livre responda: ter que escolher uma certa distro para meu modelo de notebook em específico, porque ela é uma das poucas que funciona, não é fazer a mesma coisa, só que com o software. Não estou sendo “obrigado” a fazer algo do mesmo jeito?

Preferido pelo Tux
Se adotássemos uma marca, a que melhor dê suporte ao Linux hoje, como a “marca preferida do Linux”, déssemos a esse fabricante um adesivo “Preferido pelo Tux” e começássemos todos a comprar apenas os modelos desta marca. Desde que as 10 maiores distros fizessem ele funcionar perfeitamente, claro. Não conseguiríamos gerar um efeito manada no mercado que provocaria mudanças?

Muitos fabricantes passaram a dar alguma importância para o Linux com a onda dos Netbooks. Mas seus notebooks ainda eram incompatíveis com Linux em muitos casos. E mesmo essa relativa aderência ao Linux nos Netbooks tem prazo de validade. Vamos perder nos Netbooks para alguém que já estava morto segundo seus próprios pais.

E até a série de máquinas de baixo custo (desktops e notebooks) que saem de fábrica com Linux é uma falácia. Cansei de ver máquinas que vinham com [Nome estranho]Linux nas quais metade do hardware sequer funcionava. As pessoas compravam esses computadores com os CDs piratas de Windows já nas mãos. Além disso os notebooks que “já vem com Linux” normalmente são as piores máquinas da linha de qualquer fabricante, e o Linux é uma saída fácil para baixar o custo e tentar ganhar o usuário que nunca teve computador. Uma ótima forma de criar rejeição a algo novo. Houve quem comemorasse o que, na verdade, apenas depreciava ainda mais o Linux frente ao usuário leigo. Então começamos a perder para um tal Windows Starter, que é o sistema operacional mais estranho de que já ouvi falar. Nele você não pode rodar programas. Na verdade pode apenas rodar 3 programas ao mesmo tempo, o que é muito estranho.

Sem discutir a utilidade de um SO onde não se pode rodar programas, lembro de algo que parecia ser a esperança de futuro para o Linux. O OLPC XO ou Laptop de US$100 que rodaria Linux e ensinaria as crianças desde cedo a usar outra coisa diferente de Windows. A idéia era de que, livres dos grilhões desde cedo, os usuários escolheriam o que achassem melhor. Mas o OLPC foi afundando devagar e nunca colocou sua promessa em prática. Eu falei muito sobre isso quando ainda havia esperança de que o projeto entregasse mesmo o prometido e teve gente me xingando, criticando duramente e não entendendo o que eu já havia percebido.

Se você não muda, nada muda
Mas o que todas essas histórias têm em comum é nosso destino. Em todas elas sempre perdemos. Sempre fui enfático em dizer que o Linux não deveria tentar ser o Windows ou abrir guerra contra o Windows. São coisas diferentes. Mas é duro olhar para nossa história recente e ver que não estamos conseguindo ir além de onde já fomos e que mesmo assim não estamos fazendo nada diferente.

A Mandriva, minha distribuição predileta, está mal e mandando seus grandes programadores embora. Com muito azar, talvez em poucos anos ela desapareça, como distro e depois como empresa. E o que isso irá ensinar sobre a vida para nós? O dinheiro de Mark Shuttleworth não vai durar pra sempre, e quando acabar será que o Ubuntu conseguirá viver por conta própria? A IBM não vai ajudar a desenvolver o kernel para sempre. Em algum momento vamos ter que virar a mesa e tornar o Linux algo que performe melhor em termos de vendas no mercado, nem que seja para que a HP torne seus notebooks menos avessos ao Linux.

Nossa estratégia nos trouxe até aqui, e isso foi ótimo. Mas me parece que para ir além no desktop precisamos fazer algo mais. E, novamente, não que eu queira que velhinhas idosas aprendam a montar dispositivos removíveis. Eu gostaria de ver notebooks onde o Linux funcionasse perfeitamente serem comuns. Ao comprar um PC você não pergunta se ele roda Windows, ou consulta uma lista de compatibilidade de hardware. Bem, você até consulta se estiver comprando hardware velho quando a Microsoft lançou um sistema novo. Eu gostaria de não depender da distribuição X ou Y para vê-lo funcionar. Talvez assim poderíamos atrair alguma atenção séria de fabricantes que hoje nos tratam como hippies alternativos ou simplesmente como bobos.

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domingo, fevereiro 08, 2009

No que estamos errando

Despensa vazia
Pela primeira vez desde que troquei de notebook (isso foi em Dez 2007) eu decidi baixar uma nova imagem de Linux e queimar uma mídia. Precisava revisitar minha distro favorita, Mandriva, e ver como as coisas haviam ficado com o KDE 4 (que eu só havia visto em screenshots na internet). A HP não deixou. Meu HP Pavilion dv6650 não roda Linux nem com reza brava. E em algum lugar da minha mente as palavras “padrão PC” ressoavam vagamente. Tentei algumas tiradas clássicas como desligar o suporte a APIC e o SMP (meu notebook usa um Turion X2) mas o Mandriva One travava durante a inicialização. Depois eu descobriria que problemas com IRQ dos dispositivos USB eram a causa dos travamentos.

Decidi então baixar um live CD do Fedora 10, com KDE 4 pois nunca fui muito fã do Gnome. Nada feito. Após buscar muitas dicas na internet e usar diversos parâmetros de boot para desligar o suporte ao APIC ele deu boot, mas não iniciava o X. A mensagem “(EE) no device found” retornada pelo X.org indicava que o driver da nVidia não estava subindo corretamente. De fato o driver quebra com o problema de suporte ao APIC.

Estava, ao meu lado, um HP nx6535 também com Turion X2 mas com chipset (e vídeo) da ATI. Decidi testar o Fedora 10 live nesse notebook e testemunhei, pasmo, o início do sistema e interface gráfica com uma única modificação nos parâmetros de boot:
pci=routeirq pci=assign-busses noapic nosmp nolapic

Exato, no HP nx6535 com chipset ATI o Fedora 10 KDE rodou perfeitamente e iniciou a interface gráfica com o KDE 4 e tudo.

Estava eu, com dois notebooks da mesma marca. Um low-end para escritórios e um mid para uso pessoal, com o mesmo modelo de processador, mesma quantidade de memória, mesma placa wi-fi, chipsets diferentes. E o note com chipset ATI rodou o Linux sem problemas, aquele com chipset nVidia não. Lembrei que meu note antigo que rodava Linux com algumas modificações semelhantes nos parâmetros de boot e também tinha chipset ATI.

Independente disso, eu estava novamente jogado à mesma situação de três anos antes. Configurar o hardware de vídeo de um notebook da HP onde desejo usar Linux. Será que em 3 anos nada mudou? Fiquei fora por pouco mais de um ano (do mundo do software livre) e quando volto o que encontro? A despensa vazia!


O IDG Past
Justamente quando estou revendo esses velhos problemas bem diante de meu nariz aparece um artigo no IDG Now repetindo velhos bordões. Até ficou parecendo IDG Past, pois assim como meu problema de vídeo, ou de APIC, ou ambos, certas coisas naquele artigo deveriam estar renegadas ao passado. Mas não estão.

Não vou dedicar tempo ao artigo do IDG Past pois o Ricardo Bánffy já fez isso com uma destreza particular (e constante) dele. Com o artigo do Ricardo nada mais precisa ser dito sobre o que foi levantado no IDG. Vou à diante com a seguinte conclusão sobre o caso: é lamentável que um site sobre tecnologia que queira informar seu leitor publique com tanta naturalidade opiniões tão equivocadas sobre assunto tão importante. O mínimo que se poderia esperar seria argumentos mais sólidos ou uma postura mais crítica dos editores com relação ao que foi citado.


Enfim, os erros que cometemos
Com a experiência de quem usou OS/2 Warp e assistiu a IBM tentar ser responsável pelo desenvolvimento de todos os drivers e programas para a plataforma eu entendo que estamos chacoalhando a árvore errada no Linux.

A IBM desenvolveu uma API para criar drivers de impressoras, de vídeo, de rede, etc no OS/2 de tal forma que bastavam algumas especificações dos drivers de Windows 3.x para que eles funcionassem sobre a API do OS/2. A idéia era tornar o mais fácil possível para as empresas adaptares os drivers escritos para o sistema da Microsoft. Depois o conceito foi expandido para os programas de 32bit do Windows 95. Àquela época o OS/2 rodava programas Win16 pois possuía a API do próprio Windows dentro de si. O conceito gerou uma API chamada Open32 que, nos mesmos moldes do POSIX, pretendia ser uma ferramenta a partir da qual uma simples recompilação de um programa Win32 geraria código executável nativamente em OS/2.

A IBM estava sendo visionária, pois o Win32 ainda não era um padrão de mercado e o Windows95 estava chegando às lojas. O que se pretendia era que Adobe, AutoDesk e outras softwarehouses de programas Windows gastassem 10% a mais de tempo para recompilar binários para OS/2 usando a API Open32 que a Big Blue disponibilizava de graça. Saiu pela culatra porque com isso a IBM só fez fortificar o padrão do Windows. Em pouco tempo os desenvolvedores começaram a pensar que podiam apenas compilar para Windows, pois como sempre fizera antes a IBM em breve daria um jeito de fazer código Win32 rodar no OS/2 assim como o Win16 já rodava.

Estamos cometendo o mesmo erro no Linux. Vou explorar melhor esse aspecto logo, mas existe um outro ponto que eu gostaria de levantar. Chacoalhamos a árvore errada ao tentar fazer o Linux rodar em todo PC em que Windows roda. Isso tira o foco de coisas importantes. E vou detalhar isso em seguida também.

Se você fizer o trabalho de alguém esse alguém vai fazer outra coisa
Temos centenas de bons programadores voluntários que nesse exato momento estão criando drivers de dispositivo para submeter ao kernel Linux. O primeiro impulso é de agradecer a esses colaboradores por seu empenho e dedicação. Sem comentar sua nobreza em submeter o driver da minha placa de rede para que eu possa usar Linux. Isso é ótimo.

Mas o efeito colateral disso é que grandes fabricantes de hardware virtualmente onipresente não são a mínima para o Linux porque entendem que outros farão seu trabalho de graça. A Broadcom é o primeiro nome que me vem a cabeça. Temos o driver de wi-fi da Broadcom que é desenvolvido por programadores sem o suporte oficial do fabricante. Além disso temos o ndiswrapper que usa o driver original de Windows para operar o hardware sob Linux. Essa segunda solução funciona particularmente tão bem que a Broadcom vai evitar ao máximo pagar um funcionário próprio para escrever um driver de verdade para Linux. E enquanto isso funcionar muitos notebooks usarão hardware Broadcom oficialmente não suportado no Linux.

Um pássaro na mão é melhor do que dois pássaros voando
Responda rápido, você prefere um sistema que suporte 10mil dispositivos de forma meia-boca ou um que suporte 2mil de forma plena? Os dados de crescimento do MacOS X e redução na utilização de Linux podem até estar errados como sugeriu o Ricardo Bánffy ou distorcidos.

Entretanto me parece mais fácil vender um sistema em um hardware onde ele funciona absolutamente bem, mesmo que o hardware em si seja uma droga (Intel, desculpe, mas essas placas de vídeo dos Macs são muito safadas). Ao menos mais fácil do que vender um sistema que, após instalado anule a funcionalidade daquelas teclas bonitinhas que seu notebook de R$3Mil tem além do teclado. Se tivéssemos 40 distribuições diferentes de Linux e cada uma tivesse um propósito bem definido eu concordaria com o Linus de que a Pluralidade é 100% positiva.

Mas não vejo vantagem prática em ter 5 distribuições de renome internacional e nenhuma delas conseguir lidar com o APIC quebrado dos notebooks da HP. Parece que estamos todos trabalhando sempre sobre os mesmos problemas (e chacoalhando juntos as árvores erradas) que ficam se repetindo quando essa redundância encontra o disposto no item anterior. Três anos se passaram e o driver de vídeo ainda é um problema porque temos vários grupos de trabalho e dezenas de programadores independentes tentando fazer aceleração 3D funcionar em 400 modelos de placas de 4 fabricantes de chipsets.

Penso que restringir isso a 20 modelos de placas de um único fabricante seria restritivo e até contra os preceitos do software livre. Mas não teríamos mais chances de colocar o Linux no desktop se tivéssemos 100% de certeza que o Linux vai funcionar em uma certa gama (pequena!) de hardware do que fazendo isto aqui?

Já ouvi falar de colegas que, quando decidem comprar um novo notebook, vão à loja com um Live CD de sua distro Linux e testam nos modelos para antever os problemas e optar de forma mais acertada. Não é irônico que os usuários mais exigentes sejam aqueles (únicos!) que não podem se dar ao luxo de efetuar uma compra on-line? Um usuário de Windows e mesmo um usuário de Mac pode entrar na sua loja on-line predileta e comprar um notebook sem sair de casa. Um usuário de Linux não, porque ele vai querer testar o sistema antes pra ter certeza de que ele irá rodar(!).

Hardware funcional
Se tivéssemos uma lista de hardware que é 100% funcional e ignorássemos o resto (chega que ficar apelando à fabricante X para que libere a especificação, vamos abandonar esse hardware) não conseguiríamos progredir de forma mais positiva? Talvez não. Mas entendo que é isso que tem dado ao MacOSX visibilidade. Existe uma gama muito restrita de hardware sobre o qual esse sistema roda. Mas ele roda absolutamente bem sobre esse hardware. Isso é pouco freqüente com o Linux.

Porque não temos uma distribuição de grande porte focada em notebooks? Da mesma forma que temos algumas focadas em servidores? Em vez disso temos dezenas de sites falando sobre quais modelos de notebooks rodaram melhor ou pior esta ou aquela distribuição de Linux. Isso te parece um bom trabalho? Também não parece bom aos olhos do usuário médio.

O usuário de MacOSX sabe qual computador comprar para rodar seu sistema predileto e isso é uma vantagem para um sistema que deseja ser mais usado no futuro. O usuário de Windows sabe qual computador comprar (virtualmente qualquer PC). O usuário de Linux precisa de uma lista de compatibilidade, conferir modelos, e se o fabricante tiver mudado o chipset a lista de compatibilidade vira fumaça.

É por isso que o casamento do Linux com o desktop não vingou. Temos um excelente sistema operacional e hardware incompatível cujos fabricantes não se importam. Estamos tentando fazer o trabalho dos fabricantes e esquecemos de fazer o que nos cabia como usuários (exigir nossos direitos e boicotar fabricantes que não atendem nossas expectativas). E no IDG Past também estão chacoalhando a árvore errada.

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Mais de um ano de férias

É assim que você poderia chamar esse período pelo qual fiquei “afastado” do meu projeto pessoal mais interessante: o Livre Acesso. Vou usar meus primeiros parágrafos para falar disso. O Livre Acesso me deu muito prazer e tenho uma boa dose de culpa por deixá-lo de lado tanto tempo. Gosto de pensar que este blog foi relevante por algum tempo. Algumas postagens chegaram a sites de expressão como o Notícias Linux, o BR-Linux. E até fui convidado para participar como colaborador permanente do Meiobit. Naquela fase eu tive mais leitores do que nunca e comecei a deixar de lado o meu blog Livre Acesso. Então muitas mudanças na vida pessoal e no trabalho necessitaram da minha energia e não consegui dar a esses projetos o tempo que deveria.

Saí do Meiobit, não por opção própria que fique claro. E deixei de escrever sobre software livre. E deixei de fazer isso porque o software livre foi perdendo espaço em minha vida profissional, a tal ponto que o único Linux ao meu redor era um servidor de arquivos e mídia que acabou perdendo sua placa mãe. Esse servidor não foi reposto, e um HD externo assumiu seu lugar. Meu antigo notebook, um HP Compaq nx6115, foi substituído por uma máquina mais parruda e com sérios problemas de APIC onde o Linux só roda com sérias restrições. Não senti muitos problemas nisso, pois a máquina serve para trabalhar... em ambiente Windows. Meu empregador usa apenas Windows XP, de cima abaixo (exceto por alguns servidores UNIX que estão fora do meu escopo), e Microsoft Office, incluindo o terrível Outlook que alguém no marketing da Microsoft insiste em chamar de software de e-mails.

O fato é que minha rotina de trabalho não dá margem a flexibilizações e mesmo meu notebook pessoal roda Windows (dessa vez o Vista) pois não raro levo trabalho para casa após e expediente. Rodar o Access 2007 no Wine não é algo prazeroso e com o tempo que tenho acabei ficando acomodado demais para lutar contra isso da forma que eu gostaria. Entretanto não posso negar que tem sido uma experiência enriquecedora trabalhar por dois anos apenas com sistemas Microsoft: tenho hoje mais argumentos do que nunca para explicar porque não suporto o que Redmond faz e chama de software. Tudo é não-intercompatível, excessivamente cheio de bugs tolos, lento, tendente a travamentos, e mentalmente paralisante no universo da Microsoft. Vi de tudo, desde Access anunciando falta de memória em x86 com 3GB de RAM por não saber tratar adequadamente tipos de variáveis até Outlook congelando com a queda da conexão TCP/IP enquanto baixa arquivos do Exchange e corrompendo o arquivo .PST por isso.

Mas estou falando sobre tudo isso para explicar essa ausência. Como eu poderia falar sobre software livre sem usar software livre no dia a dia? Esses fatores juntos colocaram o projeto do Livre Acesso de lado e mesmo agora, com um novo artigo, eu não sei dizer se “retornei” de verdade. Mas minha rotina agora me dá espaço para colocar um Linux em meu notebook novamente, principalmente porque meu empregador me disponibilizou um portátil para andar comigo, e agora meu note pessoal pode voltar a usar o que eu quero e não o que tenho que usar.

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