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quinta-feira, dezembro 14, 2006

Quando as pedras saírem voando

Sem dúvida o Windows Vista vai chamar muito a atenção do mercado, assim que estiver amplamente disponível. Eu andei lendo um review extenso do ComputerWorld sobre o Windows Vista, de 18 páginas, que passa a limpo de forma bem informativa (leia: com screenshots) todas as mudanças que a MS implementou nessa versão do sistema. Entre todas as coisas que a MS fez no Vista, algumas me chamaram a atenção. Não por serem inovadoras ou inéditas, não consegui encontrar nada de realmente inovador no Vista. Mas por serem coisas que você esperaria ver em um UNIX-like, como o Linux, coisas que já conhecemos e usamos há tempos.

Não vou discutir sobre como a MS, inspirada ou não pelo modelo UNIX, implementou “novidades” no Vista. Nem vou discutir como ela reforça sua ameaça de nos processar (à exceção daqueles que são clientes da Novell) se fizermos a mesma coisa (implementar artifícios no Linux inspirados em soluções do Windows). Não tenho humor para discutir canalhices hoje. Mas quero entender o que está passando pela cabeça de algumas pessoas do SL, principalmente das comunidades de Linux. Para fazer isso, primeiro tenho que explicar que coisas do Vista não existiam em sistemas da família Windows até agora e que me lembram muito funcionalidades que já vimos antes e que conhecemos bem de nossos sistemas UNIX-like.

1- Subsistema gráfico na forma de cliente/servidor
O Vista implementa uma nova arquitetura gráfica. Não estou me referindo à interface gráfica 3D Aero. Estou me referindo ao Windows Presentation Foundation ou WPF. O WPF é uma espécie de servidor gráfico, encarregado de lidar com o HAL de vídeo. É uma abordagem mais enxuta e moderna da arquitetura usada no X server. A rigor você tem um servidor gráfico com um ambiente gráfico rodando sobre ele. O ambiente é responsável por prover usabilidade e comunicação com o usuário. O servidor é responsável por fazer tudo isso funcionar bem. No Vista eles são o Aero e o Avalon (nome do WPF), no OS/2 (de 1987) são o WPS e o PM, no meu Linux são o KDE e o X.org. Não sei se a MS copiou a idéia da Apple, do UNIX, ou dos papéis de 1985 que ela tinha na gaveta, remanescentes de sua separação da IBM no finado OS/2. Não é algo novo, de um jeito ou de outro.

Enquanto essa nova arquitetura é comemorada pelos analistas da plataforma Windows os mais críticos (sou parte desse grupo) se perguntam: porque demorou tanto? Estamos em 2006, à alguns dias de 2007, e tenho uma sensação de que a MS está atrasada ao menos 6 anos em relação à concorrência. Agora finalmente o Windows consegue reiniciar sua interface gráfica sem exigir um reset da máquina, caso algum problema afete a GUI. Parece que os engenheiros de software da MS finalmente descobriram como fazer isso. Mas há um custo implícito em tudo que se faz. Para que isso funcione bem no Windows você precisa de hardware. Muito hardware.

2- Permissões para usuários e grupos
O User Account Control ou UAC implementa no Vista um sistema de permissões para o uso do sistema operacional muito familiar para usuários de Linux. Versões anteriores do Windows já tinham permissões para arquivos, implementadas pelo NTFS via ACLs, mas agora as permissões extenderam-se para ações do usuário, como a instalação de programas e modificação das configurações do sistema. Elas valem para usuários ou grupos e podem ser configuradas pelo administrador, para descrever o que cada usuário normal pode fazer no sistema. Não há a necessidade de maiores explicações. Essa é outra coisa que foi muito comemorada pelos profissionais que usam Windows, mas que os críticos afirmam estar alguns anos atrasada. O problema aqui me parece cultural.

O UAC foi implementado no Windows Vista para que ele possa ser um sistema mais seguro. Entretanto a MS sempre cultivou em seus usuários um espírito de simplicidade um pouco misturado com preguiça. E agora implementa um sistema de permissões completo e complexo, que demanda paciência, e mais que isso, conhecimento para ser configurado. Trivia: Você sempre disse à seus clientes que eles não precisam se preocupar com configurações. Então implementa um sistema de segurança que precisa ser configurado de forma correta para funcionar. Para não chateá-los você inclui um botão que simplesmente desliga esse sistema de segurança, só para o caso da chateação da configuração ser um pouco demais para seus clientes. Esse sistema de segurança vai funcionar?

Não me importo muito com a resposta. Não irá me espantar se os problemas de malware do Windows continuarem exatamente como estão, mesmo com o fato do Vista ser mesmo um sistema mais seguro que o XP. O fato é que sistemas UNIX-like já apresentam esse tipo de configuração há muito, muito tempo. A diferença é que usuários de UNIX (e os de Linux) já estão acostumados com o esquema de usuário administrador, os usuários de Windows não.

3- Configurações de boot manager arquivadas em uma pasta do sistema operacional
No melhor estilo Lilo ou GRUB o novo boot manager do Vista usa uma pasta do sistema, chamada /boot para arquivar as configurações e fases do boot manager. Enquanto isso permite um boot manager mais completo e configurável também traz o problema de torná-lo inútil caso a partição seja perdida por algum problema qualquer. A vantagem é poder ter dados arquivados de forma criptografada ou binária, ou mesmo protegidos por permissões de sistema que impedem que ataques diretos destruam ou alterem as informações de boot dos sistemas operacionais.

4- Imagem de instalação do sistema configurável e independente de hardware
Várias distros de Linux são veteranas nesse aspecto. A estrutura modular do UNIX somada ao esquema de distribuição de software em pacotes da maioria das distros atuais permite que uma imagem de instalação possa ser personalizada ao extremo e que esse sistema possa ser instalado em uma gama enorme de hardwares diferentes ao mesmo tempo. A MS já dispunha de produtos capazes de fazer instalações personalizadas do Windows em volume, mas agora é a própria estrutura do sistema de instalação que oferece esse tipo de facilidade. É outro aspecto onde a MS tornou o Windows mais parecido com o Linux.

A grande vantagem nesse caso é poder incluir softwares externos para serem instalados junto com o sistema operacional. Da mesma forma que temos distros Linux específicas para Geotecnia, poderemos ver uma empresa empacotar na imagem de instalação do Windows os softwares que precisa. E instalar tudo de uma vez só, como se aquele programa tivesse sido empacotado na mídia de instalação pela própria Microsoft.

5- Links simbólicos para arquivos e pastas
O UNIX sempre pôde criar links virtuais de arquivos ou mesmo pastas inteiras dentro de seu sistema de arquivos. Assim um único arquivo poderia estar em vários lugares ao mesmo tempo, de acordo com a necessidade do usuário. De fato, no Linux, você pode colocar uma partição toda dentro de uma pasta qualquer do sistema de arquivos sem mover ou copiar um único arquivo, basta um comando. O Windows Vista poderá fazer essas coisas, inclusive fazer uma partição toda se comportar como um diretório específico, mas isso o próprio XP já podia fazer, pois é uma manobra do NTFS.

A razão pela qual a MS incluiu esse suporte na interface do Vista, e em Windows isso significa trazer ao conhecimento da grande massa de usuários, que não sabe de nada do sistema que esteja fora de sua GUI, é para permitir que o usuário ache mais facilmente o que procura. Permitir que um mesmo arquivo esteja em diversos lugares distintos, por mais contra-sensual que pareça, permite que se encontre mais facilmente o que se procura. Você pode ter um mp3 em uma pasta, e um arquivo de texto com a letra da música em outra, e links simbólicos de ambos em uma terceira pasta, onde eles estarão juntinhos, e você tem apenas um lugar para procurar a música e sua letra, ainda que no sistema de arquivos real elas estejam separadas e organizadas por tipo de arquivo. É um exemplo bobo, mas a grande razão por trás da inclusão desses recursos no Vista é que, após o abandono do tão prometido WinFS, a MS ainda precisava de um recurso prático para criar pastas e arquivos virtuais e os links simbólicos são a melhor forma de fazer isso sem um grande redesenho do sistema de arquivos. O Vista é um sistema projetado para funcionar sobre a capacidade de busca, a retirada do WinFS colocou em xeque o bom funcionamento de um sistema que estava há 4 anos na prancheta de projeto. Algo precisava ser feito, e tinha que ser simples e funcional.

Agora que exploramos esse aspecto eu quero ir ao ponto principal do meu post. E vou fazê-lo de forma ríspida. Se a MS está esforçando-se para tornar o Windows mais parecido com o Linux, porque diabos estamos (partes da comunidade de SL estão, na verdade) fazendo o contrário? Porque estamos tentando tornar o Linux mais parecido com o Windows?

Preocupar-se com usabilidade ou com a beleza da GUI não é pecado. É fundamental para ter um sistema útil e bem feito. Mas sinto calafrios quando ouço pessoas comentando que o Linux deveria ter um sistema de instalação de software “no estilo do Windows, com Next, Next, OK, e pronto!” porque elas não entenderam que esse é o primeiro passo para termos malware funcionando tão bem no Linux quanto funciona no Windows. Acredite, é tão fácil inserir um keylogger no Linux quanto é no Windows. A diferença entre Linux e Windows nesse ponto é que o usuário do Win é sempre root. Por isso acho que o Vista não é mais seguro que o XP. Os usuários de Vista continuarão sendo root e continuarão clicando Next para cada janela que for apresentada na tela, exatamente como fazem hoje. Meu ponto é que se o Linux for parecido com o Windows terá problemas parecidos com os do Windows porque atrairá usuários de Windows, mas não necessariamente suas virtudes.

E isso é um problema de concepção. O Windows foi concebido, desde o primeiro momento, para ser amigável ao usuário, acima de tudo, e fácil de ser programado, em segundo plano. A primeira coisa ele faz razoavelmente bem, porque muita gente tem dificuldade em fazer muitas coisas mesmo no Windows pelo pouco conhecimento teórico dos nossos usuários. A segunda o Windows faz muito bem. É fácil programar para Windows, o material e suporte da MS para isso é muito bom. Tão fácil de programar que qualquer programador com um pouco mais de conhecimento pode desenvolver malware sem problemas, daí haver tantos vírus e spyware para Windows. Some isso com o pouco conhecimento do usuário e você tem o cenário atual, onde um Windows que navegue na web por poucos minutos sem software de proteção torna-se uma colônia de férias para malware. A culpa da MS e do Windows nisso é que eles sempre estimularam um comportamento infantil por parte de seus usuários.

O UNIX e seus likes, como o Linux, foram concebidos para serem servidores, multi-usuário. Desde o instante inicial se pensou no sistema como algo que alguém muito gabaritado iria administrar e outros tantos com algum grau de entendimento do sistema iriam operar. O UNIX não foi criado para ser fácil de usar, foi criado para ser apenas usado, mesmo que para usá-lo alguém precisasse de algumas semanas de leitura de alguns manuais técnicos. Aliás, com relação à essa parte de ler manuais, talvez para seu espanto mesmo fogões e batadeiras trazem um consigo. Ler manuais antes de iniciar a operação de alguma coisa não é apenas um procedimento recomendado, mas também muito saudável para evitar situações pegajosas e até mesmo trágicas, de acordo com o caso. Não consigo entender porque alguém acha absurdo ter de ler manuais para operar sistemas operacionais de computadores. Mas é essa a reação que vejo nas pessoas quando digo que elas precisam ler algum material antes de conseguir operar um Linux. Entretanto, o que eu estava dizendo é que a abordagem do ligar e usar (ou plug and play, se preferir) nunca passou perto do UNIX.

Por isso pensar em um Windows seguro como o Linux ou em um Linux amigável como o Windows parece ser como esperar que uma pedra saia voando. Programadores dos dois sistemas são competentes para implementar as ferramentas necessárias para buscar esses objetivos cruzados. Mas os usuários não tem a cultura necessária para absorver mudanças tão drásticas de objetivos.

Além dessa questão, há outro ponto a considerar. Existem méritos e deméritos em cada um dos sistemas operacionais dos quais falo aqui. Normalmente os usuários espontâneos de Linux deixaram de usar Windows por seu descontentamento com este sistema. O que eles fariam se o Linux passasse a apresentar as mesmas características e alguns dos defeitos de um sistema que eles já optaram por abandonar? Não se engane acreditando que o Linux poderia ficar incrivelmente fácil de usar sem perder nada com isso, principalmente em segurança ou em desempenho. Programadores muito bem pagos da MS lutam há anos para tornar o Windows mais seguro mas ainda acessível para o usuário leigo. E sabemos o que seus esforços conseguiram até agora. Não é incompetência deles, é um paradigma do uso dos computadores sobre o qual talvez eu escreva uma tese algum dia.

Entenda que não estou louvando um sistema que seja difícil de operar por natureza (coisa que o Linux é). Apenas não acredito que usuários que não entendem a diferença entre uma partição primária e uma partição lógica consigam usar bem seus computadores. Eles até podem operar corretamente uma planilha de cálculos, um processador de textos ou ate mesmo um sistema operacional inteiro concebido com a facilidade de uso em mente, mas sempre precisarão recorrer à alguém “que entenda de computador” quando as coisas derem errado. E as coisas dão errado todos os dias para usuários de computador do mundo todo, a prova é o grande mercado de técnicos de informática que ganha a vida de consulta em consulta, como os antigos médicos de família. Mas nesse caso podemos classificá-los como usuários de programas, e não de computadores, afinal seu conhecimento termina onde os problemas começam.

A partir disso a comunidade que suporta o Linux tem dois caminhos (no mínimo). Modificar o Linux no sentido de torná-lo parecido com o Windows, sob a retórica (falsa) de que se o sistema for mais fácil de usar ele será adotado por um número maior de pessoas (sim, falsa, se o MacOS não bastar pense no BeOS e no OS/2 Warp). Ou, opção 2, atrair os usuários descontentes de Windows para o Linux e salientar não o que é parecido entre eles, mas o que é diferente. E deixar claro que sem um aprendizado adequado ninguém consegue se adaptar a algo novo e diferente. O primeiro caminho nos leva a tentar reproduzir algo que já existe. Estaremos sempre um passo atrás, e teremos dificuldade em fazer as pessoas mudarem para outra coisa que é bem parecida com a primeira. Afinal, para que serve uma mudança se não existe diferença? Pode até haver sucesso nessa escalada, mas então onde estaremos? Nosso sistema será parecido com o Windows, nosso usuário médio será parecido com o de Windows, nossos problemas serão semelhantes aos de Windows. Será nosso descontentamento então parecido com o da época em que usávamos Windows?

O segundo caminho dificilmente nos levará ao sucesso (admitindo que o sucesso para o Linux fosse ter uma base desktop maior que a do Windows). Mas nosso sistema continuaria sendo o que era quando nos aproximamos dele pela primeira vez e o olhamos como uma alternativa aos nossos problemas anteriores. Nossos usuários (mesmo que em menor número) seriam mais conhecedores de seus computadores e os operariam com mais destreza. Teríamos (como temos) muitos problemas de compatibilidade de software e hardware, e outros mais, mas de outra natureza que os do Windows. E estaríamos satisfeitos por usar algo que é uma alternativa, exatamente por ser diferente e não igual. Temos uma escolha para fazer, e ela vai ser decisiva para todos nós.

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terça-feira, dezembro 05, 2006

Mini-Tutorial: iPod no Linux em 7 passos

Eric Raymond polemizou esse ano ao afirmar, entre outras coisas, que o Linux tem que estar mais disposto a aceitar padrões proprietários. Em um discurso na Linux World até afirmou que uma das preocupações do Linux deve ser o suporte ao iPod, entre outros gadgets que as pessoas adoram hoje em dia. Para colocar pingo de clareza nisso eu estou fazendo esse artigo. Mas vou adiantar uma coisa para você, e você pode rir se quiser: o iPod Nano que eu testei funcionou tão bem no Linux quanto no iTunes 7 instalado em um Windows.

O sistema usado foi um Mandriva 2007, uma excelente distro, que deve receber parte dos refugiados do Suse, agora que a Novell está espantando seus usuários comunitários. A interface foi o KDE 3.5 e o programa usado para gerenciar o iPod foi o Amarok 1.4. O iPod é um pequeno Nano de primeira geração com 2GB de memória. A conexão e operação foi fácil, exigindo conceitos que qualquer usuário com 6 meses de Linux tem com certeza. Nenhum feitiço, malabarismo ou magia negra foi usado. Não precisamos compilar kernel, nem o Amarok, nem o KDE, nem nada. Foi configurar, plugar e usar, como você vai perceber adiante. Digo isso porque conheço muita gente que nunca usou Linux ou que usou há 7 ou 8 anos, mas que ainda acha que para fazer qualquer coisa no Linux é preciso compilar algo. Eles com certeza passarão aqui para ler o artigo, apenas para me enviar um e-mail dizendo que no Windows é ainda mais fácil de configurar, que não precisa editar nenhum arquivo, que não precisa usar linha de comando, etc.

De qualquer forma, eu dividi a operação em 7 passos. Vamos à eles.

Passo 1: Criar a infra estrutura para operação do iPod
Não se assuste com o passo 1, ele é fácil. Eu coloquei um título difícil nele apenas para assustar os curiosos. Sabendo que o iPod não foi desenhado para operar com Linux (obrigado Apple, por pensar diferente e suportar apenas o Windows) precisamos ajustar alguns passos no sistema operacional para permitir o bom funcionamento da solução. Em pausa nesse mini-tutorial vou dizer uma coisa: por essas e outras eu prefiro o Linux, tente operar algo no Windows que não seja desenhado para Windows :-P

Comece escolhendo onde montar seu iPod. Montar, não se engane, é o termo para tornar um sistema de arquivo legível no Linux. Assim, eu escolhi acessar o iPod pelo ponto de montagem /mnt/ipod, você pode escolher o qualquer outro ponto.

Crie o ponto de montagem:
# mkdir /mnt/ipod

Para evitar qualquer problema de acesso, dê permissão de leitura e escrita para todos os usuários:
# chmod 777 /mnt/ipod
Isso permitirá que você escreva e configure o dispositivo sem problemas. Mais informações (úteis) sobre permissões de arquivos podem ser encontradas no Viva o Linux

Opcionalmente você pode adicionar as opções de montagem no arquivo /etc/fstab (usando o Kedit, o vi ou outro editor de sua preferência, como root) para agilizar o processo, eu recomendo adicionar ao arquivo a linha:
/dev/sda2 /mnt/ipod vfat noauto,user 0 0

Não vou entrar nos detalhes sobre o que está contido neste arquivo do Linux, existem bons tutoriais sobre isso, como o Guia Foca Linux. Mas vamos entender cada item, para saber o que estamos fazendo:
/dev/sda2 – é onde está a partição de músicas do iPod, assumindo que ele é o primeiro e único dispositivo de armazenamento de massa USB conectado.
/mnt/ipod – é o ponto de montagem escolhido, você deve usar seu próprio ponto se tiver escolhido outro. A rigor é o diretório que criamos lá atrás.
vfat – é o tipo de sistema de arquivos usado pelo iPod para armazenar músicas.
noauto – é uma opção para impedir que o sistema tente montar o dispositivo automaticamente durante o boot, gerando um erro caso o aparelho não esteja conectado.
user – é uma opção que permite que qualquer usuário monte esse sistema de arquivos, obrigatória nesse caso, já que você não usa seu sistema como root. O Amarok, ao tranferir arquivos para o iPod estará rodando em seu usuário do sistema, por isso é importante que esse usuário tenha montado o dispositivo.
0 0 – (Dois zeros com um espaço no meio) não convém comentar agora, mas deve constar ao final da linha.

Com esses procedimentos criamos uma estrutura no Linux para automatizar as etapas de configuração que devem ser efetuadas quando conectarmos o aparelho. Antes que você reclame que o Linux é difícil de usar saiba que tudo isso poderia ser feito de forma gráfica na maioria das distros voltadas para o uso em desktop. Aqui eu cito os procedimentos usando o shell porque eles são universais e independem de qual ambiente gráfico ou ferramenta de gerenciamento de sistema você está usando.

Terminado o passo 1, o mais difícil de toda a trajetória épica que estamos iniciando. Agora tudo fica mais fácil.

Passo 2: Conectar o iPod
Após configurar tudo como descrito no passo 1 podemos conectar o iPod pela primeira vez. Ele irá exibir a tela “Do not disconnect” ou piscar o led laranja, dependendo do modelo. No KDE 3.5 uma tela de serviço do sistema abre perguntando o que você deseja fazer com o dispositivo. Tanto faz qual sua escolha aqui, eu simplesmente mando abrir o dispositivo em um janela do Konqueror (navegador de arquivos) para me certificar de que ele está montado corretamente e inicio manualmente o Amarok (gerenciador de mídia e player de áudio do KDE).

Janela de Serviço do KDE 3.5


Passo 3: Montar o dispositivo
Aqui, dependendo da configuração do seu Linux a montagem do iPod pode ser efetuada automaticamente logo após a conexão. Se você conseguir visualizar o conteúdo do iPod em um gerenciador de arquivos ele está montado. Caso seu sistema não efetue essa operação automaticamente você pode, como um usuário normal, montar manualmente o iPod digitando o seguinte comando no shell:
$ mount /mnt/ipod

Confirme se a montagem foi bem sucedida abrindo um navegador de arquivos e visualizando o conteúdo do iPod, que deve parecer com o mostrado na imagem abaixo (de um iPod Nano de primeira geração). É importante montar o dispositivo como usuário normal, para que seu Amarok possa acessar a unidade e escrever arquivos nela. No Linux o usuário que monta um sistema de arquivos é seu proprietário, por isso se a montagem for efetuada pelo root apenas ele poderá transferir arquivos para o player. Caso você não consiga montar o iPod, ou não consiga visualizar seu conteúdo após a montagem certifique-se de ter efetuado corretamente todos os procedimentos do Passo 1.

Detalhe do Konqueror exibindo o dispositivo iPod montado


Passo 4: Conectar logicamente o iPod ao Amarok
Se tudo deu certo até aqui você deve ter conseguido conectar e montar o iPod e seu Linux deve vê-lo como um dispositivo de armazenamento USB semelhante à um pendrive. Mas é pouco prático ficar transferindo arquivos manualmente para o player. Por isso vamos conectá-lo ao Amarok, um excelente player e gerenciador de mídia para Linux baseado no KDE. O Amarok poderá reconhecer seu Apple iPod e transferir músicas ou álbuns inteiros orientado pela ID3 Tag dos mp3, além disso o Amarok 1.4 também pode gerenciar as Playlists do iPod de forma mais rápida que o próprio iTunes.
configurando04
Configurando o iPod corretamente no Amarok

Com o iPod conectado e montado (Passos 1 a 3) vamos ao Amarok. Na aba Dispositivos (localizada no canto inferior esquerdo do aplicativo) você receberá a opção de configurar o dispositivo conectado. Conforme as imagens escolha Dispositivo de Mídia Apple iPod e ajuste as outras opções conforme suas preferências. A partir daí você poderá ver o conteúdo do iPod na forma de uma lista de músicas na janela esquerda do player. Sempre que o iPod estiver montado pelo sistema o Amarok poderá conectá-lo automaticamente, agilizando o processo, desde que você configure a conexão da forma correta. Aqui podemos deletar músicas do iPod ou adicionar novas a partir da biblioteca do Amarok.

Passo 5: Transferindo músicas
Para enviar músicas para o iPod você pode adicionar as faixas desejadas à lista de reprodução do player e depois arrastar todas elas para a lista do dispositivo. O processo é bem intuitivo e dispensa mais explicações, é um arrastar-e-soltar como o da cópia de arquivos normal. A vantagem de usar o Amarok é poder organizar e pesquisar as faixas por vários critérios de busca. Ao arrastar as faixas para o iPod elas são adicionadas à uma fila. Ao clicar no botão Transferir (parte superior esquerda da interface) o programa envia os arquivos ao player. Uma barra de porcentagem e informações sobre o número de faixas transferidas informa quando o processo termina.
transferindo03
Transferindo faixas para o iPod

Aqui eu tenho um servidor de arquivos na rede que também guarda os mp3 em uma partição específica. Uso o Amarok em meu notebook que conecta-se à rede via wireless 802.11g, por isso tenho as informações de minha biblioteca em meu PC, mas a biblioteca está na verdade em outro lugar. Não importa. O Amarok transfere os arquivos de seu local físico real para o iPod de forma totalmente transparente. O interessante é pensar sobre a qualtidade de informação gerenciada nesse caso. Os arquivos mp3 correm pela ethernet até o roteador, por wi-fi para o notebook, via USB para o iPod, para que eu possa escutá-los onde quer que eu vá.

Passo 6: Desconectando corretamente o iPod
Muita gente pensa que após enviar os arquivos para o iPod, basta puxar o cabo USB. Errado. Desmontar o sistema de arquivos é fundamental para impedir problemas de corrupção de dados. Isso é tão importante que o manual do iPod+iTunes deixa claro para sempre Desconectar o iPod e depois desconectar o dispositivo USB (forma como o Windows chama a desmontagem de um sistema de arquivos). Mesmo no Windows é fundamental desmontar o sistema de arquivos antes de remover o cabo USB do iPod e você deve fazer isso sempre.

Após finalizar as transferências para seu iPod, clique no botão Desconectar, isso finaliza a conexão lógica do Amarok com o iPod. Mas antes de puxar o cabo desmonte o sistema de arquivos, como usuário normal, no shell, digite:
$ sync
$ umount /mnt/ipod

E pronto, agora você pode remover seu iPod de forma segura. Não ligue para a tela de “Do not Disconnect” (ou para o led laranja psicando) que o iPod continua exibindo. Puxe o cabo sem medo pois você já sincronizou e desmontou o sistema de arquivos de forma segura.

Passo 7: Ouça sua música
Esse é o passo mais fácil de todos. Ouça suas músicas à vontade e se encontrar Eric Raymond por aí diga à ele para recomendar meu blog para seus amigos que perguntam se o iPod funciona com o Linux.

Conclusões
Aqui sempre há esse tipo de coisa, não? Eu não poderia ficar feliz o bastante com um mini-tutorial para configurar o iPod sem deixar algo pessoal meu no final. Antes de usar o iTunes pela primeira vez eu me perguntava porque a Apple não faz uma versão dele para Linux. Até tinha um pouco de raiva dela por isso. Quando me perguntavam porque não um iPod eu sempre dizia: O iPod não foi feito pra mim, seu software não funciona em Linux, pois a Apple não me quer como cliente. O Leo Faoro sabe disso. Claro que o Linux está presente em um número muito pequeno de máquinas domésticas, o que talvez seja o grande motivo pelo qual a Apple não suporta o Linux com o iTunes. Mas será que os usuários de Linux que escolhem o produto da Apple (aliás o player dono de 75% do mercado mundial) não deveriam receber alguma atenção da empresa?

Essa dúvida se desfez ao comparar o Amarok com o iTunes sobre Windows. A alternativa livre não dispõe de todos os recursos para manejar os iPods mais recheados. Na verdade se você tiver um Shuffle estará muito bem atendido pelo Amarok, mas sentirá falta de todos os outros recursos que dão suporte às outras versões de iPods. A lista de contatos e o calendário presentes no Nano, bem como os jogos e fotos não podem ser manejados pelo Amarok. Para usar esses recursos de seu iPod você ainda precisará de um Windows com iTunes. Entretanto não existe como comparar a velocidade e agilidade do gerenciamento de mp3 do Amarok com o iTunes. O software da Apple aqui foi extremamente lento, quase contra-produtivo. Rolar a lista de músicas usando o scroll do mouse no iTunes gerava uma lentidão maior do que aquela verificada no Winamp com uma skin daquelas muito pesadas, algo decepcionante para uma empresa com a reputação da Apple.

Não me importa se o seu iTunes funciona bem e é rápido. Aqui, por algum motivo, a versão 7 do software baixado do site da maçã trabalhou de forma muito ruim. Talvez seja o tamanho da coleção, mais de 7000 arquivos. Talvez seja o fato desta coleção estar em um servidor da rede acessada via wi-fi. Não sei. O fato é que sob as mesmas condições o Amarok foi muito mais rápido que o iTunes na organização das listas de músicas e em sua transferência para o iPod. Apple iTunes, não obrigado. Prefiro ficar sem a agenda de compromissos do que perder outras 4 horas no iTunes para validar a coleção e transferir 2GB de música para um player portátil (sim, 4 horas para validar a coleção, fazer uma lista de 380 músicas e transferí-las para o iPod). O que o Amarok deixa a desejar em recursos entregou em desempenho, algo muito mais importante para mim. Espero ter ajudado.

Referências Técnicas: Guia do Hardware

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