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segunda-feira, novembro 13, 2006

Estratégia é tudo!!!

Continuamos observando as repercussões do acordo entre a Novell e a Microsoft. Muitos colunistas dão opiniões e pareceres sobre o assunto. Até o Dvorak já deu seus centavos para a história, e não foram nada bons, mas já tocarei nisso. Nesse meio tempo ninguém (ninguém mesmo, pois muita coisa sobre o acordo é confidencial) sabe muito bem o que vai acontecer no futuro ou aonde isso vai levar.

Estou refletindo sobre isso mas já dei minha primeira opinião. Mas acho que muita água ainda vai passar por essa ponte e muitos de nós ainda vamos reconsiderar o que escrevemos antes, seja lá o que tenhamos escrito. Quem estiver achando que isso será maravilhoso para o Linux provavelmente está errado, assim como quem estiver achando catastrófico. Isso porque os extremos tentem a ser enganosos em suas maquinações. Por acaso eu recebi de um amigo por e-mail um texto interessante, que reproduzo abaixo.

Um senhor idoso vivia sozinho em sua casa. Ele queria virar a terra de seu jardim para plantar flores, mas era um trabalho muito pesado. Seu único filho, que sempre o ajudava nesta tarefa, estava na prisão. O homem então escreveu a seguinte carta ao filho:

"Querido Filho...Estou triste pois não vou poder plantar meu jardim este ano. Detesto não poder fazê-lo porque sua mãe sempre adorava flores e está na época do plantio. Mas eu estou velho demais para cavar a terra. Se você estivesse aqui, eu não teria esse problema, mas sei que você não pode me ajudar, pois está na prisão. Com amor, Seu pai."

Pouco depois o pai recebeu o seguinte telegrama:

"PELO AMOR DE DEUS, pai, não escave o jardim! Foi lá que eu escondi os corpos!!!"

Como as correspondências eram monitoradas na prisão. Às quatro da manhã do dia seguinte, uma turma de Agentes da polícia apareceram e cavaram o jardim inteiro, sem encontrar nenhum corpo. Confuso, o velho escreveu uma outra carta para o filho contando o que acontecera. Esta foi a resposta:

"Pode plantar seu jardim agora, pai. Isso é o máximo que eu posso fazer no momento."

Moral da estória: Nada como uma boa estratégia para conseguir o que seria impossível. Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional.


Após ler isso e perceber que, como metáfora, ela pode aplicar-se à esse caso (Novell e Microsoft unidas para promover a integração de Linux e Windows e toda a situação das patentes) especialmente se considerarmos a viagem de Dvorak ao mundo da fantasia eu decidi escrever esse post.

Dvorak novamente não sabe sobre o que está falando. Está explicado no BR-Linux de forma bem simples e não vou perder tempo com isso. O que ele sugere que a Microsoft deseja já é feito pela nVidia, simples assim. Mas usando o texto acima como metáfora para essa situação, quem estaria manipulando quem para “cavar seu quintal”?

Ora, se a Microsoft nada tem de boba e Novell também não galgou seu lugar ao sol dando nada de graça para ninguém. A Novell já teve seu próprio SO, o Netware, e nunca fez nenhuma questão de liberar software em licenças livres, da mesma forma que a Microsoft sempre fez. Quando a Novell colocou pés no mundo do Linux, comprando a Suse, já deveríamos saber que ela o fez por dinheiro. E já deveríamos estar acostumados com isso.

Foi-se o tempo em que Linux era uma coisa desenvolvida em garagens, por cabeludos alimentados por pizzas e ideais de um mundo melhor, se é que houve esse tempo (pessoalmente até acho que houve). Desenvolver Linux, e software livre de maneira geral, hoje é um negócio e negócios são feitos por pessoas de gravatas ou taillers, depende do gênero. Todos os profissionais respeitados pela comunidade por seu trabalho no SL são empregados de alguma empresa ou instituição e recebem salários para fazerem sua parte. Não que eles não tenham uma ideologia ou paixão pelo que fazem, eles têm. Mas é inegável que sem os dólares das grandes empresas nossos sistemas e softwares livres não seriam tão bons quanto o são.

Escolha um grande projeto ou software e você verá que existe uma grande corporação por trás dele. O Sourceforge é importante, dele saem pequenos projetos que executam coisas importantes. Mas você consegue citar um único software livre e importante que você use que não tenha uma empresa sólida e de renome entre seus colaboradores?

E mesmo essas empresas que estão contribuindo para o SL ainda mantém partes importantes de seus lucros apoiadas em software proprietário, igual à Microsoft. De onde surge então esse receio sobre a postura e as intenções da Microsoft? Porque eu tenho medo ao ver isso acontecendo? Vamos ver.

Não é por achar que a Novell é boba e facilmente enganável. Não! Eles são espertos, uma das grandes empresas do ramo. Ninguém fica rico se não for esperto e sem ter bons advogados para ler cada contrato. Um idiota e seu dinheiro separam-se rapidamente, diz um ditado, e a Novell tem dinheiro.

Não é porque a Novell pode virar a próxima SCO. A SCO não tinha nada na mão a não ser um punhado (pequeno, mas importante) de propriedades intelectuais (patentes). Ela era dona dos direitos do código fonte do UNIX (ou algo assim) que ela havia comprado... da Novell!!! Só que aqui fica complicado, presta atenção. A Novell vendeu os direitos sobre o código fonte do UNIX (que pouca gente usa ainda hoje) para a SCO. A SCO teve em sua linha de produtos um sistema Linux (acho até que ainda tem). Depois a SCO acusou a IBM de colocar código do AIX (um tipo de UNIX) no Linux (que a própria SCO vendia) e que isso era ilegal. Um processo começou e todo mundo disse que quem usava Linux corria perigo. A Novell então disse que havia enganado a SCO no negócio e que esta não tinha tantos direitos quando alegava ter. A IBM mostrou suas contribuições para o kernel Linux para provar que não tinha nada de AIX nelas. A justiça perdeu tempo analisando tudo. Descobriu-se então que a Microsoft tinha dado dinheiro à SCO. Porque? Para comprar direitos sobre o código do UNIX, ora! Mas porque, se a Microsoft já até fez um sistema UNIX, chamado XENIX e vendeu seus direitos à SCO no final da década de 80? Não sei! Só sei que ninguém achou essa história certa e o processo acabou em nada. A SCO está mal hoje e ninguém quer mais saber dela. E ela tinha um nome tão bonito: Santa Cruz Operations...

Voltando ao assunto, a Novell não é a nova SCO, um fantoche nas mãos da MS com o intuito de destruir o Linux porque todo mundo já viu que isso não dará certo. É software livre, gente. Se um juiz determinar que uma parte do Linux é propriedade de alguém (Microsoft ou seja lá quem for) a gente deleta isso e em pouco tempo temos código novo trabalhando no lugar. A Red Hat inclusive tem um compromisso público com seus clientes garantindo que se alguém provar ser dono de alguma parte do sistema daquela empresa ela reescreve aquela parte. Então a Microsoft pode fechar acordos de patentes com quem quiser, isso pode atrasar o Linux mas não pará-lo. O Software livre foi desenhado para resistir à isso, pois quem o criou cansou de ver a MS destruir seus “parceiros” comerciais ano à ano na indústria de TI.

A Novell não se colocaria na posição de ser uma nova SCO, porque sabe de tudo isso. Eles tem dinheiro, lembra? Por isso não são idiotas e tem advogados. Não querem estar onde a SCO está hoje, por isso não agirão como ela no passado.

Além disso mesmo aliada à Novell a Microsoft não conseguiria atacar o Linux lutando contra Red Hat, Sun, Oracle, IBM, HP e cia. Se as patentes forem para a mesa a IBM é a maior detentora de patentes do mundo. Se for uma questão de disputar mercado a Novell nunca vai fazer Windows, vai continuar fazendo Linux e mesmo que seja uma espécie de MS-Linux ainda assim existe a GPL. E mais advogados.

E a Microsoft deixou as portas abertas para que qualquer outra distro junte-se à eles. Mas quem vai? A Red Hat não vai, e por conseqüência a Oracle também não. Aliás a Oracle não iria nunca, na lista de to-dos da Oracle “tomar o lugar da MS” é a prioridade número 1. A IBM é parceira da Red Hat. A Sun e a MS brigam desde sempre e a dupla Java/C# só piorou a relação entre elas. Quem sobra? Debian, Ubuntu, Mandriva, Slackware alguma dessas parece um canditato forte à fechar um acordo com a MS no estilo proposto? Não para mim, mas posso estar enganado.

Ainda que uma dessas empresas ou comunidades fechasse um acordo com a MS do outro lado ainda estariam Sun, Oracle, IBM, Red Hat então quão perigoso para o Linux seria algo assim? Muito pouco. O carisma da Microsoft, ou total falta dele, é o fiel da balança nesse caso.

A IBM jamais fecharia um acordo com a Microsoft sem ter total certeza de que ganharia muito com isso sem ser apunhalada no futuro. Ela ainda tem na carne os cortes do OS/2. Na verdade qualquer pessoa que já tenha conversado com Steve Jobs sabe que para a Microsoft, assim como num filme da máfia, você nunca deve abrir a porta sem ter a arma carregada nas mãos.

Steve Jobs! Ele, assim como nós, acreditava em um, e apenas um, inimigo. Jobs ao fundar a Apple era obcecado por destruir a IBM. A famosa propaganda de 1984 do Macintosh era para a IBM. E obcecado por seu inimigo ele não percebeu que quem o traía estava em seu quintal. Os caras da Microsoft estavam lá para roubar sua interface gráfica (roubada antes da Xerox) e levá-la para o PC. Depois de Jobs a Apple tornou-se parceira da IBM e por anos vendeu os melhores computadores pessoais do mercado porque, entre outras coisas, usava os processadores da IBM.

Percebe que no meio disso tudo sempre aparece o mesmo nome? IBM. A IBM criou o PC, sobrepujou a Apple, deu vida e glória à Intel e à Microsoft. Depois participou dos anos dourados da Apple e seus Macintoshes. Então a IBM concorreu com a Digital, a Sun, a Oracle e fez parcerias com todas elas em algum nível. A IBM associou-se com a Red Hat e abriu mercado para que seu Linux se tornasse uma alternativa forte. A IBM é uma das empresas que mais contribuiu com código para o amadurecimento do kernel Linux e é um de seus grandes promotores no mundo. É a IBM que se associou à Sony e a Toshiba (como fizera antes com a Apple e a Motorola) para criar uma nova família de processadores. É a IBM que vai fornecer processadores para todos os consoles da nova geração, Xbox360 (da Microsoft), Wii (da Nintendo) e PS3 (da Sony). Sempre houve uma presença da IBM em todos os lances críticos da história dessa indústria. E a IBM está agora ao lado do Linux, não do Windows.

Tudo bem que a Microsoft já ganhou da IBM uma vez (novamente eu falando do OS/2). Mas tem um ditado nos EUA: “Fool me once, shame on you. Fool me twice, shame on me”. Que é mais ou menos o seguinte: “Me engana uma vez, vergonha pra você. Me engana outra vez, vergonha pra mim”. E não tenho dúvidas que se a MS tentar prejudicar o Linux de alguma forma a IBM será uma das primeiras a contra-atacar de forma dura. Porque o Linux para a IBM não significa ideologia, ou vingança. Significa dinheiro. E tentar mexer no dinheiro de uma empresa como a IBM nunca é bom.

Por tudo isso, acho que a Microsoft, nessa nova jornada de interação com o Linux, com essa nova abordagem pode até ter más intenções (sob nossa ótica). Mas se realmente for esse o caso, não acho que vá durar muito. E se durar, não acho que ela vá conseguir sair ilesa de uma batalha que seria tão feroz contra adversários tão musculosos e determinados. Como a Microsoft também não é boba ela deve ter boas cartas para colocar na mesa. Pelo seu próprio bem.

Então, voltando à metáfora, quem acabará cavando o terreno de quem? Ainda não dá para dizer. A IBM já fez muita gente cavar para ela e já cavou um pouco pelos outros também. Mas seu histórico é respeitável. Eu ficaria mais preocupado tendo a IBM do outro lado do que tendo a Microsoft. Até sinto um certo alívio do Windows ter ganho do OS/2. Porque a Microsoft nunca mostrou planejamento estratégico do nível do da IBM desde do OS/2. E nesse ramo, estratégia é tudo!

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segunda-feira, novembro 06, 2006

Cavalo de Tróia

Essa semana começou com um terremoto para o mundo do software livre. A parceria entre a Novell e a Microsoft para integrar seus sistemas operacionais em ambientes mistos gerou todo tipo de repercussão. As ações da Red Hat caíram, com a entrada da Oracle em seu mercado e baixaram um pouco mais com o acordo da empresa que mantém o Suse com a empresa de Redmond. A Red Hat respondeu, afirmando que não fechará acordos com a Microsoft, ao menos não no mesmo formato. Mas por que isso causou tanto efeito?

Há muito se dizia que a Microsoft teria que acostumar-se com o Linux e seus efeitos no mercado. A empresa não poderia ser a única a ignorar ou combater o Linux, opondo-se a tantos concorrentes de peso. IBM, HP, Red Hat, Sun, Oracle, Novell, todas elas já haviam incluído em seus produtos soluções abertas, livres ou de alguma forma relacionadas ao Linux. Era uma questão de tempo até que a Microsoft abandonasse a postura anti-Linux e buscasse alguma forma de tirar vantagem do crescimento do sistema operacional concorrente.

Mais do que enfrentar grandes empresas, para a Microsoft, combater o Linux significava combater uma parcela grande do mercado de usuários. Significava combater uma parcela do mercado de potenciais clientes. Qualquer profissional que entenda da administração sabe que lutar contra clientes não leva a empresa a lugar algum. Para a Microsoft, conseguir aproveitar o Linux tornou-se quase uma questão de sobrevivência a longo prazo. Especialmente depois da reação negativa dos clientes de Windows à nova EULA do Vista, mais restritiva do que nunca. Então surge esse acordo, com a Novell, para promover a integração de Suse e Windows em ambientes mistos. A Microsoft está dando um aval para seus clientes que queiram operar ambos sistemas em um mesmo ambiente. Isso deveria ser bom pois sempre achamos que quando isso ocorresse a livre concorrência permitiria que cada usuário escolhesse o sistema mais adequado para cada situação.

Entretanto o acordo fechado pela Novell e pela Microsoft tem um senão. As patentes, novamente elas, são motivo de discórdia e uma ameaça ao Software Livre. Não ficou claro como as empresas vão reagir ao uso de suas patentes. A Microsoft afirmou que não irá processar programadores de software livre que desrespeitem suas patentes em uso não-comercial. Mas nada foi dito com relação ao uso comercial. E desrespeitar patentes não é nada difícil, quando se fala em patentes de software. Microsoft e Novell são favoráveis às patentes de software. Estão associadas duas empresas que desejam ver patentes que a comunidade de software livre combate. Mas uma delas faz Linux.

Sempre dissemos que a força do Linux estava na comunidade. Que os pesadelos da Microsoft residiam no fato de, pela primeira vez, a gigante não ter um adversário para combater, uma empresa que mantinha seu produto concorrente. Enquanto apenas a comunidade manteve o Linux ele cresceu pouco e era pouco usável, mas todos sabiam o que ele era e como seu futuro se apresentaria. Agora as grandes distribuições comerciais de Linux estão nas mãos de empresas. A Microsoft tentou combater da forma de sempre, usando a SCO para promover litígios contra a IBM e a Red Hat, que nada renderam. Agora ela muda a tática sem que possamos entender se o objetivo final continua sendo o mesmo de sempre: destruir o concorrente.

A adoção do Linux por empresas foi muito boa para o sistema. As contribuições delas para a comunidade transformaram o Linux como água em vinho. Entretanto é por essa porta que a Microsoft está entrando. Acordando-se com uma empresa que é uma das maiores fornecedoras de Linux do mundo a Microsoft está abraçando uma parte do Linux, uma parte importante. Será essa parceria uma espécie de veneno, que vai começar a corroer as estruturas do Linux e do software livre de forma grave? Será essa parceria que envolve patentes, suporte à projetos livres e até a implementação do formato do MSOffice no OpenOffice um legítimo cavalo de Tróia? Algo que parece bom e que depois mostra-se um ataque mortal, planejado desde o primeiro momento para tirar mais um concorrente do mercado?

Pelo seu histórico, por tudo que já fez e, especialmente, como fez a Microsoft é digna de todas as nossas desconfianças. Podemos nós, membros da comunidade, assistir à tudo isso preocupados, considerando que a Microsoft está agindo com as piores intenções possíveis. Até que ela nos prove o contrário.

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