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quarta-feira, outubro 26, 2005

Ninguém é perfeito

Eu adquiri algumas semana atrás um pendrive Kingston DataTraveler de 512MB com suporte à USB 2. Por alguma razão estava cansado de queimar CDs para levar arquivos maiores que 2MB de um lado para o outro e a praticidade do pendrive para esse tipo de situação é imbatível.

Meu PC, já meio idoso, atende muito bem minhas necessidades exceto por possuir nativamente apenas portas USB1.1. Passar 512MB de arquivos para o pendrive à 300KB/s é algo, vamos dizer, entediante. Decidi que buscaria suporte ao USB 2 mas como não pretendo trocar de máquina tão cedo a solução parecia estar naquelas plaquinhas PCI com portas USB adicionais.

Foi uma grande coincidência um amigo meu, que devia um favor, possuir uma delas encostada. Recebi a doação de bom grado e fui para casa injetar velocidade à minhas conexões USB. A placa usa chipset da VIA (3038) e apresenta 3 portas externas e 1 interna. Veio na caixinha com um pequeno manual de instalação e um CD com "Windows Drivers". Pensei comigo: já vi tudo, vou levar 5 minutos para instalar no windows e uns 30 para fazer isso no Linux.

A coisa começou a tornar-se uma odisséia quando percebi que o slot PCI livre ao lado do AGP estava cheio de poeira, cortesia da ventoínha da placa de vídeo. Saquei que ali nada iria funcionar. Decidi então deslocar todas as placas PCI da máquina um slot para baixo, só pra manter as portas USB traseiras com um nível de acessibilidade aceitável. Desparafusa tudo, troca todas as placas de slot e coloca a placa USB no Slot 1 (o slot zero é o primeiro, cheio de pó, certo?). Parafusa tudo de novo. Liga a máquina e a BIOS entende-se com a plaquinha sem dramas... vamos começar a instalar, primeiro o mais fácil.

Entrei no Windows, ele reconheceu a plaquinha, instalou os drivers sem me perguntar nada... ok... viu, foi bem fácil... Nem tanto. O Windows instalou muito bem a placa, verdade, mas também decidiu reinstalar os drivers de todas as outras placas, isso mesmo, tudo de novo. Instala placa de som, instala placa de rede, instala placa de USB, na hora da placa de captura de vídeo ele pede os drivers. Sentiu um problema vindo? Se ele achou os drivers de tudo, menos o dessa placa de captura (BT878) é porque tem algo errado. Inseri o CD da placa de captura, ele achou os drivers, instalou e pediu pra reiniciar. Após o boot o sistema carrega normal, mas depois de carregar o desktop e enquanto carrega anti-virus, anti-spyware, firewall e outros bummmmmmmmmm..... a máquina reinicia... Legal, algo deu errado na hora de reinstalar o driver da placa de captura e o Windows tá caindo sozinho... Deixei prá lá, vou tentar a sorte no Linux...

Escolho o Linux no menu do LILO e acompanho (pressionando um ESC) a rotina de inicialização do Mandriva. Ele detecta que todas as placas mudaram de lugar e corrige os endereçamentos PCI, depois solta algo como:
Kernel USB 2.0 support enabled
Pronto! Foi isso. Carregou o KDE e ao inserir o pendrive em uma das portas da placa recém instalada lá estava ele, carregando arquivos a 4MB/s!!! Sem que eu fizesse nada, sem cd de drivers do fabricante, sem bagunçar tudo que já estava funcionando antes.

O Windows eu conserto depois, o Linux não vai precisar de conserto, exatamente como um sistema operacional de verdade deveria se comportar. Então eu penso: o Linux não está pronto para o desktop porque é muito difícil de mexer? Talvez algum usuário de computadores leigo, desses para quem sempre recomendamos o Windows, queria me escrever para me ajudar com o meu Windows que reinicia a máquina durante o boot...

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domingo, outubro 23, 2005

O Linux cada vez mais perto

Muita gente está falando do Ubuntu. Não vou dar nenhum link a esse respeito porque vi tantos artigos sobre ele ultimamente que seria injusto apontar para um só. Passear rapidamente pelo seu site de notícias predileto pesquisando por Ubuntu irá trazer uma lista de bom material para entender o que estou falando. Desde opiniões de usuários leigos que viram um GNU/Linux pela primeira vez pelos olhos da distro sul-africana até artigos mais técnicos foram escritos recentemente.

Eu nunca usei o Ubuntu, mas todo mundo elogia algumas coisas nessa distro, como por exemplo:
- A facilidade de instalar aplicativos;
- A facilidade de manter o sistema atualizado em uma base quase diária;
- A facilidade em usar o sistema no dia a dia, já que ele traz um conceito muito simples: apenas uma aplicação para cada tarefa, que simplifica a vida do usuário que chega do Windows.

Essas, entre outras, características aproximaram o Ubuntu da experiência desejada para um iniciante em Linux e colocaram essa distro na berlinda do mundo so software livre. Tudo isso traz muitos aspectos positivos, faz bem para os usuários e para o software livre.

Quem acompanha meu blog há algum tempo já teve um panorama da minha experiência pessoal com computadores, mas pra quem não lembra ou está aqui há menos tempo vou resumir um pouco da minha história.

Quando eu era apenas um infante em 1988 queria, como muitos outros garotos, um video-game. Por algum motivo que até hoje não entendi meu pai decidiu presentear-me com um computador e não um console. Me deu um MSX. Vou dividir os leitores aqui em 3 categorias, a saber:
1-Aqueles que conheceram o MSX e não acham que ele seja um computador;
2-Aqueles que conheceram o MSX e, comparando-o aos PCs da época, acham-no um bom computador;
3-Aqueles que não conhecem o MSX pessoalmente ou nem de nome.

Não irei entrar em detalhes técnicos ou de plataforma, há muito material na web para quem quiser relembrar ou conhecer essa antiga máquina. Mas vou dizer que o MSX 1.1 que eu ganhei foi a base de tudo que eu desejo e almejo construir enquanto ser-humano. Isso é forte, mas tenho um bom argumento. Eu era apenas uma criança que ligou aquela caixinha preta pela primeira vez e deparou-se com uma tela negra, um cursor branco estático e um dizer até então enigmático: RAM 32Kbytes livres.

Eu não sabia o que era RAM, Kbytes ou pra que isso serviria, eu apenas estava desapontado por não poder jogar River-raid ou Pacman como meus colegas possuidores de um Atari2600. Mas havia um manual em português de introdução ao MSX e um outro manual (de umas 200 páginas) sobre a linguagem MSX-Basic. A imensa paciência do meu pai em ensinar-me os conceitos básicos e de traduzir para minha mente infanto-juvenil o que havia naquelas páginas fez-me entender que com aquela maquina eu poderia, pela primeira vez em minha vida, construir algo.

A experiência de construir programas com pequenos comandos embriagou-me verdadeiramente. Programar era um deleite que eu não trocava por nada. O êxtase de escrever código e depois ver coisas acontecendo de maneira automática era, e é até hoje, fantástico!

Descobri então minha vocação: construir coisas! Isso era o que eu queria fazer, e é o que quero fazer até hoje, e provavelmente é uma vontade que irá me acompanhar até meu destino final. A ânsia de construir levou-me à engenharia, profissão de escolha, cujo diploma deve estar em minhas mãos ao final deste ano letivo. Mas durante a faculdade descobri que não precisaria edificar prédios para o resto da vida. Descobri que qualquer coisa é edificável, tudo pode ser construído ou reconstruído. Encontro-me hoje, ao menos penso assim, construindo algo agora mesmo, escrevendo este artigo.

Se você captou o que eu quis dizer até agora pode imaginar o desprazer que foi para mim encontrar um PC com Windows pela primeira vez. Meu primeiro PC, que destronou meu velho MSX, era um 486 com Windows 3.1 e foi algo que odiei até o seu último suspiro. Tudo estava pronto, nada precisava ser construido ou reconstruído. Pior que isso, eu não poderia tentar construir ou reconstruir nada. Não havia um manual de linguagem, não havia um manual de arquitetura da máquina, e tudo que estava pronto eu não tinha como estudar ou entender, pois todo o código que rodava estava absolutamente fechado e distante. Não havia internet para mim naqueles dias, e eu estava preso à uma caixa que limitava minha inventividade adolescente. Foi um pesadelo completo.

O tempo passou, o 486 tornou-se um 586. O Windows deu lugar ao OS/2, que era muito melhor, mas igualmente limitante. Um dia eu ouvi falar de Linux. A internet já existia para mim e fui tentar entender o que era UNIX, Linux, e essas coisas que ninguém que eu conhecesse pessoalmente jamais ouvira falar. Pesquisando sozinho, da zero hora às seis da manhã, descobri, entre outras coisas, que o Linux tinha o código fonte aberto e que sua instalação trazia um compilador completo. Apaixonei-me pelo conceito disso, porque para mim era como ter os tempos de MSX de volta. Imagine-se com 30 anos e podendo sentir-se novamente com 16. Bem, eu não tinha (e ainda não tenho) 30 anos, mas para mim era como estar novamente sentindo aquela vibração juvenil de poder construir as coisas, como no MSX. Acho que compliquei tudo agora, não? ;-)

Eu usava o OS/2 e era afeiçoado à ele e sua superioridade técnica ao Windows. Mas decidi baixar e instalar o Linux para buscar novamente aquele sentimento de estar no controle. Conseguida a cópia de um RedHat 5 (importada em uma mídia comprada na Cheapbytes) parti para a instalação. Foi um desastre! Fiz besteira ainda no particionamento e acabei por apagar todo meu disco rígido. Concluí que o Linux não estava pronto para mim e voltei ao OS/2, com o qual fiquei por mais 3 anos depois desse episódio.

Isso deu-me a perspectiva do usuário leigo de hoje, que não entende de particionamento de discos e por isso pode achar o GNU/Linux um pouco complicado ou imaturo demais para sua vida prática. Eu levei algum tempo para entender, e hoje compreendi de fato, que não era o Linux que não estava pronto para mim. Eu não estava pronto para o Linux também. Não estávamos prontos um para o outro.

Algum tempo depois, conforme o Linux e eu amadurecemos, nos encontramos novamente. Hoje convivemos todos muito bem, meu Linux, eu, um Tux de pelúcia que fica aqui na estante, duas canecas com o Tux nas quais bebo café diariamente, dois chaveiros do Tux que transportam minhas chaves de verdade e mais algumas coisinhas com aquele pingüim legal.

O Linux melhorou muito, desde meu primeiro encontro traumático com ele, mas eu também melhorei, aprendi mais ainda e me tornei mais técnico. Tenho defendido o ponto de vista de que o usuário deve ter algum conhecimento técnico mínimo para poder usar um computador. Esse mínimo é, sem dúvida, um pouco mais alto para o Linux do que para o Windows, apenas pelo fato de que o Linux é um sistema mais flexível.

No Windows o usuário não precisa saber configurar um servidor gráfico, unicamente porque ele não tem o que modificar em seu servidor gráfico. No Windows o usuário não precisa saber o que é um módulo de kernel porque o Windows não consegue fazer carga e descarga dinâmica de módulos de kernel (se o Windows pudesse fazer isso não precisaria ser reiniciado após a instalação de um novo driver de placa de vídeo). Boa parte das complexidades adicionais que o Linux tem hoje em relação ao Windows são provenientes de características técnicas que o Linux possui e o Windows ainda não.

Isso ocorre porque o Linux tem amadurecido cada vez mais nos últimos tempos. Um bom exemplo disso é o ponto de vista do post do blog do Bruno Torres: Instalar programas no Linux é mais fácil do que no Windows. Claro que nem sempre é mais fácil instalar programas no Linux do que no Windows. Mas a recíproca é verdadeira, nem sempre é mais fácil instalar programas no Windows.

Aqui em casa eu sou o responsável por manter os computadores funcionando. Para minha irmã, que tem um PC no quarto, isso sempre foi muito cômodo. Quando algo estava errado ela me chamava. Um dia decidi que isso deveria mudar. Comuniquei à todos os usuários de computador de minha casa (irmã, pai e mãe) que não mais daria suporte ao Windows, que aqueles que decidissem permanecer nele deveriam cuidar de sua manutenção. Eu apenas suportaria sistemas Linux. Não foi nenhuma novidade para mim que ninguém quis usar Linux. Os jogos que todos gostam de jogar rodam apenas em Windows, estava tudo lá, e ninguém queria mudar para algo novo e aprender a usar o computador de novo.

Esse panorama durou apenas alguns meses. Logo os computadores estavam infestados de virus, com os HDs abarrotados de programas inúteis e pop-ups de material pornô e cassinos on-line. Ninguém, nem mesmo minha irmã (usuária de Windows há 4 anos na época) conseguia fazer as coisas direito. A única reflexão que consigo ter deste experimento que realizei é: o Linux pode não estar pronto para o usuário doméstico leigo, mas o Windows também não está. Você pode argumentar que o Windows está mais próximo deste objetivo, concordo, mas o Windows não é nem de longe fácil de usar quanto a propaganda oficial da Microsoft (e dos demais opositores do Software Livre) faz parecer.

Grande parte dos problemas ocorreu em algo que deveria ser corriqueiro: instalar programas. Minha irmã, toda vez que queria um programa novo, lançava-se em uma busca por ele no Google. Instalava qualquer executável que pudesse parecer-se com o que ela desejava. E quando o firewall (o ZoneAlarm) perguntava se algum programa (qualquer um) poderia acessar a internet a resposta era Yes (Always - don't ask again). Você pode sentir-se tentado à criticar esse tipo de comportamento, mas surpreendente ou não, é como a maioria dos usuários leigos usam os computadores em sua vida pessoal.

Quando todos suplicaram para que eu resolvesse tudo, mantive-me firme, só ajudo se for Linux. Linux devidamente instalado em todas as máquinas, pus-me a ensinar a todos o básico necessário para navegar na internet, jogar jogos de cartas, criar documentos com OpenOffice. E para minha irmã ensinei como tornar-se root e usar o urpmi (do Mandrake/Mandriva). Ela queria instalar o aMSN (ou o Gaim, não me lembro agora qual deles). Vamos lá:
su
[senha]
urpmi gaim
exit

A percepção dela foi surpreendente. "Só isso? Não precisa baixar o programa?" Claro que precisa, mas o Linux baixa sozinho. "Como ele sabe onde está o programa?" Ele tem uma base de dados que diz onde achar o programa pra você. "E depois disso o programa está instalado sozinho?" Sim, aparece lá no seu menu. "Nossa, que jóia. Porque no Windows não é assim?" Bom... não sei.

Instalar alguns programas (aqueles que a equipe da Mandriva compila para meu sistema) no Linux é mesmo muito mais fácil que no Windows. Isso eu não precisei explicar para um usuário de 4 anos de Windows e 20 minutos de Linux. O que eu precisava explicar, e não consegui, é porque um sistema que é livre, e que me custou apenas alguns poucos trocados (o preço da conexão para baixá-lo e o valor das mídias que usei para instalá-lo) era tão mais competente e simples do que um sistema pelo qual eu paguei cerca de US$ 300,00.

Talvez eu não tenha conseguido explicação para isso porque isso seja inexplicável. Talvez nem a Microsoft tenha uma explicação para isso, daí a cada seis meses inventar novos motivos para malhar o software livre, o último é falta de integração.

Usuários vindos do Windows apresentam dificuldades em lidar com o Linux porque tem vícios culturais terríveis. Assim como eu, muito bem aconchegado ao Linux, tenho dificuldades em ajudar um amigo que me liga às 23 horas perguntando como alterar o seu IP em um WindowsXP. Eu estou acostumado à cultura Linux o bastante para estranhar e achar difícil usar o Windows. Estou do outro lado da moeda.

Novatos que deparam-se pela primeira vez com um bash shell sentem o mesmo frio na barriga que senti anos atrás ao ler RAM 32Kbytes livres na tela de meu primeiro computador. Quando descobrem que um só comando pode instalar o programa desejado, sem erro e sem surpresas desagradáveis, uma grande dúvida aparece: porque falam que Linux é difícil? Quando descobrem que existe um programa gráfico onde basta buscar pelo nome que o programa desejado pode ser instalado com um único clique de mouse essa dúvida fica ainda mais evidente.

Nem o Windows nem o Linux estão prontos para o usuário leigo doméstico. Ambos exigem um certo aprendizado para serem usados. O aprendizado em um deles irá tornar o outro meio estranho, e a maioria das pessoas aprendeu em Windows, só isso. Com o acompanhamento adequado, de um amigo por exemplo, qualquer usuário pode gostar do Linux e habituar-se com sua maneira de fazer as coisas, basta querer. Distros como o Ubuntu ajudam muito, pois muitos usuários recém chegados do mundo o Windows terão possibilidade de sentir-se mais à vontade.

O Linux continuará amadurecendo nesse sentido. E cada vez mais os usuários estarão amadurecendo para entender e usar os computadores. Preste atenção em como as crianças estão aprendendo a usar essas maquininhas e como muitas delas estão aprendendo desde cedo com o Linux. E em breve não só o Linux estará pronto para o mercado doméstico, mas o mercado doméstico também estará pronto para o Linux, da mesma maneira que um dia eu também fiquei pronto para ele.

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sexta-feira, outubro 14, 2005

Quem erra também acerta

Eu costumo criticar o Dvorak porque acho que às vezes ele é superficial demais e por isso acaba fazendo alguns textos cuja utilidade real é questionável. Mas dessa vez vou dar a mão à palmatória pra ele. Em um artigo para a estadounidense PC Magazine ele fala sobre como o fato do Windows ser inseguro pode render rios de dinheiro à Microsoft. O artigo está em inglês.

Basicamente é algo que eu e meus amigos aqui do blog já haviamos discutido antes. O argumento é de que a Microsoft não tem interesse em desenvolver um sistema realmente seguro porque o software de segurança é uma mina de ouro. Se de uma hora pra outra o Windows tornar-se resistente à virus, vermes, cavalos de tróia e ataques gerais, enfim tornar-se um sistema mais seguro e confiável, o que McAfee, Symantec, Intel (que adquiriru o AVG) vão vender para seus clientes?

Mas Dvorak dessa vez acerta na mosca ao ir além e dizer que o olho grande da MS cresceu para esse mercado e que seus updates pagos e anti-spyware e anti-virus serão nada mais que uma nova fonte de renda para a gigante de Redmond. Enfim existem grandes empresas que beneficiam-se financeiramente do Windows ser um sistema inseguro e agora a MS também quer sua parte do bolo.

O texto fica bom quando Dvorak começa a questionar-se porque então a MS, em lugar de ficar alardeando o quão segura a próxima versão do Windows (Vista) será, não assume de uma vez que o sistema é frágil e que o registro é uma caixa de pandora e abaixa o preço do sistema operacional para assumir que sua maior renda virá mesmo da segurança extra que o sistema precisa.

Ele inclusive ajuda o pessoal do marketing da MS a bolar nomes e preços para as versões:

Vista – Não inicia Edition… $29.95
Vista – Pré-carregado com Vírus e Spyware Edition… $39.95
Vista – Limpo, mas use à seu próprio risco Edition… $49.95
Vista – Limpo com Firewall e atualizações semanais Edition… $200

E que tal esta: Vista - Funcional Edition...

Para completar a brincadeira Dvorak diz que vender o sistema com falhas para depois ganhar dinheiro vendendo "proteção" parece coisa de máfia, e pergunta-se se Frank Nitti é o atual CEO da Microsoft. É muito engraçado.

Mas eu lembrei de uma coisa com esse papo de máfia. Por acaso o ex-presidente do ITI, Sérgio Amadeu, já não havia dito que a política de vendas da Microsoft era muito semelhante à dos traficantes de drogas?

É... pelo jeito o crime organizado está fazendo escola lá pelos lados de Redmond.


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terça-feira, outubro 11, 2005

O Cell está cada vez mais próximo

Enquanto o consórcio STI (Sony Toshiba IBM) continua divulgando especificações do novo padrão Cell os primeiros movimentos comerciais para que a tecnologia chegue ao mercado começam a ser tomados.

Uma empresa chamada Mercury Computer Systems já anunciou em seu web-site que fechou um acordo com a IBM para lançar servidores blade com o novo processador assim que o mesmo estiver disponível. Ainda que o consórcio STI tenha deixado claro que o console PS3 será o primeiro equipamento a trazer o novo processador para o mercado parece que ainda em 2006 os primeiros servidores multiprocessados a usar a nova plataforma já estarão disponíveis para venda.

Processador Cell


Durante a CEATEX no Japão a Toshiba (que será a primeira empresa a disponibilizar kits de desenvolvimento para a plataforma) já havia apresentado seu Reference Set para a plataforma Cell. A máquina exibiu simultaneamente 48 vídeos MPEG2 (formato de DVD) com resoulção de 720x576 a 30 fps.

Toshiba Cell Reference Set

Esse reference set é uma máquina para servir aos desenvolvedores e integradores de sistemas como um exemplo do padrão a ser adotado. Algumas coisas interessantes podem ser notadas ao olhar para dentro da "caixinha".

Toshiba RS board

A primeira coisa que chama atenção são os módulos de memória, que são o mesmo padrão usado hoje em notebooks. Isto pode ser uma tentativa de tornar esse tipo de memória mais popular e assim diminuir seu preço final no mercado. Isso faria com que esse tipo de módulo de memória ficasse mais acessível em termos de custos, o que reduziria um pouco os preços de notebooks em geral. Ou pode significar que o Cell estará voltado apenas para o mercado de portáteis, e portanto o uso de memória convencional estaria descartado já no início.

Um outro detalhe chama a atenção. O processador não possui um dissipador tradicional e uma ventoínha. Ele está equipado com uma placa chata e dois tubos anexos, o que significa que o sistema de refrigeração padrão ou é um Peltier ou é refrigeração líquida.

Caso seja um Peltier então o uso dos módulos de memória de notebooks é devido à tentativa de economizar energia. Mas isso poderia prejudicar a entrada da plataforma no mercado de portáteis, pois os Peltiers são grandes usuários de eletricidade. Peltiers são dispositivos que fazem a condução do calor usando eletricidade, e para funcionarem precisam ser alimentados com corrente elétrica.

Caso seja um tipo de refrigeração líquida (que já é usada há muito em notebooks e vem sendo adotada nos últimos tempos por case-moders em máquinas desktop) esse Reference Set pode servir para parametrizar tanto a construção de máquinas portáteis como convencionais. E as memórias de portáteis foram usadas mesmo para buscar uma diminuição no custo final do equipamento.

De qualquer modo, isso indica que os sistemas Cell não devem ser refrigerados com o sistema tradicional (dissipador+ventoínha) por nenhum integrador que venha a disponibilizá-los no mercado. O sistema padrão de refrigeração do Cell já será diferente do sistema padrão do PC x86, conforme o kit de referência da Toshiba nos mostra.

Temos que esperar o lançamento do PS3 para verificar que tipo de refrigeração foi usada dentro dele, para ter certeza do que será usado em computadores assim que o Cell estiver sendo vendido como plataforma computacional de uso geral.

Devem surgir nas próximas semana outras parcerias de membros do STI com empresas do mercado para colocar o Cell em outros tipos de dispositivos e uma atenção à esse fato deve mostrar um pouco o rumo das estratégias de mercado que serão usadas para dar espaço à essa plataforma.

Até lá continuarei ansioso para descobrir o que mais essa plataforma poderá fazer.

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domingo, outubro 09, 2005

O mundo em um chaveiro

Parece até clichê, mas você já se perguntou como, em algum tempo, o mundo poderá estar na palma da sua mão? Ou no seu bolso?

Com a popularização de dispositivos para transporte de dados de tamanhos cada vez menores, como pen drives ou pequenos MP3 players com mini HDs, e sua consequente queda de preços poderemos experimentar, em algum tempo, um mundo onde tudo que você precisa estará em seu bolso, se o assunto for informática, claro.

E-mails ficarão cada vez maiores e os serviços gratuítos de hospedagem de dados podem ficar cada vez mais acessíveis e comuns. Pode ser que seja comum daqui pra frente que as pessoas tenham 2 ou 5 ou até 10GB para usar on-line como bem queiram. Em alguns poucos anos as conexões domésticas em países desenvolvidos estarão alcançando velocidades próximas das unidades leitoras de CD, e ter dados on-line não será tão diferente de tê-los em um backup em mídia ótica sobre sua estante.

Mas ainda que os serviços on-line consigam atingir esse índice de operabilidade e de capacidade, 5 ou mesmo 10GB parecem pouco para que nossas necessidades atuais de informática possam ser supridas, que dizer da futuras! Mas microdrives de 20GB cujas dimensões são inferiores às das caixas de fósforos já equipam muitos aparelhos de mídia digital, como players portáteis de música e filmadoras. Esses dispositivos podem trazer em breve capacidades de 80 ou 120GB à preços razoáveis e então você poderia ter todo (ou quase) o conteúdo dos seus HDs domésticos em um chaveiro, dentro de seu bolso.

Quando isto ocorrer, duas possibilidades poderão fazer sua cabeça.

Os dados com você e o mundo online
Nesse pequeno chaveiro você poderá guardar todos os seus documentos, fotos, músicas prediletas, filmes, enfim toda a mídia que você ache importante ou precise. Em trânsito, de férias ou a trabalho em um hotel, visitando amigos ou parentes em outras cidades, em uma convenção de desenvolvedores, você poderá acessar e compartilhar todas as suas informações quando precisar, pois elas estarão em sua mão. Pequenos microdrives ou pendrives sem fio podem nem precisar conectar-se fisicamente ao computador para serem acessados, vai depender apenas do quanto você confia em suas senhas ;-)

Se o hotel, centro de convenções, amigo ou primo não possuir o programa adequado para abrir os arquivos (sim isso ainda irá acontecer porque a Microsoft ainda estará usando o formato proprietário .doc para office ainda que jure acreditar no XML) não haverá problema. Você poderá executar on-line seu programa original e abrir os arquivos do mesmo jeito. Você poderia usar seu espaço de 10GB online para armazenar programas que possam ser executados com dados sob demanda, inclusive o seu sistema operacional ou desktop inteiro, sem problemas.

Seu desktop e dados trafegam com você para onde você quiser ou precisar deles. A noção de computador pode deixar de ser física já que você não precisará de uma caixa específica para usar seus programas com suas configurações e seus arquivos.

O mundo com você e os dados online
Se você precisa de programas muito específicos e pesados, ou se no país onde você mora suas conexões de rede ainda não são tão rápidas para que você rode todo um sistema sob demanda ainda há jeito. Se você conseguir desenvolver uma relação de confiança com o seu serviço de dados, pode usar aqueles 10GB para armazenar sua mídia pessoal online. Nesse caso você armazenaria seu sistema, desktop e programas em um pendrive ou microdrive e carregaria seu ambiente por aí, acessando seus dados pela internet sempre que necessário.

Como downloads apenas de pequenos documentos, arquivos ou streamings de audio e vídeo seriam necessários conexões de banda larga um pouco mais rápidas do que hoje seriam requeridas e você já poderia-se dizer um cidadão do mundo, acessando seu computador virtual onde quer que estivesse.

Potencial para o software livre
O software livre pode ser visto como o tipo de software mais próximo de realizar essa integração. Porque possui uma vocação natural para desenvolver, consolidar e adotar padrões abertos e amplamente definidos e aceitos. O software proprietário tem problemas para integrar-se verdadeiramente com a estrutura relativamente simplista de mobilidade existente hoje.

Imagine por um momento uma solução dessas sendo implantada em um sistema como o Windows. Provavelmente ela não funcionaria com um armazenamento virtual do Google, você deveria usar o armazenamento da Microsoft. Um quadro muito parecido com o das mensagens instantâneas atuais estaria pintado.

No entanto um serviço dessa categoria disponibilizado pelo Google seria facilmente implanatado em software livre. Os usuários de sistemas como o BSD e o Linux então poderiam levar seu sistema e desktop prediletos, bem como sua mídia, para qualquer lugar de maneira simples e rápida, transformando a mobilidade total em um serviço comum.

Para isso basta apenas que espaço virtual na internet torne-se acessível, que as conexões à internet tornem-se mais rápidas e baratas e que o preço dos dispositivos móveis de dados caia um pouco mais. Tudo isso pode acontecer em bem menos tempo do que esperamos e o software livre pode estar lá muito antes do proprietário. Simples assim ;-)

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sexta-feira, outubro 07, 2005

Revés para o Software Livre?

Saiu no linux-br a informação de que o Nessus deixará de ser software livre, ainda que continue sendo distribuído gratuitamente. O Nessus é um software para administração remota de redes, cuja principal função é varrer a rede em busca de vulnerabilidades.

O motivo para o fechamento do código seria o fato de que concorrentes da Tenable (a empresa criada para desenvolver o Nessus) estão usando seu código fonte para criar produtos que concorram com ela, sem contribuir com o desenvolvimento do software original. Ou seja, concorrentes do Nessus estão empacotando seu código-fonte e distribuindo-o ou vendendo-o sem ajudar no desenvolvimento do Nessus, pratica que poderia inviabilizar o negócio da Tenable. Ao fechar o código fonte e não mais distribuí-lo livremente a Tenable estaria protegendo seu investimento e seu negócio.

Mas até que ponto isso pode traduzir-se em um demérito para o modelo de software livre? Quantas outras empresas que fazem software livre ao redor do mundo podem acompanhar a Tenable nessa atitude? Que tipo de impacto isso pode causar na comunidade e nos negócios da Tenable?

O software livre enquanto modelo de negócios
Para empresas, especialmente para as médias e grandes, negócios são um conjunto de metodologias estabelecidas e aplicadas com a finalidade de gerar lucro. Não importa se a empresa fabrica sucos em pacotes ou eletrônicos de última geração você pode apostar que seus executivos terão uma visão muito similar dos negócios, de seus clientes, dos canais de distribuição e demais partes que formam seu modelo de negócios e seu mercado. Por isso não é difícil levar um executivo da Pepsi para a Apple, ou da Nabisco para a IBM e ainda assim ver as coisas acontecerem corretamente. Os executivos da indústria alimentícia vêem os negócios da mesma forma que seus colegas da indústria de tecnologia, por isso não importa muito o que você vende, mas sim como você vende e se consegue ganhar dinheiro com isso.

Partindo disso o software livre, que para mim pode ser um bom modelo de produzir programas e pessoas capacitadas para entendê-los, para uma grande empresa pode ser apenas um modelo para produzir software melhor ou mais barato. E que pode ser abandonado se deixar de ser viável, como parece ser o caso do Nessus.

No fim da década de 1990 a IBM era uma empresa que tinha diversos tipos de hardware e software em seu catálogo. Desde computadores pessoais, passando por servidores Intel, PowerPC até mainframes POWER constavam entre seus produtos. Para operar tudo isso a IBM tinha quase uma dezena de sistemas operacionais diferentes, desde o OS/2 Warp, OS/2 Warp Server, Windows NT, Windows 9x, OS/390, AIX cada um deles com uma equipe enorme de engenheiros, pessoal de markting, suporte e vendedores, um para cada área e perfil de cliente. Quando tentava vender uma solução para um possível cliente a IBM tentava identificar quais as necessidades dele e procurava dentro dessa extensa gama de produtos uma solução adequada para o negócio e tinha de fazê-lo buscando ter o maior lucro possível. Era um inferno! E a IBM percebeu que precisaria simplificar suas opções de soluções e sistemas, pois os clientes ficavam confusos com tantas combinações possíveis de sistemas e o custo disso estava diminuindo os lucros da Big Blue.

A IBM já havia falhado alguns anos antes ao buscar uma solução de sistema operacional que pudesse rodar em todo seu hardware e ainda assim manter a compatibilidade entre todos os produtos com um custo e um desempenho aceitáveis. E alguém lá dentro teve a brilhante idéia de sugerir Linux.

O Linux para a IBM foi a salvação da lavoura. Com um custo menor ela poderia ter um sistema que rodasse em toda a sua linha de equipamentos e que seria intercompatível, e era quase um UNIX! O desenvolvimento é feito por voluntários ao redor do mundo e seu custo por cópia pode chegar próximo a zero, é uma solução e tanto para uma empresa que fabrica tantos hardwares distintos.

Hoje o OS/2 Warp saiu de linha, entrou o Linux. O Windows continua aparecendo em catálogo, pois a IBM gasta muito pouco com sua manutenção. O OS/390 (ou sua atualização) continua em catálogo, para manter a compatibilidade com aplicações antigas, mas os AS/400 podem sair com Linux sem problemas. E os mainframes continuam com AIX, mas agora rodam centenas de cópias virtuais de Linux, uma para cada aplicação. Pode-se dizer que a IBM colocou o Linux em quase toda sua gama de hardware.

Por isso o software livre faz tanto sentido para IBM. Ela consegue agora colocar servidores rodando mil cópias de Linux, OpenOffice e Apache na casa do cliente, cobrando quase que apenas pelo hardware. Se fosse usar Windows, MSOffice e IIS ou OS/2, LotusOffice e IBM Web Server os custos bateriam nas nuvens. Para a IBM manter 100 ou 1.000 engenheiros de software trabalhando em tempo integral no kernel do Linux é um grande negócio. Isso fez o modelo de software livre ser algo tão rentável para a IBM.

Empresas como a Sun, a HP e outras perceberam isso e entraram no barco. É muito mais barato para a Sun usar Linux em seus servidores do que usar seu próprio sistema (Solaris) pois para a Sun o Linux custa muito menos para ser desenvolvido já que ela pode dividir os custos de desenvolvimento do Linux com todo mundo, até com a IBM.

E é por isso que o modelo de negócios dessas empresas é tão difícil de ser reproduzido por outras empresas. As grandes conseguiram uma vantagem inexistente antes do software livre aparecer. Conseguiram vender seus produtos com margens de lucro maiores e com soluções intercompatíveis por essência. Pois seu principal negócio não era Sistemas Operacionais, ou Suítes de Escritório ou Servidores Web, estes são apenas parte de um pacote maior. Seu principal negócio era hardware e soluções de negócios, onde o software tem papel crucial, mas não é o principal produto.

Um modelo não tão bom assim
Para a Oracle, por exemplo, o modelo Livre de criação de software já não é tão vantajoso. Como seu principal produto é o próprio software, ou soluções de dados onde o software é crucial, desenvolver software livre é uma faca de dois gumes. Você pode conseguir aproveitar boas idéias de desenvolvedores voluntários para fazer dinheiro, mas seu concorrente pode usar seu software para fazer dinheiro também, como no caso do Nessus que descrevi no começo do artigo.

Para a Microsoft é ainda pior. O mercado é muito dependente de Windows, principalmente o mercado doméstico. Mas há no mercado uma noção geral de que o Windows é um produto que poderia ser bem melhor. Se a Microsoft tornasse o WindowsXP um produto livre talvez pipocassem projetos para melhorá-lo ou modificá-lo de mil maneiras que a Microsoft jamais tenha pensado. Isso seria bom para os usuários, mas seria péssimo para o modelo de negócios da Microsoft, pois muitas empresas distribuiriam ou venderiam clones livres do Windows com aprimoramentos distintos e a Microsoft teria problemas em fazer seu próprio produto acompanhar o rítmo do mercado e provavelmente perderia a liderança. Nesse panorama imaginário o Windows original talvez fosse tão raro de ver em uso como são os UNIX hoje, que perderam boa parte de seu mercado para Linux e BSD.

Bom ou ruim?
Me parece então que o modelo de software livre funciona bem em certos casos, mas não tão bem em outros, do ponto de vista comercial dos negócios. Ele funciona bem quando:
-Seu principal produto não é o software em si, mas algo que dependa dele para ser competitivo. Nesse quadro seus custos de desenvolvimento podem ser bastante reduzidos com software livre;
-Você precisa de um software que não está disponível, ou que é caro demais para ser adquirido. O Linux não possuia um pacote à altura do MSOffice até que a Sun fez o StarOffice livre e nasceu o OpenOffice. Para este mercado o software livre é a melhor coisa que aconteceu, pois deu à comunidade a chance de desenvolver um produto para um mercado que era um beco sem saída;
-Você deseja desenvolver uma solução para seus clientes, mas não tem todo o material intelectual necessário disponível ou não pode bancar os custos de desenvolvimento sozinho. Um projeto livre pode atrair em escala global todos os interessados por aquela solução e ela pode ser desenvolvida gastando apenas uma fração do que seria gasto por sua empresa originalmente.

Mas em contrapartida o modelo livre pode ser de difícil aplicação em certos casos, como por exemplo:
-Você tem o software como principal produto em seu catálogo, e é lider de mercado nessa categoria de software. Nesse caso, liberar livremente o software pode ser apenas um meio rápido de fortalecer seus concorrentes, como no negócio de bancos de dados profissionais. Nem a Oracle nem a IBM abriram os códigos de seus bancos de dados, e o modelo livre foi usado para criar o MySQL, por exemplo. Se a Oracle abrisse livremente seu banco de dados, seria mais provável uma melhoria significativa no Oracle ou no MySQL?
-Você é lider de mercado de um segmento de software quase monopolista ou oligopolista. Citei o exemplo do Windows acima, então pensemos nos drivers para placas de vídeo 3D. Se a nVidia liberasse livremente seus drivers de vídeo 3D seria ela própria, a nVidia, a maior beneficiária ou a ATi teria grandes chances de melhorar seus drivers?

Ver o negócio de um jeito diferente
Fica a impressão de que para certos nichos do mercado o modelo de software livre ainda não está preparado o suficiente para ser usado. Isso pode ser verdade. Ou pode haver ainda um coelho escondido dentro de alguma cartola. Nos exemplos que citei onde o modelo livre poderia ser mais danoso que benéfico (que foram os exemplos que me passaram pela cabeça até agora, sugestões para uma discussão são bem vindas) talvez os grandes benefícios ainda não tenham surgido pela maneira tradicional pela qual as grandes empresas enxergam seus negócios.

Nenhuma empresa desenvolvedora de software propreitário vende o software. Elas licenciam o software, mas mantém a propriedade sobre ele. Porque elas encaram o software como o produto. O produto na verdade são as idéias que deram origem ao software.

Quando Larry Ellison trabalhava na IBM e ouviu o conceito de Bancos de Dados Relacionais pela primeira vez ficou convencido de que esse era o futuro dos Bancos de Dados. Depois de tentar implementar suas idéias por algum tempo, sem sucesso, saiu da IBM e fundou com alguns sócios a Oracle. A Oracle tornou-se a grande concorrente da IBM no mercado de bancos de dados. Se a IBM tivesse dado ouvidos a Larry e sua idéia maluca de bancos de dados relacionais talvez hoje a Oracle nem existisse.

Larry propagou o erro ao não dar ouvidos a Thomas Siebel quando este trabalhava na Oracle e viu nos sitemas CRM uma grande oportunidade. Siebel deixou a Oracle para fundar a Siebel Systems, agora comprada pela Oracle por 5,8 bilhões de dólares.

Esses casos mostram como as empresas perdem dinheiro por não saber aproveitar grandes idéias, que poderiam virar grandes softwares. O medo de perder mercado ou rentabilidade ao liberar livremente software é outra forma de propagar este mesmo erro. Porque bons softwares vêm de boas idéias. Uma equipe limitada de desenvolvedores tem bem menores chances estatísticas de ter grandes idéias do que uma equipe muito maior.

Se as empresas pudessem observar o software não como um produto, mas como um vetor para entregar boas idéias aos seus clientes a balança tenderia para o modelo livre. Claro que as portas estariam abertas para que os concorrentes colocassem as mãos em suas idéias, mas elas também estariam abertas para que boas idéias de terceiros, cujo salário não é pago por você, entrassem em seu código e tornassem seu produto ainda melhor. O mercado poderia fazer uma opção natural pela empresa que mantém as melhores idéias saindo do forno mais constantemente. Assim meus concorrentes, que usam meu código para concorrer contra meu produto, estariam em uma desvantagem natural, pois todas as boas idéias surgem em meu produto primeiro e depois são adaptadas nos concorrentes.

Mas e se as boas idéias dos terceiros (da comunidade) não chegam?
Ok, você pode dizer que no caso do Nessus a comunidade nãos contribuiu, ou contribuiu pouco nos últimos 6 anos, deixando apenas a parte ruim do parágrafo anterior para a Tenable. Seus concorrentes estavam apoderando-se de seu código e usando-o contra ela sem contribuir nada em troca, então qual a vantagem?

Sabe, isto pode ser mais fácil de resolver do que parece. Uma licença diferenciada, que permita a utilização por concorrentes apenas da versão anterior à atual do código fonte acaba com o problema dos concorrentes. Assim a versão mais atual do seu código, que supostamente inclui todas as mais novas idéias de sua equipe de desenvolvimento e da comunidade estariam presentes apenas no seu produto, e só na próxima geração de código apareceriam nos produtos concorrentes, exceto para aqueles que contribuem com o desenvolvimento ativamente.

Mas alguém poderia argumentar que isso deixa de ser código livre, pois limita o que pode ser feito com o programa. É verdade, deixa de ser software livre na essência do termo, mas ainda penso que isso seria melhor do que a proposta da Tenable de simplesmente fechar o código de uma vez, não é?

Por outro aspecto, seria justificável dizer que em software livre você perde um pouco (ou muito) do poder que você tem sobre seu próprio código fonte, já que qualquer um pode fazer o que quiser com ele. E que em sendo isso um aspecto natural do software livre, as empresas devem aprender a conviver com isso, concorrentes sempre irão pegar seu código e empacotá-lo por um preço menor, já que eles não arcam com os custos do desenvolvimento como você faz. Hum, não sei sei isso é um bom argumento para convencer mais empresas a adotar software livre.

Argumentos como o de agregar suporte ao software livre para poder manter a competitividade não significam muito agora, pois seus concorrentes podem continuar vendendo o software a preços mais baratos. Então talvez seja tempo de revisar com sua empresa está lidando com o conceito de software livre.

Parece que quando o software atinge um certo nível de maturidade seja natural que as contribuições da comunidade para ele diminuam. Que boa razão haveria para que usuários que estão satisfeitos com o programa continuem a alterá-lo? Talvez manter um cilo forte de renovação do software e de inclusão de novas características possa ser uma maneira de manter as contribuições da comunidade ativas. Talvez buscar firmar acordos de desenvolvimento com seus próprios concorrentes seja um caminho possível. Talvez ampliar sua própria linha de produtos e incluir seus produtos atuais em pacotes mais completos de soluções, que seus concorrentes que apenas usam seu código fonte não consigam vender, possa ser outro caminho viável. São muitos "talvez", não?

O negócio ideal
O problema parece residir no fato de que muitas empresas de software livre ainda pensem como empresas de software proprietário, e fiquem tentadas a agir como tal, caso da Tenable. Quando você trabalha com um produto proprietário a melhor situação de mercado é o monopólio. Você seria o único fornecedor, não importa a qualidade do seu produto ainda assim todos comprariam e você ainda poderia cobrar o que quisesse por ele.

O software livre parte da premissa que o software é uma ferramenta para disseminar conhecimento, e como tal seu código-fonte deve estar disponível para ser usado por todos, com cada um queira usar. Um negócio de software livre não deveria preocupar-se com marketshare ou sobre quanto lucro seus concorrentes estão tendo ao usar código-fonte livre. Deveria preocupar-se apenas com a qualidade de seu próprio código e se sua rentabilidade é positiva, e só. A Tenable diz que suas finanças estão bem, e que irá fechar seu código para privar seus concorrentes de usá-lo, apenas para não ter concorrentes. Me parece uma empresa que faz software livre, mas que pensa como uma empresa de software proprietário, que é o que ela venderá daqui pra frente, software proprietário.

O modelo de software livre para negócios é viável, desde que o modelo de pensamento da empresa esteja antenado com o software livre e com a comunidade. Essa falta de sintonia da Tenable entre seu modelo de negócios e a filosofia oculta por trás do software livre talvez seja a grande responsável pela falta de contribuição da comunidade ao seu código. Não dá para fazer uma coisa pensando em fazer outra, surgirão problemas cedo ou tarde, como esse exemplo mostra.

Existem algumas maneiras de tirar vantagem da situação de ser o provedor de código para seus próprios concorrentes, basta encontrá-las. Mas para isso é preciso estar pensando do jeito certo. Prova disso é a RedHat, uma empresa, com acionistas e conselho diretor, edificada ao modo tradicional de WallStreet, cujo principal produto, o RedHat Linux é talvez a distribuição mais clonada até hoje, e que mesmo com a concorrência com seu próprio código conseguiu tornar-se uma das grandes empresas de tecnologia de hoje. Se a RedHat o fez, o que impediria outros de fazê-lo? Como eu disse, a diferença está apenas nas boas idéias.

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quinta-feira, outubro 06, 2005

A natureza do kernel do FreeBSD

Em setembro falei sobre um artigo que visava comparar as plataformas PC e PPC enquanto servidores mas que acabou identificando algo muito curioso: o fraco desempenho do MacOSX enquando servidor. A melhor resposta para a performance ruim do Mac foi o uso de microkernel, um tipo de kernel sabidamente mais lento que o monokernel (kernel monolítico) que é a arquitetura usada no Linux.

O artigo causou alguma repercução e uma outra dúvida. Se o Mac é lento por ser um microkernel, porque então o FreeBSD, supostamente também um sistema microkernel não sofre do mesmo problema, tendo um desempenho muito próximo (e muitas vezes superior) ao do Linux? Aliás, as informações correntes dão conta de que o kernel do MacOSX teria sido inspirado no kernel do FreeBSD, então como o kernel pai poderia ser tão rápido e seu filho tão lento?

Essas perguntas me torturaram por algum tempo e a melhor resposta que consegui, sobre a qual comentei em um artigo posterior, ainda não me convencia. A idéia de que o MacOSX descendia de uma versão mais antiga, e supostamente lenta, do FreeBSD me parecia estranha, pois significaria que em pouco mais de 5 anos o pessoal do FreeBSD teria que ter descober um jeito de deixar os microkerneis muito rápidos, mas isso seria uma espécie de santo graal da ciência da computação. Teriam eles feito em 5 anos o que todo o resto do mundo tentara por quase duas décadas sem sucesso? Difícil de engolir.

Outra resposta possível era que o FreeBSD teria sua arquitetura baseada em uma evolução do conceito do microkernel Mach, o microkernel L4, que resolveu alguns dos problemas de desempenho do Mach violando alguns dos princípios básicos e elegantes do desenho microkernel, como entregando toda a verificação de permissões das mensagens para os servidores. Mas assim mesmo não havia um bom motivo para a Apple não beneficiar seu MacOSX com esse mesmo subterfúgio. Ainda assim não fazia sentido o MacOSX ser descendente direto do FreeBSD e ambos terem desempenhos tão distintos.

Para resolver esse dilema continuei buscando informações sobre o kernel do FreeBSD, mesmo que no blog o assunto já tenha sido encerrado. Eu simplesmente queria saber porque o FreeBSD, sendo microkernel, conseguiria sem tão ou mais rápido que um Linux monokernel quando todo o material sobre microkernel que eu encontrei sempre afirmou que microkerneis sempre são, no mínimo 5% mais lentos que seus equivalentes monokerneis.

Pra começar fui ao site do FreeBSD procurar informações sobre seu kernel. E você ficará espandado ao saber que no site do FreeBSD, se você procurar por "microkernel" na caixinha de busca a única página que retornará é uma que fala sobre projetos em desenvolvimento. Isso me despertou fortes suspeitas.

Como não consegui encontrar informações no site do FreeBSD, voltei-ma para o google. Ao buscar por "FreeBSD microkernel" obtive como resposta uma centena de resultados, muitos inúteis, mas alguns interessantes:
-Em uma lsita de desenvolvimento do FreeBSD essa pergunta é feita: O FreeBSD é microkernel ou monolítico? A resposta é clara: Monolítico. Veja você mesmo.
-Fui à página do FreeBSD na wikipedia, em inglês, e lá consta essa mesma informação: Kernel Type: Monolithic.
-Fui então à pagina sobre kernel da wikipedia, em inglês, onde são descritos os tipos de kernel e suas diferenças: monolítico, micro e nano. Na seção sobre microkernel alguns sistemas operacionais são citados como exemplo, e o FreeBSD não está entre eles, mas o MacOSX está.

Essas páginas e a ausência de qualquer informação sobre microkernel no site do FreeBSD levam à uma forte suspeita de que, ao contrário do que muita gente acredita, o FreeBSD é um sistema com kernel monolítico, e que portanto ele não foi a principal base para o MacOSX. Isso é uma suspeita, apenas. Mas no google eu não encontrei uma única referência à possibilidade do FreeBSD ser um sistema microkernel. Nenhuma mesmo.

Isso faz todo o sentido do mundo, pois explica todas as dúvidas que eu ainda não havia conseguido resolver dentro de minha cabeça. O FreeBSD ser monokernel explica perfeitamente porque seu desempenho é tão bom perto do Linux e do Windows. Explica porque o desempenho do MacOSX é tão ruim perto de Linux e FreeBSD, mas muito próximo do NeXTSTEP, enfim é a explicação mais sensata para todas as questão que haviam ficado penduradas.

Mas eu gostaria mesmo que houvesse uma fonte mais segura para isso do que apenas páginas da wikipedia e listas de discussões, ainda que elas sejam sobre FreeBSD e portanto feitas por quem provavelmente entenda e use FreeBSD. Gostaria que aqueles que tenham informações confiáveis sobre o assunto possam trazê-las à público para o esclarecimento geral sobre isso.

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Forças de Mercado - Os jogos vão chegar!

Em um post anterior aqui no blog eu expressei minha crença de que o GNU/Linux (e outras variantes livres do UNIX, como o BSD) irão ganhar um grande impulso quando mais jogos de nível profissional chegarem para essas plataformas. Com algum tempo e com o anúncio da iD software de lançar a próxima versão do Quake simultaneamente para Windows e GNU/Linux acredito que caiba um detalhamento um pouco maior do assunto.

Fatores que podem impulsionar os jogos em Unix-like
-O mercado de jogos para Windows pode ser visto como um mercado sobre-carregado. Centenas de empresas ao redor do mundo publicam jogos para Windows e a concorrência é enorme. Uma nova plataforma para publicação de títulos é um novo mercado a ser conquistado, e portanto uma boa opção de investimento. Software houses competentes podem criar jogos portáveis e com pouco esforço levar títulos criados para Windows a rodar em GNU/Linux nativamente ampliando sua gama de possíveis clientes.

-Uma grande empresa do ramo, como a iD Software, levando um título tão famoso, como o Quake, para a plataforma Linux irá estimular suas competidoras a fazerem o mesmo. Outras grandes, como a Eletronic Arts por exemplo, podem iniciar um esforço de levar outros bons títulos, como The Sims, para o Linux para não perderem vantagem competitiva em relação à iD Software. Estaria assim quebrado o círculo vicioso da necessidade de uma grande base de usuários para que as grandes empresas criem títulos para a plataforma. Elas o fariam para manter-se na vanguarda competitiva em relação à suas rivais, sendo então um grande atrativo para usuários que querem testar o Linux, mas não o fazem pela ausência de grandes títulos na área de jogos.

-Com a chegada de grandes títulos dos maiores desenvolvedores a base de usuários pode experimentar um crescimento maior, principalmnete no nicho doméstico, estimulando também grandes empresas de outras áreas a portarem software para a plataforma e iniciar um competição saudável com os softwares já existentes em GNU/Linux e BSDs. A qualidade geral dos softwares, tanto de Linux quando de Windows, melhoraria muito.

-O lançamento do Playstation 3 pode estimular grandes empresas a escrever software para o GNU/Linux. A máquina, baseada na tecnologia Cell, rodará uma versão de Linux como sistema operacional. Pode-se esperar que os softwares escritos para ela, como bibliotecas gráficas, kits de desenvolvimento e outros guardem alguma semelhança com seus equivalentes em Linux de PCs. Se isto for verdade, uma simples publicação do GDK da Sony do PS3 para GNU/Linux pode ser suficiente para que as grandes empresas de jogos possam portar seus programas para a plataforma Linux de maneira que eles possam ser rodados em PCs comuns. A Microsoft fez isso com seu XBox (que era nada mais que um PC modificado para parecer um console) e quase todos os títulos publicados para XBox podiam ser recompilados para rodar em Wintel e vice versa. Se o mesmo ocorrer com o Linux e o PS3 uma grande barreira ao desenvolvimento de jogos para Linux estará derrubada.

-O hardware Cell ao entrar no mercado de computadores facilitaria ainda mais a vida de todos. Com as intenções do consórcio desenvolvedor do Cell, que inclui IBM, Toshiba e Sony, de lançar hardware para computadores de mesa baseado nessa plataforma em 2007 um PC Cell estaria muito próximo (em termos de arquitetura interna) do PS3 o que diminuiria as modificações necessárias no GDK e nos jogos para que pudessem chegar aos computadores de mesa equipados com o novo hardware e Linux. Como a MS teria de reescrever seu sistema e SDKs para a nova plataforma todo mundo estaria partindo do mesmo lugar, com a vantagem da Sony já ter experiência com a plataforma, pois há 3 anos vem desenvolvendo para ela. Isso seria simplesmente mágico! Pois os jogos de PS3 estariam muito mais próximos dos novos computadores do que os jogos de XBox/Wintel, podendo ser lançados para Linux bem antes dos concorrentes.

-IBM, Toshiba e Sony, desenvolvedoras do Cell tem grandes intenções no Linux. A IBM achou no Linux uma maneira barata e inteligente de tornar seu hardware vendável. A Toshiba almeja o mercado de dispositivos eletrônicos domésticos, que precisam de sistemas embarcados, e o Linux é a opção mais viável, por ter código aberto e livre. A Sony já irá incluir o Linux em seu console e planeja também usá-lo como sistema embarcado em boa parte de sua gama de eletrônicos de consumo. Com tudo isso é fácil notar que o Cell foi desenvolvido tendo o Linux na mira. O consórcio têm publicado as especificações do novo hardware para as comunidades e desenvolvedores de software livre e é de se esperar que quando esse hardware atinja o mercado, no PS3 no primeiro semestre de 2006 e como computador pessoal em algum momento de 2007, o Linux seja o primeiro sistema a estar disponível para a plataforma. Os Early Adopters domésticos estarão então entrando em um mundo desenvolvido em Linux e usando Linux naturalmente. A entrada de jogos no mercado para esses computadores parece não só um movimento natural, mas algo que o consórcio STI sabe que deve ser feito para que a plataforma alcançe o sucesso esperado. A inércia do mercado deve cuidar do resto.

-Para as softwarehouses, entrar no mercado deve ser um movimento inteligente. Portar jogos para a dupla Cell/Linux irá colocar, com uma só tacada, seus produtos na próxima geração de computadores pessoais, na plataforma de consoles lider do mercado, e na plataforma operacional cujo crescimento deverá ser o maior do mercado em 2007. São 3 benefícios claros sobre os concorrentes com um único produto, o que deverá ser o grande marketing do mercado para a nova plataforma.

-O Windows e seus jogos devem demorar a chegar para a plataforma Cell. Não há notícia de que o consórcio STI (Sony Toshiba IBM) tenha liberado especificações ou proptótipos do Cell para a Microsoft. Ainda que a Microsoft ponha suas mãos nas especificações que estão tornando-se públicas agora e nos primeiros kits de desenvolvedores a serem lançados pela Toshiba no segundo semestre de 2006 e que o WindowsXP/Vista seja relativamente portável por conta de sua arquitetura com HAL (Hardware Abstraction Layer), alguns anos serão necessários até que a Microsoft esteja apta a lançar seu sistema e SDKs para o Cell. A comunidade livre e a Sony estão muito à frente nesse aspecto. Sendo a IBM hoje uma das grandes contribuintes do kernel Linux, é de se esperar que a STI já esteja com versões de Linux prontas para rodar em Cell. E esse código pode ser colocado à disposição da comunidade, provavelmente já bem funcional, assim que o Cell DK seja disponibilizado pela Toshiba, algo que deve acontecer ainda em 2006. Por conta de tudo isso jogos de PS3 rodando sobre Linux estarão disponíveis muito antes que a Microsoft consiga colocar no mercado uma versão do Windows para a plataforma.

-Computadores usando Cell disputarão mercado com os PCs tradicionais. Aí a razão da venda da divisão de PCs da IBM para a Lenovo, que ninguém havia entendido. A IBM não quer que dois produtos seus rivalizem o mercado, então vendeu seu comércio de PCs Intel antes de lançar o Cell. Se a nova plataforma cumprir suas promessas de desempenho e integração, não só o PS3 será um console com um poder nunca antes visto (batendo qualquer computador de mesa hoje) mas os computadores com tecnologia Cell também serão muito mais fortes que seus rivais x86. Se os preços forem acessíveis o bastante (e parece que serão) pode-se esperar que em pouco tempo boa parte do mercado doméstico de computadores de alto desempenho seja de máquinas Cell. Só que o mercado doméstico de alto desempenho (AMD 64 FX e Intel P4 EX) é quase que exclusivamente voltado para usuários game-maníacos. Então só faria sentido entrar nesse mercado com um sistema que pudesse rodar jogos de renome. Tendo isso como premissa, e vendo o quando o STI está investindo em Linux e em mercados de consumo, a direção natural aponta para uma plataforma de hardware muito competente, com preços acessíveis, usando Linux como sistema operacional e com vocação natural para jogos. Se tudo isso se concretizar em alguns anos teremos o Linux no centro da melhor plataforma para desenvolvimento e uso de jogos do mercado futuro.

-A tecnologia da Microsoft para os computadores e para os consoles está em fim de ciclo de vida. Estranho isto não? O Wintel chegou aos 64-bits agora, mas o Windows e a maioria esmagadora dos títulos do mercado ainda são 32-bit. Os últimos aprimoramentos da plataforma x86, como o Dual Core ainda não mostraram serviço, pela ausencia de software escrito para aproveitar o poder destes sistemas. Os jogos e o sistema operacional Windows precisarão de código muito específico e pouco portável para poder usar bem as características dos processadores mais novos, como as intruções 64bits e dos núcleos duplos, sendo portanto difíceis de serem levados para outras plataformas. Para complicar o quadro, o XBox 360 que está na boca do forno usa um processador IBM PowerPC de núcelo triplo (!!!!). Ou seja, a Microsoft precisou investir muito para escrever um Windows PPC para rodar no XBox360 e os jogos, se quiserem usar todo o potencial da plataforma deverão ser otimizados ao extremo para este hardware. Ficará difícil e caro levar jogos do XBox360 para o Wintel e vice versa. Do outro lado, com a dupla Cell e Linux (Cellinux?! Linuxell?! hehe) levar os jogos de PS3 para os computadores Cell será fácil, pois eles usarão o mesmo hardware e o mesmo sistema base.

Com essa pancada de argumentos, pode ser que em alguns anos (2 ou 3) o Linux torne-se uma boa plataforma de desenvolvimento de jogos e aplicações que precisam de muito poder de fogo, como CAD CAE e CAM. Os PCs Wintel podem acabar sendo reduzidos a soluções de menor custo e menor poder de fogo. Será uma questão de posicionamento de mercado e de preço, mas as perspectivas são boas.

Fatores que podem inibir o aparecimento de jogos em UNIX-like
-Por outro lado a Microsoft já deixou claro que irá sabotar o OpenGL na plataforma Windows. Isso fará com que o desempenho de softwares que usem a biblioteca livre seja pior que aqueles que usem a plataforma proprietária da Microsoft, o DirectX. Isso pode fazer com que as empresas de jogos optem por desenvolver seus títulos em DirectX somente, pelo fato de assim poder alcançar 95% do mercado doméstico de usuários com desempenhos satisfatórios em relação aos softwares concorrentes. Isso inibiria o mercado de jogos para Linux, pois desevolver para ambos os sistemas gráficos implica em um aumento de custos que pode não ser justificado pelo pequeno número de usuários de outras plataformas.

-A Microsoft, ao lançar primeiro no mercado seu XBox360 (previsto para Dezembro de 2005) pode conseguir um número elevado de contratos de exclusividade com desenvolvedores de jogos, impedindo que estes lancem títulos para o PS3 posteriormente. Isso é prática comum e muitas empresas de médio porte acabam assinando esses contratos para poderem financiar os custos de seus desenvolvimentos.

-O PS2 é uma plataforma difícil para se desenvolver, por sua complexidade devido aos melhores recursos técnicos. Na verdade como um XBox é apenas um PentiumIII, desenvolver jogos para este console é como desenvolver jogos para um PC normal rodando Windows. Para desenvolver para PS2, que é uma plataforma totalmente proprietária, é necessário muito investimento. A Sony reconheceu que isso afastou muitos desenvolvedores e diminui o número de lançamentos exclusivos para seu console nos últimos anos. Esses desenvolvedores podem não querer voltar agora, abrindo a possibilidade para que o XBox360, mesmo sendo um hardware teoricamente inferior ao Cell do PS3, tenha mais títulos de peso e exclusivos. No mercado de consoles é sabido que o número e fama de títulos é imperativo para o sucesso da plataforma. Abre-se então a possibilidade para que o PS3 não seja o lider de mercado que espera-se. Isso faria com que toda a estratégia do grupo STI tivesse que ser repensada e portanto transformaria tudo em uma grande incógnita.

-A Microsoft pode conseguir contornar bem os problemas de ter que lançar jogos para duas plataformas completamente distintias (XBox 360 e Wintel) e atrair os desenvolvedores com um sistema menos complexo do ponto de vista técnico, o que demandaria menos investimentos das empresas de jogos para criar títulos para suas plataformas. Como no Linux ainda haveriam duas versões de hardware (Cell e x86) podemos acabar vendo um cenário com poucas mudanças em relação ao panorama atual. Os jogos permaneceriam nas plataformas da Microsoft, e alguns bons títulos seriam levados ao PS3, mas no Linux com x86 nada mudaria. Isso seria a grande frustração de boa parte do mercado, mas é o cenário mais possível dadas as condições atuais. Devido ao grande poder de fogo do PS3 seu jogos talvez tenham grandes dificuldades de serem rodados em PCs x86, com Linux ou Windows. Isso traria pouco interesse para portar jogos para o Linux a não ser que o Cell chegasse rápido como solução para PCs e a custos baixos o bastante para permitir uma rápida penetração dessas máquinas no mercado doméstico.

Ou seja, como já aconteceu algumas vezes na história da informática, o futuro mais depende da habilidade comercial e do marketing das empresas do que de suas soluções técnicas propriamente ditas. Caso a Microsoft acerte-se bem com seus parceiros e o STI erre a mão podemos ver uma boa plataforma do ponto de vista técnico (Cell) ser suplantada em vendas e ter dificuldades de entrar no mercado doméstico.

Análise final
Se o consórcio STI conseguir promover suas soluções junto aos desenvolvedores de maneira adequada e acertar bem o posicionamento de seus produtos poderemos em breve ter uma grande revolução no mercado de jogos. O Linux associado à nova plataforma Cell irá mover o PS3 e seus jogos e isso pode ser a ponte para duas coisas almejadas pela STI:
(a) popularizar a plataforma Cell como uma solução de compuatção pessoal e embarcada;
(b) Ampliar a utilização de Software e Tecnologias Livres, notadamente Linux, nos ambientes de entretenimento e eletrônicos de comsumo.

Para a comunidade o resultado disso pode ser a agradável visão de um saudável mercado de jogos sendo disponibilizados para GNU/Linux, por conta da presença deste no centro das estratégias do consórcio STI. Vale notar que o GNU/Linux é uma espécie de jóia da coroa para o STI, pois as 3 empresas possuem em suas estratégias futuras de mercado duas necessidades em comum:
(a) a necessidade de uma plataforma de hardware poderosa e flexível, coberta pela plataforma Cell;
(b) a necessidade de um sistema operacional modular e flexível para operar esse hardware em diversos níveis, que é o Linux.

Assim a grande espectativa é que, assim como no PS3 da Sony, o Linux seja o sistema operacional de todas as aplicações do Cell inclusive a mais ambiciosa delas, que é tornar o Cell o hardware da próxima geração de computadores. Se os planos da STI concretizarem-se nos próximos anos veremos o Linux operar não só o console mais poderoso do mercado (PS3) ou uma nova geração de computadores, desde domésticos até servidores, mas toda e qualquer sorte de eletrônicos de consumo que necessitem de processamento, como TVs, aparelhos de DVD, geladeiras, telefones celulares, etc. Caso esta penetração ampla ocorra e seja mesmo movida pela dupla Cell/Linux nenhuma grande empresa irá querer ficar de fora. E as empresas que criam e produzem jogos também irão querer participação nesse cenário. Tornando o aparecimento de jogos para a plataforma Linux apenas uma questão de tempo.

Há ainda uma questão digna de nota! A IBM será a fornecedora de processadores para todos os membros da nova safra de consoles! O PPC rodará nos Nintendo Evolution e nos Microsoft XBox360 e o Cell rodará nos PS3. Parece-me então que a IBM (a única empresa a ter acesso a datas de lançamento e parâmetros técnicos de todas as plataformas) conseguiu uma posição privilegiada para analizar o mercado e planejar suas ações. Talvez por isso seu empenho em transformar o Cell em uma tecnologia de ampla utilização seja o esforço que mais poderá concretizar os resultados planejados. Se todos os planos da IBM concretizarem-se a contento ela não só estará fornecendo os processadores de todos so consoles do mercado mundial (ganhando dinheiro e saindo vencedora, não importa que desfecho venha ocorrer) mas também será uma das desenvolvedoras da próxima geração de computadores e de dispositivos para eletrônicos de consumo, mostrando ao mercado sua capacidade de criar tecnologia e implantá-la. Como é sabido que a IBM tem grandes planos para o Linux podemos esperar que a batalha entre o sistema do pingüim e o Windows torne-se ainda mais forte e acirrada nos próximos anos.

É esperar pra ver.

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segunda-feira, outubro 03, 2005

Um notebook que vale mais que US$100,00

Entra na reta final o projeto do MIT de criar um dispositivo portátil com um preço de aproximadamente US$ 100,00. Ele não será comercializado para o público geral, mas sim vendido diretamente aos Ministérios de Educação de países sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento, para que seja entregue à crianças em idade escolar fundamental. O ambicioso objetivo é fornecer uma unidade à cada criança para que ela possa usá-lo na escola e levá-lo para casa tornando o uso de computadores e a convivência com a tecnologia uma realidade. O que isso tem a ver comigo ou com você?

Um computador para cada criança
Nicholas Negroponte, fundador e presidente do Media Lab do MIT, responsável pelo projeto, almeja que os governos de países como China, India e Brasil, entre outros, comprem milhões de unidades dessas máquinas e forneçam uma delas à cada criança do ensino fundamental. Esse é o primeiro ponto onde eu e você entramos nessa brincadeira, pois é o dinheiro dos nossos impostos que será usado para comprar notebooks baratos para essas crianças.

Alguém poderia pensar então que se comprar um notebook de um revendedor legal estará pagando uma boa parte desse preço na forma de impostos. Esses impostos estariam sendo usados para comprar pequenos notebooks para crianças, que os receberiam gratuitamente e que portanto haveria uma certa injustiça implícita nesse processo. Que se o governo deseja mesmo democratizar a tecnologia deveria reduzir ou anular os impostos sobre computadores de uma forma mais homogênia no mercado. E esse pensamento seria um erro.

Quem acompanha meu blog com alguma freqüência já deve ter percebido que considero o computador a ferramenta fundamental da sociedade moderna. Computadores são como garfos ou lápis, indispensáveis para que possamos ser cidadãos. Saber usar um computador é requesito fundamental, ou será em breve, para que qualquer pessoa possa exercer seus direitos básicos de acesso à informação, liberdade de expressão e pensamento e direito à auto-determinação. Portanto nosso papel enquanto membros da sociedade é colaborar para que cada cidadão possa ter acesso a um computador e ao conhecimento necessário para poder usá-lo da melhor forma possível.

Começar com as crianças é um ótimo preceito. As crianças são naturalmente ávidas por experiências novas e aprendem com uma facilidade incrível. Tenho certeza que apenas alguns dias à frente de uma dessas máquinas será suficiente para que grande parte das crianças já use-as com maestria e naturalidade. Como é lógico que a maioria absoluta das crianças jamais teria condições de ter acesso à uma máquina como essas sem a intervenção do governo então estaremos fazendo o certo e o justo ao custear esses pequenos notebooks para as crianças.

Como construir um notebook de US$100,00
Se você não percebeu US$100,00 é mais ou menos o salário mínimo brasileiro hoje. Como construir uma máquina tão barata para fornecer uma à cada criança pode ser possível? Segundo o MIT a enorme quantidade de unidades a serem fabricadas conseguiu reduzir o preço unitário de cada componente à níveis realistas para atingir as metas do projeto. Mas ainda faltava uma coisa. O software dessas maquininhas.

Software é algo engraçado. É o único produto (que eu consiga pensar agora) de nossa sociedade que é ilimitado e infinito. Coloque um software em uma máquina e ele rodará a uma velocidade. Coloque o mesmo software em uma máquina mais rápida e ele rodará mais rápido. As capacidades de um software, diferente do hardware, são dependentes de fatores ligados à limitações externas. Em teoria um software poderia rodar para sempre, sem nunca precisar de reparos ou melhorias, desde que fosse bem escrito o suficiente.

E software é reaproveitável, reciclável a um custo muito baixo. Se eu vou escrever um software novo posso aproveitar software da geração anterior, ou de outras pessoas ou empresas e este processo me custaria uma fração apenas do que custaria desenvolver tudo do zero. Isso tudo me leva a crer que o software deveria tornar-se cada vez mais barato, mas não é isso que ocorre normalmente.

O software hoje é uma parcela muito cara de qualquer sistema computacional. Em parte porque o material humano necessário para produzir software é altamente especializado. Assim parece ser uma trajetória natural do mercado que os preços de softwares acompanhem uma linha ascendente, como podemos verificar que muitos produtos fazem hoje. Isso é normal para o modelo de produção de software em uso, que é uma adaptação do modelo de produção de qualquer outra coisa industrializada. As fábricas de software e os desenvolvedores de software ainda utilizam um modelo de manufatura onde cada membro ou grupo vai criando uma parte para adaptar-se à imagem desejada de produto final. O somatório dos custos de todas as partes é o custo final de desenvolvimento do software e que deve ser pago pelos clientes para que a empresa continue saudável.

Partindo desse preceito não poderíamos afirmar que uma cópia do Windows, por exemplo, talvez o software mais popular e onipresente no mercado doméstico hoje, é cara demais porque custa US$350,00 ou algo perto disso. Ao menos não poderíamos afirmar isso mais do que deveríamos afirmar que automóveis são caros demais. E automóveis são cerca de 3000 peças montadas juntas e entregues com garantia por quantias a partir de US$7.000,00 no Brasil. Não me parece que automóveis sejam tão caros assim. Enfim, a Microsoft cobra por seus sistemas o quanto acha justo, os clientes decidem se esse valor é razoável, e muitos clientes pensam que é, e compram o sistema.

Mas se um sistema operacional convencional, como o WindowsXP, custa US$350,00 como construir um computador de US$100,00? Sob certa ótica, desenvolver um sistema operacional para 1 máquina ou para 30 milhões de máquinas custaria a mesma coisa, desde que os produtos finais pertencessem à mesma categoria. A lei de massificação diria que quanto mais cópias você pudesse vender, menor poderia ser seu preço individual, pois por um número maior de clientes você poderia distribuir seus custos de produção e seu lucro desejado. Tomando isso como verdade eu poderia, a grosso modo, sugerir que o Windows é então o sistema operacional com o menor custo de desenvolvimento por unidade do mercado, já que ele é o sistema mais vendido. E que portanto seu preço de venda poderia ser o menor possível dentre os sistemas de sua categoria. É administração básica tudo isso.

Então voltando à pergunta deste item: Como fazer um computador de US$100,00 se o sistema operacional mais barato do mercado custa US$350,00?

O modelo livre
Realmente um beco sem saída estaria criado se um novo modelo de produção não tivesse nascido, ainda na década de 1980. O modelo de produção de software livre. Nesse modelo várias empresas e grupos de pessoas ao redor do mundo dividem entre si os custos de produção e criação do software. Pulverizando esses custos sobre um número muito maior de indivíduos notamos que o custo individual de desenvolvimento para cada um deles é bem pequeno. Ainda que o montante total, que seria a somatória de cada um desses custos, seja muito parecido com o do modelo proprietário. Isso mesmo, desenvolver um Ubuntu Linux custa quase a mesma coisa que desenvolver um WindowsXP. A diferença é que o custo que ficou com a Ubuntu é muito menor que o custo que ficou com a Microsoft porque aquela desenvolveu de fato apenas uma pequena parte do produto que ela vende com seu nome. Enquanto a Microsoft deve arcar e amortizar posteriormente 100% dos custos de desenvolvimento de cada versão de seu sistema (ou algo perto disso) cada empacotador e distribuidor de GNU/Linux arca com uma fração muito menor da tarefa.

O resultado prático disso é que cada distribuidor ou empacotador de Linux, ou qualquer outro software livre, só precisa cobrar o suficiente para cobrir uma pequena parte dos custos de produção de software e seus lucros fazendo com que sistemas operacionais livres ou de código aberto como o GNU/Linux e o FreeBSD possam ser vendidos por valores muito menores que podem chegar a zero.

Dar um sistema como o Mandriva 2006 de graça é possível porque talvez os custos e a expectativa de lucros da sua fornecedora já tenham sido cobertos por contratos empresariais, doações ou venda de outros produtos como suporte técnico e etc. Matematicamente conseguimos produzir um sistema gastando milhões de dólares e fornecê-lo para certos clientes como um brinde.

Isso não prova que a Microsoft cobra demais por seus produtos, ela continua tendo salários para pagar e custos para honrar. Mas mostra que o antiquado modelo de produção de software proprietário, que ainda é baseado em um sistema de produção do século RETRASADO, pode estar mostrando sinais de cansaço. IBM, HP, RedHat, Oracle, Sun, Apple, perceberam isso e decidiram migrar alguns de seus produtos para esse novo modelo de produção, com resultados muito bons. A Microsoft ainda agarra-se ao modelo antigo porque ele é mais rentável, por enquanto, mas não espantem-se se ela começar a produzir software livre ainda nesta década. Isso ocorrerá se ela achar que poderá fazer mais dinheiro dessa forma, pois negócios são negócios.

Colocando o sistema operacional e mais no computador de US$100,00
Como um novo modelo de negócios conseguiu produzir software bem mais barato, muitas vezes tão barato que é de graça, a idéia de um computador tão barato pode ser executada. O computador para crianças de US$100,00 do MIT usará GNU/Linux e terá um pacote de escritório para que as crianças aprendam a editar textos, apresentações e usar planilhas de cálculo. Terá até um pequeno banco de bados incluso no pacote, além de muitas outras coisas, como um compilador de C/C++ que já vem de nascença com o GNU/Linux.

Não só seria impossível construir uma máquina por esse preço usando software da Microsoft, ou de qualquer outro fornecedor proprietário, como isso também poderia inviabilizar todo o modelo de negócios da empresa que tentasse fazê-lo. A única excessão seria talvez a Palm, com seus handhelds, mas vou excluí-los da comparação pois seus sistemas operacionais tem pouca similaridade com os sistemas dos computadores "normais".

Veja, se a Microsoft (sempre ela porque ela faz o Windows, tá bem?) tentasse produzir junto com algum fornecedor de hardware um produto como esse do MIT ela enfrentaria sérios problemas frente à seus clientes tradicionais. Eles questionariam-se como ela baixara tanto o preço de uma cópia de Windows e uma cópia de Office, ao ponto de junto do hardware eles custarem US$100,00, enquanto suas vesões normais juntas chegariam perto dos US$1.000,00 (apenas software!). Para evitar o embaraço de ter de explicar à uma rede bancária porque eles devem pagar 10 vezes mais pelo mesmo produto, ou de adminitr que seu custo não é tão alto como ela vem atestando há décadas diferenças notáveis entre os produtos deveriam sem implementadas.

Essa é a razão pela qual o Windows Starter Edition é tão limitado (podendo abrir apenas 3 programas ao mesmo tempo) para justificar sua diferença de preço e para não canibalizar o mercado do WindowsXP. Se ambos pudessem fazer o mesmo e um custasse 1/3 do outro, quem compraria o XP? Fazer um Windows e um Office que custem US$20,00 ou US$30,00 é inviável para a Microsoft. Ou seriam produtos tão limitados que teriam pouca ou nenhuma utilidade, ou tirariam seus irmãos maiores e mais caros do mercado.

Chegamos à um problema cuja solução elimina a participação do software propritário e sua acumulação pontual de custos. Produzir máquinas extremamente baratas para mercados pobres e crianças carentes cuja finalidade é educacional exige software desenvolvido sob o modelo livre. Essa é a razão pela qual o GNU/Linux e o OpenOffice adequam-se perfeitamente para a questão.

Bons efeitos colaterais
Com tudo isso e a opção por softwares livre do MIT colocaremos (se tudo der certo e a classe política corporativista brasileira permitir) nas mãos de nossas crianças maquinas básicas e limitadas, sim, mas que servirão ao propósito educacional satisfatóriamente. Rodando software livre, com o GNU/Linux como sistema operacional. As crianças terão a oportunidade de explorar um software desenvolvido sob um modelo igualitário por natureza e, o melhor de tudo, que tem as portas abertas e um convite sorridente para que elas entendam como funciona, por dentro e por fora. E mais: o modelo colaborativo da comunidade do software livre é a tradução tecnológica do que tentamos ensinar para as crianças desde cedo. Queremos que nossas crianças tornem-se pessoas isentas do egoísmo e do pensamento individual puro. Queremos que elas aprendam a dividir seus brinquedos, livros e experiências. Software livre é isso, dividir conhecimentos, brinquedos e softwares. O modelo proprietário, onde se você emprestar ou der algo que achou genial à alguém te sujeita a ir para a cadeia ensina, em sua essência, que dividir é ruim. Ensinar as crianças sobre o software livre é expandir para o campo tecnológico os conceitos naturais de viver em sociedade com pessoas que são consideras amigas.

Podemos dar à milhões de crianças que estariam excluídas da tecnologia a oportunidade de acessá-la e de aprendê-la na íntegra. As crianças não só aprenderão como usar um computador, mas poderão também aprender como ele funciona, como o software funciona e como desenvolver programas para esse software funcional, se bem orientadas e instigadas. Estaremos transformando, do dia pra noite, uma geração de excluídos ou de meros usuários em potenciais expertos em hardware e software, engenheiros, médicos, advogados, dentistas ou o que quer que elas queiram ser. E estaremos mostrando à elas na prática que quando o assunto é tecnologia dividir e passar à frente o que se tem é muito bom e é, aliás, a maneira mais eficaz de fazer as coisas melhores. Estaremos ensinando como o trabalho em equipe é importante e como coisas impressionantes podem ser alcançadas quando todos trocam informações irrestritas sobre tudo. Estaremos mostrando que nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos. Tiraremos essas palavras de letras bonitas em uma parede e transformaremos isso em uma experiência palpável para todos.

Aí reside o poder fundamental do software livre, enquanto modelo de distribuição de software. Além de poder escolher que software usar o usuário pode escolher sair da posição de simples usuário para a posição de desenvolvedor, pois há material para isso. No software proprietário a manutenção de castas é uma realidade. Uma pessoa só se tornará um desenvolvedor se tiver dinheiro para bancar os custos de cursos, programas e certificações, ou se ela tornar-se uma criminosa, pirateando software de desenvolvimento. Mas ainda assim ela nunca verá o código fonte do sistema operacional ou do pacote de escritório e por mais que ela aprenda, muitas coisas ainda estarão invisíveis e intocáveis.

O efeito colateral número dois é que quando essas crianças crescerem estarão habituadas e íntimas de computadores, compiladores, códigos, e tudo mais que uma distribuição de GNU/Linux ou de BSD fornece naturalmente (a até exige em certo nível). Assim quando elas vierem pedir empregos já saberão como operar computadores, pois aprenderam a fazer isso com 7 ou 8 anos. Isso significa que haverá menos perda de tempo e dinheiro com treinamentos ou operações mal executadas, enfim toda a sociedade se beneficiará disso. Em outro nível aqueles que, dentre essas crianças treinadas desde cedo com computadores, decidirem que não querem empregos, mas sim serem profissionais liberais, autônomos ou empresários, estarão mais aptos a lidarem com a tecnologia e portanto aproveitarão-se melhor das virtudes tecnológicas de seus negócios. Temos a chance única de preparar toda uma geração de profissionais melhores e de cidadãos melhores e mais concientes de seu papel. E que entenderão e acreditarão no poder da união e do compartilhamento de informações.

O terceiro efeito colateral, e talvez o mais forte e positivo de todos eles, será o fato de que essas crianças, ao crescerem e entenderem a oportunidade que lhes foi dada irão olhar para as crianças de amanhã, essas mesmo que ainda nem nasceram, e entender que devem fazer por elas a mesma coisa, ou algo ainda melhor.

Em todos os aspectos temos a oportunidade de criar uma corrente do bem tecnológica e dar a todos os futuros cidadãos brasileiros a chance de mudarem de casta tecnológica, por permitir que eles aprendam a entender-se com os computadores desde cedo. Isso afeta você e eu.

Um investimento no futuro
Por isso gostaria de pedir algo a todos. Mostrem-se favoráveis à adoção de Um Computador para Cada Criança em nossas escolas. Digam à sociedade leiga e ao governo o quão importante será para nosso país e para todos nós que os computadores de US$100,00 do MIT sejam comprados e dados às crianças. Conversem com todos e até mesmo com seus vereadores, deputados estaduais e federais e senadores. Enviem e-mails à eles. Mobilizem a diretoria das escolas de seu bairro para que façam o mesmo para que esta idéia possa tornar-se realidade.

Encarem a compra dessas máquinas não como um gasto, mas como um investimento que estamos fazendo nas pessoas que serão os cidadãos do futuro. Todos irão beneficiar-se dessa iniciativa.

O terceiro efeito colateral
Ficou em separado, pois é mais forte que os outros. Há algum tempo li um colunista de uma revista semanal dizer que quando ele foi assaltado em um semáforo isso só ocorreu porque ele nunca havia subido ao morro para ensinar nada às crianças. A sociedade prepara o crime, o criminoso apenas o comete, frase da sorte do dia do Orkut. Veja como a sabedoria pode estar nos lugares mais improváveis às vezes.

A falta de perspectiva de vida pode ser fator crucial para que uma criança ou jovem decida ingressar pelos caminhos do crime. A fome é o esperma que jorra por entre as pernas da violência, essa eu acho que ouvi em uma música do Rapa. Se cada um de nós fosse à uma comunidade carente ensinar algo, de vez em quando. Talvez as pessoas dessas comunidades pudessem sentir-se menos excluídas e talvez pudéssemos todos estabelecer uma relação de harmonia, em vez de medo.

Teremos um referendo para decidir se armas e munições devem ter venda proibida. Votarei sim, porque acho que o caminho para uma sociedade evoluída passa por uma sociedade sem armas, sem instrumentos criados para destruir as vidas de outros. É essa sociedade que eu quero. Sem armas nas ruas e com crianças com computadores nas mãos. Tenho a oportunidade de pedir aos governantes essas duas coisas agora. Sou uma pessoa de sorte.

Dar às crianças oportunidades, perspectivas, acesso ao conhecimento e à um futuro melhor é o grande mérito do software livre. E sem software livre seria impossível um computador portátil de US$100,00.

Exame de Conciência
Por favor, reflita sobre tudo que eu disse hoje. Escreva pra mim para concordar ou discordar. Mas faça melhor que isso: emita sua opinião! Diga à todos que você conhece que tipo de oportunidade temos hoje. Peça aos governantes que tirem as armas das mãos das crianças e coloquem nelas computadores. Assim eu e você estaremos fazendo a nossa parte para uma sociedade mais justa e igualitária e com certeza bem melhor!

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sábado, outubro 01, 2005

Que legal!

Eu estava passeando pelo blog do TaQ e vi o post sobre o artigo do Ricardo Bánffy no Web Insider onde este discute sua experiência com o Ubuntu Linux. Artigo muito interessante aliás, que retrata de maneira curiosa a imensidão de motivos que poderiam levar alguém a querer jogar o Windows pela janela e arriscar-se com o GNU/Linux.

Acabei caindo no blog da Simone Villas Boas em um artigo chamado 10 coisas que aprendi usando Linux que é a melhor visão de uma marinheira de primeira viagem que já li até agora. Ela descreve de maneira muito simples, mas convincente e bacana, o que ela descobriu e o que ela percebeu que já sabia sobre o estranho mundo do Software Livre.

Vale a pena curtir essas opiniões descompromissadas e não-técnicas sobre as virtudes do Ubuntu e do Software Livre.

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