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sexta-feira, setembro 30, 2005

Mudança de rumo

Sabe, falei no último artigo sobre como a Microsoft vem mudando seu marketing anti-SL ao longo do tempo. E uma noticia que li (sobre a qual falarei adiante) me fez pensar sobre algumas coisas. Vamos à elas.

Argumentos microsoftnianos contra o SL em ordem cronológica:
- SL é produto de hobby de pessoas em suas horas vagas;
- SL não deve ser levado à sério;
- SL é ruim;
- SL até que é bom, mas é muito caro;
- SL é ilegal e viola patentes (via SCO);
- SL é bom e nem tão caro, mas tem TCO maior ao longo do tempo;
- SL é bom e é mais barato, mas tem TCO maior ao longo do tempo;
- SL é bom, mais barato e até pode ter TCO mais baixo, mas não consegue integrar-se para ser uma solução completa.

Foi mais ou menos essa a tragetória de publicidade da Microsoft em relação ao SL na ultima década. Além das contradições óbvias em relação às campanhas anteriores (por que como disse a Red Hat, a verdade acontece) essa última chamou-me a atenção por um ítem especial: sua deslavada cara de pau!

Todas as campanhas anti-SL da MS até agora não foram honestas, nem com o SL nem com os consumidores, mas tudo bem, marketing sujo é, e sempre foi, com ela mesmo. Mas dizer que SL não é integrável, ela a Rainha dos Formatos Proprietários e Incompatíveis, é soda como poderia dizer Fócrates ;-)

Eu já mudei de versão de OpenOffice 3 vezes e os arquivos de um sempre abrem no outro. Nunca consegui mudar de versão de MS Word 3 vezes e usar os mesmos documentos. Sempre tive que convertê-los e editar as discrepâncias que apareciam.

Assim, uma empresa usa Word 7. Um departamento adquire licenças do Word XP e começa a produzir documentos .doc nesse formato. O resto da empresa fica sem ler os documentos daquele departamento. Isso é uma solução integrada? Seria se a Microsoft, ao usar seu direito de melhorar um padrão e incluir novos recursos ampliasse esse direito aos clientes fornecendo um patch para as versões anteriores de seus próprios programas para que abrissem arquivos das versões mais novas. Mas daí como ela venderia o software novo para todo o mercado? As novas versões de MSWord deveriam vender pelo que elas possam agregar de recursos e de valor ao trabalho de seus usuários. Não deveriam vender apenas porque o formato de arquivo mudou.

Quando o Windows Media Player foi da versão 6 para a 7 era normal, para os usuários da versão mais antiga que alguns vídeos não pudessem ser abertos pois estavam em um novo formato. Falta de integração é prache na Microsoft.

A Microsoft tentou inclusive criar sua própria versão de Java (que só rodaria em sistemas Windows, o J#) mas foi impedida judicialmente de fazê-lo e obrigada a seguir os padrões originais da linguagem da Sun. Web sites desenvolvidos para os padrões do IE não abrem ou apresentam erros de formatação em todos os outros navegadores desrespeitando normas e padrões aprovados pelo W3C. Mas um site feito à risca para o W3C abre de maneira quase normal em IE, mostrando que este navegador tem um nível aceitável de compatibilidade com os padrões estabelecidos e provando que a MS não os adota por pura falta de vontade. Ou por estratégia de marketing.

E querer implementar ActiveX e .NET como padrão para Webservices, enquanto diz que o XML é a oitava maravilha do mundo em um jogo macabro de "vamos fazer tudo em XML para ser compatível, mas a visualização e tratamento serão feitos sob C# e VB".

Enquanto as organizações responsáveis por estabelecer normas e padrões de comunicação tentam estabelecer padrões abertos e intercambiáveis a MS sempre está tentando emplacar um formato que só ela usa (por ter sido a criadora do mesmo) e com a maior cara de pau do mundo Steve Ballmer fala que "SL é bom, mas o problema é ser muito difícil de integrar".

Software livre vai tentar usar padrões livres, até por questão de ética. Mas enquanto isso a Microsoft vende o software mais usado do mundo para edição de textos que usa um padrão de documento que nehum outro programa do mundo usa. É um formato tão proprietário que se outro programa da MS quiser abrir um .doc precisa abrir o MSWord primeiro. Nem outros programas da MS usam ou lêem esse formato, só o MSWord.

Enquanto que o .sxw do OpenOffice pode até ser editado com um editor de texto puro como o VI ou o EMACS pois é apenas XML comprimido.

Quem não é integrável nessa história toda, o SL OpenOffice ou o MSWord? o padrão de documentos do OpenOffice é aberto e documentado permitindo que as informações guardadas nestes formatos possam ser lidas por qualquer programa em qualquer ambiente.

Quando você instala um Windows, precisa sair instalando centenas de programas de terceiros para poder fazer algo de útil com o computador. Out-of-the-box um Windows nem navegar na web pode, pois sem acertar o firewall e instalar um anti-virus de terceiros o risco é muito alto. Ao ser instalado um GNU/Linux ou um BSD vem recheado de programas e você pode sair fazendo tudo que é preciso (ao menos para uma casa ou pequeno escritório) logo após instalar o sistema.

Saindo da caixa um GNU/Linux ou BSD pode ser um web-server ou banco de dados em poucos minutos. Um Windows precisa de algumas horas. Quem não é integravel? Você pode administrar e operar várias máquinas UNIX de seu próprio terminal, sem precisar de software de terceiros. Com o Windows isso é impossível. Apenas porque os UNIX e seus likes usam um padrão documentado, amplamente portável e intercompatível chamado OpenSSH (Open Secure Shell) que vem configurado e instalado junto com o sistema operacional. O Windows precisa de softwares de terceiros para atingir esse mesmo nível de funcionalidade dentro de uma rede. Novidade pra você: é preciso trabalho duro e softwares adicionais para tornar dois WindowsXP idênticos integráveis em uma rede. Algo muito natural para o Linux ou o BSD, que segundo a Microsoft são pouco integráveis.

Dick Vigarista, Mutley e sua turma continuam batendo nas mesmas teclas. Apregoando inverdades que eles mesmos irão desdizer depois numa reprodução fiel do lema publicitário nazista: Minta! Minta que alguma coisa ficará!

Agora a MS levará seu primeiro padrão de maneira oficial para o GNU/Linux, o InterVideo for Windows Media será portado para GNU/Linux. E pessoalmente eu acho isso horrível.

Assim como o Mono permite que padrões proprietários da Microsoft possam ser adotados também por outras plataformas além do Windows permitir que usuários Linux (que são uma fatia crescente no mercado) possam receber streaming pela web de formatos de vídeo proprietários da MS (ou outras empresas) não é um avanço para a comunidade de software livre. Sim um retrocesso enorme! Pois tiram o espaço e a visibilidade de padrões abertos e capazes de serem amplamente portáveis e integráveis.

Adotar padrões proprietários de audio, vídeo, web, documentos ou qualquer outra coisa nos afasta do santo graal da informática: a premissa de que qualquer usuário possa abrir qualquer tipo de dado independente do programa, sistema, ou plataforma que use. Apenas essa liberdade (de acesso à dados independente de plataforma) completa o real objetivo do software livre por permitir que que cada um escolha o programa ou produto que vai usar por seus méritos e não apenas porque ele é o que todo mundo usa.

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quinta-feira, setembro 29, 2005

O software já vem incompleto!

Pense sinceramente sobre uma coisa: O prédio onde você tem um apartamento (para o qual você trabalhou muito para juntar dinheiro) desaba, do dia para noite, como já aconteceu antes (Palace 2, é isso?). De um minuto para o outro você perdeu não só sua casa, mas anos de sua vida, trabalhando para ter aquele dinheiro. Perdeu todos os fins de semana quando abriu mão de ir ao parque com sua namorada e ficou terminando relatórios para entregar na segunda feira porque eles eram essênciais para sua empresa e sua carreira. Os outros moradores do prédio podem ter perdido tudo isso e mais ainda, a vida de uma pessoa queria. Homens perderiam suas esposas. Famílias perderíam seus filhos. Vidas inteiras devastadas em um segundo. Não é difícil imaginar isso, certo, afinal de contas já aconteceu e não faz muito tempo.

Alguns dias depois as autoridades são enfáticas: a culpa é comprovadamente da construtora. Você e os outros moradores desafortunados decidem então abrir um processo judicial contra a empresa que lhe vendera o apartamento, por sua imprudência e falta de ética. Parece justo que vocês recebam de volta o dinheiro tão brigado que levaram anos para juntar e que, literalmente, virou pó quando tudo desabou. Parece que a justiça irá colocar tudo no seu devido lugar. Mas então o advogado da construtora mostra-lhes uma cópia do contrato que vocês assinaram e ela contém uma cláusula como esta:

"NA EXTENSÃO MÁXIMA PERMITIDA PELA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL, EM NENHUMA HIPÓTESE A CONTRUTORA OU SEUS FORNECEDORES SERÃO RESPONSÁVEIS POR QUAISQUER DANOS ESPECIAIS, INCIDENTAIS, INDIRETOS, PUNITIVOS OU CONSEQÜENCIAIS (INCLUINDO, SEM LIMITAÇÕES, DANOS POR: POR LUCROS CESSANTES, PERDA DE BENS MATERIAIS OU OUTRAS, INTERRUPÇÃO NOS NEGÓCIOS, DANOS PESSOAIS, PERDA DE PRIVACIDADE, FALHA NO CUMPRIMENTO DE QUALQUER OBRIGAÇÃO (INCLUSIVE DE BOA FÉ E COM CUIDADOS RAZOÁVEIS), NEGLIGÊNCIA E QUALQUER OUTRA PERDA FINANCEIRA OU DE QUALQUER NATUREZA) RESULTANTES DO OU DE QUALQUER FORMA RELACIONADOS COM O USO OU INABILIDADE NO USO DA MORADIA ADQUIRIDA OU DOS SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO OU O FORNECIMENTO OU FALHA NO FORNECIMENTO DE SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO OU DE OUTRO MODO SOB OU COM RELAÇÃO A QUALQUER DISPOSIÇÃO DESTE CONTRATO, MESMO QUE A CONSTRUTORA OU QUALQUER FORNECEDOR TENHAM SIDO ALERTADOS SOBRE A POSSIBILIDADE DE TAIS DANOS.

LIMITAÇÃO DE RESPONSABILIDADE E RECURSOS. NÃO OBSTANTE QUAISQUER DANOS QUE VOCÊ VENHA A TER POR QUALQUER RAZÃO (INCLUINDO, SEM LIMITAÇÕES, TODOS OS DANOS MENCIONADOS ACIMA E TODOS OS DANOS DIRETOS OU GERAIS), A RESPONSABILIDADE TOTAL DA CONSTRUTORA E DE QUALQUER UM DE SEUS FORNECEDORES SOB QUALQUER DISPOSIÇÃO DESTE CONTRATO E O SEU EXCLUSIVO RECURSO PARA TODAS AS HIPÓTESES ACIMA SERÃO LIMITADOS AO VALOR EFETIVAMENTE PAGO POR VOCÊ PELO APARTAMENTO OU US$500,00 (QUINHENTOS DÓLARES AMERICANOS), O QUE FOR MAIOR. AS LIMITAÇÕES, EXCLUSÕES E ISENÇÕES DE RESPONSABILIDADE ACIMA SE APLICAM NA EXTENSÃO MÁXIMA PERMITIDA PELA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL, MESMO QUE QUALQUER RECURSO NÃO CUMPRA O SEU PROPÓSITO ESSENCIAL."

A rigor essa cláusula, com a qual você concordara ao habitar o apartamento segundo o próprio contrato, significaria que a construtora cujo prédio caiu não seria responsável por falhas na edificação, mesmo que estas falhas fossem de construção e mesmo que você os avisasse de que havia problemas com o prédio antes que ele caísse. Ela também significa que a construtora não seria obrigada a pagar pelos seus bens ou pela morte de seus familiares, apenas devolver o valor que você pagara pelo apartamento ou US$ 500,00, o que fosse mais alto.

Pare de ler o texto agora e pense 5 minutos sobre isso, vou tomar um café...

Pensou? Se uma construtora fizesse esse tipo de contrato você assinaria? Moraria em um apartamento ou casa quando o construtor lhe dissesse: "Olha, eu construí, mas morar aí é problema seu, se cair não vou me responsabilizar"?

As construtoras não podem fazer isso (felizmente) porque a lei brasileira responsabiliza uma empresa por até 50 anos após o término das obras. No Brasil uma construtora deve pagar (em caso de desabamento) aos moradores valores relativos aos móveis, à objetos sentimentais ou de valor, ao próprio custo do apartamento/casa, e indenizações por mortes provocadas pela ruína da edificação. Há casos onde multas por constrangimento e danos morais e psicológicos também podem aplicar-se e multas ainda maiores por irresponsabilidade ou dolo. Se a construtora tiver sido avisada por clientes/moradores, da possibilidade de ruína pode haver até processo por homicídio e prisão para o dono e o engenheiro responsável da construtora. Assim, no Brasil, os construtores e engenheiros são responsáveis legais pelos prejuízos à terceiros que a falha de seus produtos podem ou venham a causar. Isso também aplica-se aos profissionais da medicina e do direito.

Esse contrato então é uma invenção minha? Não! Ele é o contrato de licenciamento de software da Microsoft. Eu troquei a palavra Microsoft por Construtora, os termos Software por Apartamento e mudei o valor da multa de US$ 5,00 (!) para US$ 500,00.

Vamos falar português claro! A Microsoft faz um produto na qual ela confia tanto que obriga seus clientes a concordar com um contrato que garante que ela não seja responsabilizada legalmente caso esse produto falhe! A Microsoft quer que seus clientes se explodam! E em suas propagandas ela diz que Linux é que não tem garantias. Pergunto: que diabos garantias ela fornece com o Windows?
-Garantia de que ele vá funcionar como esperado: Não
-Garantia de que se ele parar seus prejuízos serão cobertos: Não
-Garantia de que seu negócio não vai parar por falahas no software: Não
-Garantia de que se houver vazamento de informações privilegiadas suas ou de seus clientes você não perderá dinheiro: Não

Resumindo. Se eu sou administrador de um banco que usa Windows2000 nos servidores e algum cracker usa uma falha de segurança do sistema para roubar dados e dinheiro de meus clientes, a culpa é minha! Haha. A Microsoft irá esfregar o contrato na minha cara e dar risada, dizendo que a culpa é só minha, quem sabe até falando algo como: "Bem feito, comprou Windows, a culpa é sua"

Mas só um momento. Alguma empresa de software/informática fornece esse tipo de garantia? Que eu saiba: Não! Então se os contratos da IBM, da HP, da SUN, da Oracle são parecidos com os da Microsoft por que ficar pegando no pé dos caras de Redmond? Simples: Porque eles adoram criticar o GNU/Linux (e o software livre de maneira geral) porque SL não tem uma empresa por trás, porque SL não tem segurança, porque SL é mais caro de manter, tem TCO mais alto, e esse bando de besteiras que ninguém aguenta mais. Porque a Microsoft é a empresa que os usuários de SL adoram odiar, e porque ela merece esse ódio intenso.

A licença GNU GPL, por exemplo, também isenta o desenvolvedor de qualquer responsabilidade sobre perdas e danos, mas obriga que o código fonte do programa seja apresentado junto com o mesmo. Em teoria isto significa que eles (os desenvolvedores) estão de dando uma chance de procurar por erros ou bugs nos programas antes de rodá-los e que por essa razão caso uma falha fosse explorada a culpa poderia ser mesmo repartida entre o usuário e o desenvolvedor, afinal ambos poderíam estar cientes dos problemas implícitos que poderíam existir.

Mas deixando isso tudo de lado deu pra perceber que a Microsoft mudou sua estratégia de marketing anti-SL. Antes ela dizia que SL era pior. Depois dizia que ela tão bom quanto, mas era mais caro. Agora ela diz que até pode ser melhor, até pode ser mais barato, mas com treinamentos e manutenção você vai gastar mais com SL do que com Windows. E, pasmem, para confirmar isso a Microsoft chegou a dizer, em seu site, que para um administrador de rede é melhor usar Windows porque este vem pronto out-of-the-box para conectividade, é um software que já vem completo; diferente de SL que precisa de remendos no código fonte para poder funcionar. A Microsoft está dando a entender que a única boa razão para o software livre ser livre é porque ele é uma coisa inacabada que precisa ser reescrita e alterada para cada caso em particular, é o novo argumento contra o SL da Microsoft!

Agora deixa eu dizer uma coisa sobre software completo. Um amigo meu tem um Scanner que funcionava perfeitamente bem em Windows 98, e que mesmo tendo drivers para WindowsXP simplesmente não funciona. Não sei se é bug, se é problema no driver, se é macumba de alguém, mas no WinXP não funciona nem a pau! Fui lá, reinstalei driver, verifiquei a ligação, toda a cartilha. O driver roda, reconhece o scanner, mas na hora de operar, dá erro e morre. Esse é o software completo da Microsoft. Se fosse SL e eu fosse bom em programação eu poderia dar uma olhada nos fontes, recompilar aqui e ali e tentar entender porque não funciona. Mas como é software proprietário e completo, se não funciona jogue fora e compre outro. Quando ele me perguntou o que fazer, já que ele não quer ter que comprar outro scanner eu sugeri na bucha: Dual boot com WinXP e Win98! E ri da cara dele.

- Tenho 3 máquinas aqui em casa, todas rodando a mesma versão e distro de GNU/Linux. Escrevi um pequeno script que atualiza os mirrors de update da distro e rodo de tempos em tempos em todas elas, do meu teclado e mouse, sem sair da minha cadeira. Dá pra fazer isso em Windows out-of-the-box?

- Meu aMule é uma versão beta que às vezes fecha sozinha, me deixando na mão. Escrevi um script que abre o aMule de novo se seu status de fechamento for diferente de zero. Dá pra fazer isso no Windows out-of-the-box?

- Meu uptime é de, em média, 5 dias, Com 100% do precessador em uso sempre(!) e tudo que eu preciso aberto, consumindo 80 a 90% da RAM. Dá pra fazer isso com o Windows out-of-the-box?

Se você respondeu sim a qualquer uma das perguntas acima escreva para mim contando como você fez isso, estou curioso ;-)

Gostaria mesmo de perguntar ao pessoal da Microsoft: qual é o software incompleto?
É aquele que está sempre em evolução (por isso nunca é finalizado) que consegue ser o que precisa ser, nem mais nem menos. Ou é aquele que precisa de Network Wizard pra isso, Cookie Cleaner pra aquilo, Firewall não sei o quê, e Wizard de update e programas de terceiros de cima abaixo para poder fazer algo mais que mostrar janelinhas na tela?

Pode até ser que o GNU/Linux e os BSDs estejam longe de seram palatáveis para o desktop doméstico. Mas que são sistemas servidores e de rede bem mais completos e melhores que o Windows, sem dúvida. Não vê quem não quer. E tomara que a Microsoft acredite em seu próprio marketing, pois está sendo um caminho sem volta. Quando o Cell sair conversaremos...

PS: Falei em Cell e me lembrei; eu acho que vi Dvorak na Info desse mês falando sobre como os processadores Dual Core da AMD e da Intel vão revolucionar o mercado!!! Tô ficando louco? Se foi isso mesmo que eu vi acho que o pessoal do mundo Wintel ainda não sabe o que é Cell, Playstation 3, processadores de próxima geração que começarão à chegar ao mercado ano que vem... eita povo desatualizado...

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sexta-feira, setembro 23, 2005

A Catedral e o Bazar

Já falei um pouco sobre o brilhante texto do Eric Raymond "A Catedral e o Bazar" onde o autor, figura emblemática do software open source, discute como funciona o modelo de desenvolvimento de softwares livres.

Minha dica é: se você gosta de software livre procure o texto e leia-o. Você poderá encontrar uma versão em português do Brasil deste texto buscando no Google, atualmente existem traduções aqui e aqui.

A leitura é obrigatória não por sua escrita, ou pela análise do trabalho de Linus Torvalds com o Linux, mas pelas frases brilhantes (muitas vezes de terceiros) que Raymond escolheu para marcar as idéias principais do texto.

Coisas como "Havendo olhos suficientes, todos os erros são óbvios" traduzem de maneira muito simples não só o espírito da sociedade que desenvolve software livre, mas também mostram pontos fundamentais para um projeto de software livre dar certo.

O texto além de ser uma análise do modelo livre vs. o proprietário é um manual de como desenvolver software em comunidade, um Software Livre How To.

Mas livros e textos bem escritos são maravilhosos para enfeitar prateleiras e mesas, como ficam as coisas na prática? Se olhar em volta e ver todos os softwares livres de qualidade que existem hoje não for o bastante para você convencer-se de que o modelo do software livre é muito bom ainda há algo que você deve ver. A experiência prática!

Sergio Lopes publicou em seu blog um artigo sobre como liberar sob a GPL e para o mundo um pequeno script BASH o surpreendeu. O script instala e configura o Internet Explorer 5 e superior para rodar em GNU/Linux com Wine. Sergio descreve em poucas palavras como contribuições do mundo todo melhoraram o script original e como a última revisão do mesmo não teve nenhuma participação de sua autoria, mostrando que mesmo para pequenas coisas o modelo do Bazar funciona muito bem. Note que um número muito grande de downloads do script foi feito nos últimos 4 meses e lembre-se que sem o modelo do bazar todos esses usuários (de vários países do mundo) teriam uma necessidade sem solução.

O caso de Sergio e seu pequeno script desenvolvido por colaboradores de outros países é um exemplo prático muito bom de que o modelo de desenvolvimento livre é mais atento às necessidades dos usuários além de ser um convite para todos aqueles que desejam aprender e melhorar seus conhecimentos sobre uma das ciências mais importantes, a Informática.

Parabéns ao Sergio pela iniciativa e obrigado por mais essa prova prática de que estamos no caminho certo.

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terça-feira, setembro 13, 2005

Pensando sobre o Linux no Desktop

Há algum tempo tenho debatido com alguns colegas em um grupo de e-mails chamado DesktopLinux. Lá o pessoal tenta discutir maneiras de facilitar a chegada do GNU/Linux aos desktops pessoais. Papo vai, papo vem, tive a idéia de pedir para o pessoal listar as características que o GNU/Linux tem hoje e que não existem no Windows. Isso nos levaria a tentar identificar novas aplicações para os desktops pessoais que não existem hoje por serem impossíveis (ou muito difíceis) na plataforma dominante. Claro que nenhum de nós é guru da tecnologia, então o lugar onde chegamos pode parecer óbvio ou bobo para alguns, mas de qualquer modo são algumas coisas que são prometidas há anos para a sociedade e ainda não aconteceram por um motivo ou por outro. Outras já aconteceram no todo ou em parte mas ainda não estão integradas à nossa realidade como sociedade, ao menos não aqui na América Latina.

O que produzimos foi um ensaio que reproduzo abaixo, apenas por divertimento. Se você não gosta de viagens alucinantes pare de ler o tópico por aqui mesmo, mas se for continuar tenha em mente que estávamos apenas brincando com nosso tempo livre, já que eu não pude viajar no feriado e aqui choveu pra caramba...

-------------------------Início do Ensaio-------------------------
Sobre o futuro?

1- Esses computadores malucos e seus sistemas maravilhosos
Vamos ser honestos. As pessoas não tem nenhum bom motivo para gostarem de computadores. Eles são complicados, chatos, tem interfaces bobocas e feias (na maioria das vezes) e nunca cumprem bem seu papel. Existe uma piada que diz que os computadores surgiram para resolver problemas que antes deles não existiam. Você precisa de dinheiro e o caixa eletrônico está fora do ar, vai pagar a conta do restaurante e o sistema está fora do ar, que acessar seu e-mail para baixar aquela palestra importante e o site não funciona. Computadores são horríveis, terríveis, são péssimos e tudo que há de pior na sociedade moderna. Os DVDs são legais, os celulares são legais, até os microondas são legais, mas computadores são uma chatice, o grande mal do século 21!!!

Mas pense sobre uma coisa, se os DVD Players, celulares e até os microondas são nada mais que pequenos computadores com utilidades específicas porque funcionam tão bem enquanto coisa branca que você tem sobre (ou sob) a mesa é uma desgraça engolidora de tempo? A resposta está no software. Explico. O Hardware é um equipamento eletrônico, e você sempre pode esperar de um circuito eletrônico que ele funcione bem e sempre do mesmo jeito (isto chama-se confiabilidade) até que ele apresente defeitos e necessite de reparos ou deva ser substituído. Um circuito eletrônico devidamente funcional irá sempre comportar-se da forma esperada e imaginada pelo seu projetista, assim são sua televisão, seu despertador, o controle remoto do seu portão eletrônico. O PC (como vou chamar o seu computador, usado para estudar, trabalhar, etc) é um equipamento eletrônico como seu DVD Player e que deveria operar sempre de maneira linear e satisfatória. E que na verdade opera sempre de maneira linear e satisfatória. Pode parecer espantoso, mas a principal razão para todas as falhas e travamentos que enfrentamos em nossos computadores todos os dias (quando o caixa eletrônico do banco está fora do ar, ou quando seu cartão de crédito não pode ser usado inclusive) é o software.

O software nem sempre deve comportar-se de maneira linear, ainda que deva-se esperar dele que comporte-se sempre como o planejado. Isso significa que um software, que é um roteiro de como organizar as coisas na memória e fazer contas para chegar a fins específicos, pode deparar-se com contas matemáticas cujos resultados tornem-se eventualmente imprevisíveis. Quando isso ocorre o software tem um problema nas mãos. Mesmo que o resultado seja imprevisível um bom software deve estar preparado para manejar essas situações desagradáveis. Software deparam-se com resultados inesperados todo o tempo, quando você usa o mouse para clicar em um espaço em branco na barra de tarefas de um programa isso gera um resultado nulo, que para o software não significa nada (essa é a razão pela qual clicar em um espaço em branco de uma barra não causa ação nenhuma no programa) mas é um evento que deve ser tratado de alguma maneira para não gerar resíduos não processados na memória do compuatdor.

Então se bons softwares conseguem tratar corretamente eventos inesperados, porque ocorrem falhas e travamentos? Porque existe mau software. Software ruim e mal escrito trava seu computador por não estar preparado para tratar excessões que poderíam acontecer. Toda vez que seu computador travar, tenha certeza que isso aconteceu porque você está rodando software de má qualidade, software ruim.
Mas quando o Windows trava, isso significa que ele é ruim? Curto e grosso: sim! Um sistema operacional não poderia travar nunca. Salvo em casos de defeito de hardware um sistema operacional bom deve permanecer funcional, por pior que sejam as condições de uso e operação. Se o Windows trava é porque ele deparou-se com uma situação indesejada que ele não soube contornar. Pode parecer tudo bem, já que você apenas perdeu aquela tese de mestrado em que trabalhava por 8 meses. Mas imagine um avião pousando em um aeroporto e seu sistema operacional travando. Ou então o sistema operacional dos servidores da torre de controle do aeroporto. Imagine o sistema operacional do servidor de uma usina nuclear, travando e mostrando aquela bonita Tela Azul da Morte (o nome folclórico da tradicional tela azul que o Windows mostra quando fica perdido em pensamentos).

Na indústria, no mundo corporativo, não é permitido aos sistemas operacionais falharem. Eu trabalho com programação de dispositivos de tempo real para controle industrial. Se meu software ou o sistema operacional dos dispositivos que uso falharem meus clientes podem perder dinheiro, mas pior que isso, seus empregados podem perder dedos, mãos, braços, ou até a vida. Os sistemas operacionais que eu uso não podem falhar, não podem ser o Windows.

Agora que percebemos o quão ruim o Windows é deixe-me perguntar uma coisa. Porque seu patrão não tolera que o sistema operacional do servidor da empresa falhe, e deixe-o sem ganhar dinheiro mas você leva numa boa quando seu computador trava e você perde alguma informação importante, ou atrasa algo que deveria ou gostaria de fazer? Se temos tecnologia para criar sistemas de alto desempenho e disponibilidade para as empresas porque não fazemos isso em nossas casas? Porque nossos computadores não podem ser tão confiáveis quanto os servidores dos silos dos mísseis nucleares dos EUA?


2- Uma nova abordagem
Os primeiros sistemas operacionais nasceram para operar computadores de grande porte, nas faculdades e instituições militares. Depois surgiram computadores pessoais, para serem instalados nas casas das pessoas, e uma nova geração de sistemas operacionais foi criada, focada na facilidade de uso e no entretenimento, naquela época pensava-se que os computadores poderiam substituir a televisão e a escola, divertindo e educando as pessoas em seus lares. Muita coisa mudou desde então, e a maioria das pessoas usa seus computadores domésticos para trabalhar, deixando a educação e o divertimento em segundo plano. Mas os sistemas operacionais para PC permaneceram focados demais no campo recreativo e hobista (da expressão hobby, ou passa-tempo) e não tornaram-se boas ferramentas profissionais, ao menos o Windows não tornou-se uma ferramenta profissional de alto nível. Criado no começo da década de 80 o sistema operacional Windows permanece sendo uma tentativa de substituir seu DVD player ou sua televisão, ou seu telefone, e claramente não consegue fazer isso de maneira agradável ou competente.

Então um grupo de pessoas teve uma idéia estranha. Se os computadores domésticos ainda são usados pela maioria das pessoas como uma extensão de seu ambiente de trabalho, porque não estender a estabilidade e confiabilidade dos sistemas operacionais profissionais para o PC? E assim nasceu um sistema chamado GNU/Linux. Inspirado pela escolha número 1 de administradores de sistemas críticos profissionais da indústria nos anos 80, o UNIX. Mas como nenhuma grande empresa achou boa a idéia de levar clones de seus sistemas corporativos para os PCs foi esse grupo de pessoas que decidiu criar esse sistema, assim nasceu a idéia de Software Livre. O Software Livre é um software escrito, alterado, distribuído e mantido de maneira livre, isto é, sem restrições. Qualquer um pode fazer o que quiser com software livre, da mesma forma que qualquer um pode fazer o que quiser com uma receita de bolo.

A grande vantagem do Software Livre e em especial do GNU/Linux é que ele foi inspirado por sistemas de alta confiabilidade e estabilidade e pode ser adaptado para rodar nos computadores que temos em nossas casas. O que significa que posso usar em minha casa um sistema que foi originalmente pensado e preparado para operar torres de controle de aeroportos ou usinas nucleares. A possibilidade de eu perder esse texto que estou escrevendo agora é a mesma do avião que está pousando no aeroporto aqui perto cair, ou da usina nuclear de Angra dos Reis explodir. A possibilidade de seu computador travar enquanto você lê esse texto (se estiver usando Windows) é maior do que a de meu computador travar enquanto eu o escrevo (sim, estou usando o GNU/Linux aqui). Brincadeiras à parte, as vantagens de usar em casa um sistema profissional de verdade são muitas e sequer foram exploradas na totalidade pelo mercado ainda, e é para brincar um pouco com essa idéia que eu decidi escrever esse texto.


3- Novos usos e novas necessidades
Abra sua mente por um instante. Imagine o quadro que descreverei nos próximos parágrafos.

Paulo é um administrador que trabalha na área de marketing de uma empresa automobilística. Em sua casa ele possui um cluster pessoal, um sistema composto por 4 computadores que trabalham juntos trocando informações pela rede sem fio que ele montou. Um dos quatro computadores é um velho e desgastado PC que ele comprara há mais de 10 anos, quando entrou na faculdade e que se não fizesse parte do sistema teria pouca ou nenhuma utilidade. De fato as 4 máquinas foram adquiridas ao longo da última década, e eram substituídas quando seu poder de fogo já não era suficiente para que ele pudesse executar seu trabalho de maneira produtiva. Aquela idéia do cluster era realmente boa, pois ele estava aproveitando seu equipamento antigo para algo útil, e o poder total de seu cluster era maior que o de qualquer máquina nova que ele pudesse comprar. Brincando ele dizia para seus amigos que gostaria de poder fazer isso com os automóveis também: “Imagine juntar 4 Unos e andar mais rápido que um Stilo” satirizava.

As vantagens desse sistema eram ainda maiores que o desempenho, quando algum computador tinha problemas, ele poderia reiniciá-lo tranqüilamente, pois os outros 3 assumiam suas funções e continuavam executando as tarefas, fazia já mais de um ano que ele não reiniciava todo o sistema, tudo estava disponível para ele quando ele precisasse, sem esperas, sem travamentos, sem problemas. Quando ele comprava um HD novo, ou uma nova unidade de DVD apenas desligava o gabinete aonde esta unidade seria instalada, e após isso, com o sistema funcionado ele poderia fazer o novo dispositivo ser reconhecido e funcionar sem problema algum. O ponto alto dessa tecnologia foi quando ele pode trocar sua placa de vídeo por um modelo de última geração sem reiniciar o sistema, levou inclusive dois amigos do trabalho para mostrar o procedimento, já que estes não haviam acreditado quando ele disse que poderia fazer isso com seu computador.

Aliás, quando o cluster foi montado e iria entrar em operação uma preocupação que não passou pela cabeça de Paulo foi com a segurança. Não, ele não esqueceu-se da segurança, ele não precisou importar-se com ela. O seu cluster tem pseudo imunidade a virus e por mais que ele clique nos anexos errados dos e-mails que recebe seu sistema não poderá ser atacado por virus. Além disso, o sistema operacional que ele instalou trouxe um firewall configurado já incorporado, que depois de alguns ajustes durante a instalação protegia todo o sistema. Quando ele rodou seu cluster pela primeira vez este já estava protegido contra ataques de terceiros pela internet.

Ele ainda aproveitou a capacidade de seu cluster de carregar módulos de dispositivos durante a operação e instalou alguns servidores de web, ftp, ssh e e-mail assim ele poderia ter acesso aos recursos de suas máquinas onde quer que estivesse, sem problemas. Na verdade ele andava pensando em ampliar o poder de seu cluster e estava tentado a comprar mais uma CPU para integrar o sistema.

Em uma quinta feira de manhã ele levantou. O sistema havia regulado o despertador para 7:30hs pois afinal era um dia de semana e não havia feriado. Enquanto ele trocava de roupas o cluster ligou o chuveiro na temperatura adequada para aquela manhã. Durante o banho o sistema ativou a torradeira e a cafeteira. Paulo comeu e deixou sua casa, o sistema ligou o alarme. Em seu caminho para o metrô Paulo decidiu verificar seu e-mail, pelo celular, acessou seu sistema, que mantém seu username e senha em segredo e verificou suas mensagens. O que Paulo achava mais legal era ter seu papel de parede e até os ícones dos seus programas na tela de seu celular, e usar o poder de suas máquinas domésticas para rodar os programas. E riu daqueles coitados que usam navegadores de internet nos celulares: inseguros, lentos e sem recursos. Ele tinha na palma da mão tudo, desde o navegador, até Java, e poderia jogar os jogos que quisesse, tudo a partir do celular, tudo usando o hardware do seu cluster.

Chegou ao trabalho, conversou com seus amigos sobre o jogo de futebol da noite anterior. Rodrigo não havia assistido e estava chateado por não participar da conversa. Paulo levou-o até um terminal dentro do escritório, abriu remotamente seu desktop e mostrou o lance do gol, que estava gravado em um dos HDs do seu cluster. O gerente do setor apareceu e perguntou se o relatório de vendas mensal estava pronto, Paulo respondeu que sim e do mesmo terminal acessou o relatório em seu cluster, sobre o qual ele havia trabalhado até as 23horas da noite anterior. Imprimiu uma cópia na impressora ao lado, com os dados vindos do seu cluster.

Durante o almoço conversou com alguns amigos pelos programas de chat de vídeo de seu sistema, usando os contatos armazenados em seu cluster, e no começo da tarde arrumou um tempinho para pesquisar on-line os preços do computador novo que gostaria de comprar. Acabou fechando negócio em uma loja on-line que agendou a entrega para as 19hs daquele mesmo dia. Ao final da tarde pegou o metrô de volta para sua casa, e no caminho agendou um jantar com a Márcia pelo messeger, e respondeu um e-mail da diretoria que não havia sido respondido enquanto ele estava no escritório. Enquanto preparava a janta o novo computador foi entregue. Após jantar ele desembalou a nova máquina, uma CPU muito bonita e potente que iria aumentar em 70% o poder total do cluster, o sorriso não saia de seu rosto.

Ao ligar todos os cabos ele inseriu um DVD que ele mesmo gravara na máquina. Dentro do DVD há um programa que instala o sistema e configura-o automaticamente para integrar-se ao cluster. Quando o processo terminou ele notou que estava perdendo o começo de seu programa favorito, eram 20h20. Ele abriu seu programa de TV e começou a assistir, do começo é claro, pois seu sistema estava agendado para gravar o episódio, que Paulo assistiu até o final, sem os comerciais.

Após isso ele decidiu verificar o poder de fogo de seu sistema, e enquanto gravava a ultima temporada de outro seriado em DVDs jogou algumas partidas de um jogo de tiro em primeira pessoa com gráficos 3D ao extremo em um projetor de 100 polegadas que ele pôde comprar com a economia em monitores, teclados e mouses desde que montara seu cluster.


4- O Uso doméstico
Muitas características dos sistemas profissionais como montagem de cluster, troca a quente de dispositivos, uso profissional de recursos de rede podem ter usos domésticos muito interessantes, como descrevi acima. Pode ser um choque pra você saber disso, mas essa historinha que contei pode ser realidade hoje. Usando um sistema mais moderno e melhor preparado, como o GNU/Linux você pode conseguir fazer tudo que descrevi acima, hoje, sem ter que esperar pelo futuro.

Será pouco provável que você vá conseguir fazer isso com um sistema operacional como o Windows, a custos acessíveis. Não que seja impossível montar um cluster de 5 máquinas Windows, mas 5 cópias de Windows custariam R$5.000,00 e um software de cluster para Windows não sairia por menos de R$1.000,00. Com esses R$6.000,00 eu poderia montar um cluster de duas máquinas e GNU/Linux, pagando apenas o custo do hardware. E o cluster GNU/Linux seria muito mais confiável por motivos óbvios.

O importante é notar que um cluster GNU/Linux como o citado em minha historinha poderia fazer coisas que seriam impossíveis com o Windows, como trocar uma placa de vídeo sem reiniciar o sistema. Seria possível em GNU/Linux ter uma interface gráfica para cada dispositivo, uma para o telão de 100 polegadas, uma para um monitor de 17 polegadas, e uma para o celular de 1,5 polegada, interfaces diferentes, adequadas às telas onde são apresentadas, mas operando o mesmo sistema. Em Windows isso é impossível.

Tomando essa fábula como exemplo, não acredito que o GNU/Linux deverá sofre muitas adaptações ou modificações para penetrar no mercado doméstico. O mercado doméstico irá clamar pelo GNU/Linux à medida que descobrir o que este pode fazer. E o GNU/Linux pode muito! Vários usos ainda não imaginados ou consolidados para um computador em uma casa podem ser muito mais fáceis de cobrir usando GNU/Linux, pois este é uma plataforma livre.

Creio que todas as pessoas gostariam de um computador que pudesse gravar seus programas de TV favoritos e passá-los a qualquer momento, o sucesso da Tivo mostra isso. Mas para o Windows conseguir fazer isso precisou de adaptação e uma versão chamada Windows Media Center Edition, que não serve para ser usada como um sistema operacional geral. O GNU/Linux tem capacidade de fazer isso e continuar sendo útil para outras coisas. Uma vez que essas necessidades popularizem-se de fato a necessidade do mercado doméstico por um sistema melhor que o Windows estará criada, e aí sim deveremos pensar em como empurrar o GNU/Linux nesses nichos.


5- Os desenvolvedores de software livre
Devem criar condições para o GNU/Linux atingir esses nichos quando surgirem, escrevendo aplicações para lidar com mídia, entretenimento, controle doméstico, cluster doméstico, e acesso e uso remoto. São áreas onde o Windows é normalmente fraco:

Mídia: Quando o Windows é bom em mídia, é péssimo no resto. Assistir um filme e gravar um DVD ao mesmo tempo é praticamente impossível, assisitir um vídeo enquanto codifica outro é suicídio. A multi-tarefa do GNU/Linux, muito mais competente, permite que mesmo em equipamentos mais modestos você possa executar tarefas intensivas conjuntamente.

Entretenimento: Jogos e só. A rigidez de controle de conteúdo do Windows e do Mídia Player irá ser um obstáculo à manutenção de cópias digitais de música e vídeos. Nesse campo a Microsoft sempre irá trabalhar em prol da indústria e nunca em prol do consumidor, o contrário do GNU/Linux, que é feito pelos consumidores.

Controle Doméstico: Aqui os benefícios do software livre ficam evidentes. Você pode criar sua própria solução de automação ou usar soluções de terceiros, escolhendo o fonecedor que desejar ou criar sistemas sem fornecedor algum. No Windows você ficaria preso às soluções de grandes fabricantes (geralmente a preços elevados) já que é muito difícil para desenvolvedores independentes criarem drivers de dispositivo e sistemas para Windows, por seu código ser fechado. Aqui também mais uma vantagem da arquitetura do GNU/Linux aparece, como é modular o Linux só precisa carregar os drivers quando necessário e pode descarregá-los depois, diferente do Windows que precisa carregá-los no boot e mantê-los na memória o tempo todo, consumindo processador e memória ram.

Cluster Doméstico: Clusters profissionais já existem e funcionam muito bem para GNU/Linux. Alguns deles nem precisam que aplicações sejam reescritas para funcionarem no cluster. Nesse ponto haveríamos apenas de adaptar uma solução para ser instalada e reconhecer e configurar outras máquinas, automatizando o processo de criação e gerenciamento do cluster. Desenvolver isso dá ao Linux o argumento: não jogue seu hardware fora, acrescente hardware e aumente o poder de sua rede. Mais pessoas terão 2 ou mais computadores em casa sem saber como aproveitar esse potencial, e aqui é onde o Windows menos pode fazer, já que a Microsoft vive das licenças de seus produtos e quanto mais Windows você precisar, mais caro vai ficar, enquanto que no GNU/Linux isso pode custar zero ou muito pouco.

Acesso e uso remoto: Aqui não há como usar o Windows. A única coisa que funciona em Windows quando falamos de uso remoto é o VNC. No GNU/Linux o uso remoto é natural, pois é uma característica da arquitetura, e transparente para o usuário. Essa característica aliada ao cluster permitiria que vizinhos, amigos, usando redes de alta velocidade criassem super computadores de maneira fácil (quase plug'n'play na verdade). Se as pessoas tomassem conciência disso, de que poderiam ter um super computador à disposição em seu prédio, ou em sua rua, ou de maneira virtual iriam ficar no mínimo curiosas para conhecer o GNU/Linux. Isso tem muitos usos. No futuro poderemos ter áreas virtuais de super-computadores públicos, para usarmos para resolver problemas de faculdade, de ensino, ou de pequenas empresas.


6- Conclusões Finais
O uso doméstico de computadores poderá modificar-se de maneira dramática nos próximos anos, dependendo de como as pessoas irão encarar o computador. Se o computador tornar-se o núcleo nervoso dos lares, controlando várias coisas e sendo universalmente acessível, o Windows, como plataforma estará seriamente comprometido. O GNU/Linux, por herdar características de servidor do UNIX estará naturalmente mais apto para esta função.

As grandes empresas podem não querer promover o computador à esse patamar, mas a comunidade do software livre tem a força necessária para criar esse modelo de computação doméstica, onde o GNU/Linux é a escolha natural por suas características intrínsecas. Como dizia o mandamento do Comunismo: De cada um de nós com nossa habilidade, para cada um de nós com nossa necessidade.

O que precisamos é identificar as necessidades que as pessoas terão em suas casas e preparar nossos softwares para elas. Essas necessidades já existem hoje, as pessoas querem sistemas melhores, mais confiáveis, que façam mais coisas e tragam mais conforto à suas casas. O que precisamos é que o GNU/Linux consiga suprir as novas necessidades que surgirão coisa que o Windows não conseguirá fazer.


Por Fábio Luiz (falcon_dark)
com contribuições de Sergio Clemente e Alexandre Kurz
e do grupo Desktoplinux
-------------------------Fim do Ensaio-------------------------

Como eu havia falado, foi uma brincadeira para matar uma tarde chuvosa. As pessoas vêem e usam os computadores de um modo que foi construído sobre as qualidades e deficiências de uma única plataforma. Por isso é natural que a visão de computador pessoal seja monotônica em nossa sociedade. Novos sistemas operacionais com novas características abrem campo para usos e aplicações domésticas que ainda não foram cogitadas. Em resumo novos sistemas podem criar novos usos para os computadores dentro de nossas casas. A criatividade e o poder de inovação da comunidade que desenvolve o software livre, em especial o GNU/Linux, podem ser o combustível de toda uma nova geração de usos e utilidades que tornariam a plataforma dominante obsoleta por definição.

Não se trata apenas de fazer com que o GNU/Linux rivalize com o Windows onde o Windows se destaca, mas disponibilizar novos usos e recursos que não possam ser implantados no Windows, como as multi interfaces para um mesmo sistema, que podem levar um sistema centralizado a ter tentáculos em vários dispositivos distintos e estar virtualmente em qualquer lugar.

Essas novas possibilidades terão espaço em pouco tempo e poderão ser o ponto de inflexão na curva de adoção do Windows no mercado doméstico. Vale a pena pensar um pouco sobre isso, mesmo que seja apenas para matar o tempo em uma tarde chuvosa.

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Mudança de visual

Depois de alguns meses com a interface azul e bege decidi mudar a cara do blog, não por ficar mais bonito ou algo assim. Recebi um toque de que o fundo escuro cansava um pouco depois de algum tempo de leitura, então decidi buscar algo mais limpo... queria alguma coisa com o estilo do aqua, mas não rolou ;-)

Aproveitei para mudar algumas coisas:
-Agora não aparece mais à direita o link para os últimos posts, apenas o arquivo mensal, mas todos os posts estão lá com seus comentários;
-O link permanente para os posts, que antes estava nos títulos, agora está no horário de postagem no rodapé de cada post, fique a vontade para linkar para qualquer artigo meu para o qual você possa encontrar qualquer utilidade;
-Aparecerão apenas os 4 ultimos artigos na folha de rosto do blog, essa foi legal porque como meus posts normalmente são quilométricos em conexões discadas levava uma eternidade pra carregar, isso também dará mais utilidade aos links e ao arquivo e deve deixar as coisas um pouco mais leves;
-Aparece meu perfil resumido agora, com meu nome verdadeiro e minha localização geográfica, vou providenciar um link para o Google Maps com a localização de minha casa para alguém que queira acertar as contas comigo pessoalmente ;-)

Espero que essas mudanças melhorem a passagem de vocês por aqui e façam com que vocês postem mais comentários aos meus textos, dificil isso acontecer. É que quando decidi começar isso aqui em Fevereiro de 2005 eu o fiz porque tinha muito a dizer. Pra não ficar enchendo o saco de todo mundo nas listas de discussão por aí achei que seria legal um blog. Pensei em colocar um contador de acessos, mas notei que isso mais poderia me desanimar que qualquer outra coisa. Se eu começasse a escrever e ninguém apareceçe ficaria chateado e acabaria largando isso prá lá. Não tenho um contador de acessos até hoje e o Blogger não me dá estatística nenhuma, resultado: não faço a menor idéia de quantas pessoas lêem o que eu escrevo! O único retorno que recebo é quando alguém deixa um comentário ou quando sai um link prá cá em algum lugar. Então se cada um que entrasse aqui deixasse uma mensagem, ou me mandasse um mail, eu saberia como andam as coisas. Se ninguém fizer isso vou pensar que vocês não quiseram mesmo, mas não pensarei que é porque não tem ninguém lendo ;-)

De qualquer modo tem mais uma coisa, links à direita, que não havia antes, e que pretendo ir encrementando. Por enquanto coloquei minhas principais fontes de atualização.

Por fim deixo um abraço ao pessoal do Notícias Linux que sempre me dá uma força colocando links para meus artigos que trazem algo de bacana para a comunidade, obrigado pelo apoio pessoal.

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segunda-feira, setembro 12, 2005

Microsoft e SCO.... de novo?

Eu não ia publicar algo por uns dois dias, no mínimo, depois do trabalho que tive pra fazer o ultimo post, mas essas duas notícias do Notícias Linux não pude evitar. Até porque quem acompanha o meu blog já percebeu que eu não tenho datas para trabalhar, só publico algo quando tenho algo a dizer, para evitar a síndrome Dvorak. De qualquer modo vamos às manchetes:

-Microsoft tenta contratar Eric Raymond:
Eric Raymond, conhecido guru do software Open Source contou em uma entrevista que teria recebido um proposta de um recrutador da Microsoft. Considerando o fato de que a pouco tempo a Microsoft contratou Daniel Robbins, criador do Gentoo, só consigo pensar em uma coisa: se não se pode vencê-los tente vencê-los de um jeito diferente!

Segundo o famigerado Dossiê Halloween, um documento vazado da Microsoft de um analista para a diretoria da empresa, como não havia uma grande empresa por trás do Linux as táticas normais de descredibilizar o inimigo poderiam não funcionar. O relatório mostra como a Microsoft teria dificuldades em enfrentar um competidor de código fonte livre suportado pela comunidade. Além disso o documento atesta a qualidade do Linux e concorda que este já era na época (1998) superior ao Windows. A própria Microsoft validou a autenticidade do relatório.

Enfim, sem um alvo para atacar a Microsoft parece decidida a contratar grandes figuras do software livre e aberto para trabalhar com ela, talvez na esperança de que a ausência dessas figuras na comunidade esfrie o crescimento do Linux, talvez para mostrar que o dinheiro pode comprar tudo, até mesmo boas idéias. A despeito de minha crença de que dinheiro compra tudo, até mesmo amor sincero, um episódio veio à mente, trazido pela recusa humilhante de Raymond à proposta da Microsoft, que aquele considerou "ridícula".

Nos tempos primordiais do Software Livre em uma convenção da indústria de tecnologia Eric Raymond encontrou-se dentro de um elevador com um macaquinho da Microsoft, quem assistiu RevolutionOS conhece essa estória, mas vou contá-la mesmo assim. Raymond olhou no crachá e disse:
-Você trabalha na Microsoft?
-Sim. E você quem é?
Raymond responde com voz cavernosa:
-Sou seu pior pesadelo!!!

A graça disso está no fato de que Raymond tornou-se um dos carrascos da Microsoft e inclui em sua biografia frases como: "Irei urinar sobre o túmulo da Microsoft". Isso é uma coisa que muitos de nós adoraríamos fazer, mas parece que agora a Microsoft quer Raymond em suas fileiras. O único motivo pelo qual imagino que uma empresa queira contratar um homem que deseja vê-la falida é para tirá-lo de circulação. Então, total apoio à Raymond por sua recusa humilhante ao convite de trabalho na Microsoft!!!

-SCO publica campanha pró SCO UNIX
Você pode até argumentar que isso é direito da SCO, promover seu próprio produto. Ok, se não fosse pelo tom anti-Linux da campanha. O material da SCO cita 5 razões pelas quais escolher o SCO UNIX em lugar de GNU/Linux. Reproduzo-as a seguir em azul e meus comentários vão em preto mesmo:

SCO UNIX é uma plataforma testada, estável e confiável
Ok, parabéns, o GNU/Linux também é muito bem testado, estável e confiável, e ainda por cima é mais barato, mais acessível e ainda por cima roda no meu hardware. Linux 1 x SCO 0
SCO UNIX é suportado por um único e experiente vendedor
Taí a grande desvantagem do software proprietário, na minha opinião. O fato de não haver um único vendedor de Linux no mundo me deixa muito mais tranqüilo, pois assim não vou dormir à noite com medo de uma empresa para a qual eu não trabalho falir na manhã seguinte, meu investimento está protegido pela natureza do software livre. E sinceramente eu acho que a RedHat, a HP, a IBM, a Sun e a Novell são tão ou mais experientes que a SCO quando o assunto é UNIX-like, não é? Linux 2 x SCO 0 sem ponto para a SCO pois não acho eles tão experientes assim, se fossem não teriam mexido com a IBM no processo judicial do Linux, isso foi inocência demais... começo a concordar com Linus Torvalds, lá na SCO eles fumam crack, você compraria o sistema operacional de uma empresa onde todos fumam crack?
SCO UNIX tem um roadmap comprometido e confiável
E também a IBM, a RedHat, a HP, a Sun, a Mandriva, a SuSe... Linux 3 x SCO 0 não dei um ponto pra SCO agora porque não a vejo como uma empresa tão confiável assim, vai que amanhã eles tentam processar a NASA por ter chego à lua...
SCO UNIX é seguro
claro... é um UNIX, tem a mesma segurança que o Mandriva, o Debian, o Slackware.... tá bom vai, nessa não teve como Linux 4 x SCO 1 :-(
SCO UNIX é legalmente inquestionável
Essa é a melhor, o Linux também é, conforme o processo contra a IBM nos provou... com Linux ninguém mexe... Linux 5 x SCO 2

Placar final: Linux de goleada, esqueçam o SCO UNIX.

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Quando o professor está errado e o aluno está certo

Pesquisando sobre as diferenças entre o kernel Mach usado no MacOS X e um kernel monolítico como o Linux para entender as diferenças de desempenho sobre as quais eu falei no meu último artigo eu me deparei com algo muito bacana. É uma discussão que ocorreu na lista de e-mails do MINIX em 1992 entre Andrew Tanenbaum e Linus Torvalds que pode ser lida em inglês aqui.

A discussão e as formas de pensar de ambos me remeteram à “A Catedral e o Bazar” ensaio de Eric Raymond sobre o sistema de desenvolvimento de Softwares Livres. Mais que isso, mostrou-me o quanto um homem gabaritado e inteligente pode errar em suas impressões e previsões quando depara-se com uma idéia cuja total plenitude ele ainda não percebera.

Andrew S. Tanenbaum
Professor de Ciência da Computação na Universidade de Vrije em Amsterdam, Holanda. Desenvolvedor do MINIX um sistema operacional UNIX-like pensado para ensinar aos seus estudantes a matéria de Sistemas Operacionais que leciona. O MINIX usa microkernel em sua arquitetura que é definido por essência como sendo uma maneira elegante porém com menor desempenho de implementar um kernel de sistema operacional. Publicou vários livros sobre o assunto como pode ser constatada em sua biografia disponibilizada no link.

Linus Torvalds.
Graduado em Ciência da Computação pela faculdade de Helsink, Finlândia; período no qual desenvolveu as primeiras versões do kernel monolítico Linux que foi posteriormente lançado sob a GPL e usado como kernel padrão em várias distribuições do sistema operacional GNU desenvolvido pela FSF sob o comando de Richard Stallman.

Não seria prático traduzir na íntegra toda a discussão entre eles, por isso mostrarei apenas os pontos que achei interessantes, por mostrar como alguém com o histórico e o gabarito de um professor universitário de renome pode estar errado frente as inovações e ideais de um simples estudante. À época do diálogo (1992) Linus já havia feito seu célebre comunicado aos hackers do mundo para o desenvolvimento do kernel Linux (ver link). Faço meus comentários em itálico e azul sobre as postagens, apresentadas aqui em ordem cronológica.

------------Início das transcrições------------

Tanenbaum:
-Meu trabalho é como professor e pesquisador na área de sistemas operacionais; como resultado de minha ocupação eu creio que sei um pouco sobre o rumo que os sistemas operacionais tomarão na próxima década ou perto disso (as idéias de Tanenbaum então estenderiam-se até 2002 ou perto disso; portanto até os dias de hoje, segundo seu próprio senso de percepção). Dois aspectos devem ser considerados: Microkernel vs Kernel Monolítico e Portabilidade.
a)Microkernel vs Kernel Monolítico:
-Esse debate está acabado, o microkernel venceu.
(Encontrei alguns sistemas operacionais na internet que usam somente Microkernel, mas quase todos ou estão em desenvolvimento ou são sistemas focados em aplicações embarcadas, a maioria dos sistemas de produção de hoje usam modelos mistos de kernel monolítico com conceitos de microkernel implementados em parte ou microkernels controlando pseudo-kernels mais completos, nessa categoria podemos colocar o FreeBSD, o MacOSX. (Nota de falcon_dark: Posteriormente encontrei fortes indícios de que o FreeBSD usa um kernel monolítico de fato, como o Linux. Isso colocaria-o em uma classificação de tipos de kernel ao lado do Linux e em oposição ao MacOSX. Para informações sobre isso leia o meu post mais recente sobre o assunto.) O Linux, o WindowsNT/XP usam kernels monolíticos com o Linux usando o conceito de módulo para subir e descer servidores (como um microkernel faria) e o Windows usando um monolítico tradicional mas com alta portabilidade usando uma Camada de Abstração de Hardware por baixo do kernel. Assim como nenhum processador de hoje pode ser classificado diretamente como RISC ou CISC, mas sim um misto dessas duas tecnologias não se poderia classificar um kernel de sistema operacional de produção hoje como sendo micro ou monolítico, pois praticamente todos os kernels sobre os quais li usam algum recurso da arquitetura concorrente. A grande razão para isso me parece ser o fato de que um microkernel puro pode perder até 60% do desempenho de um hardware em operação real.)
-Linux é um sistema de estilo monolítico. É um grande passo atrás de volta à 1970. Para mim, escrever um sistema monolítico em 1991 é uma idéia muito pobre.
b)Portabilidade:
-[Tenenbaum descreve a história da Intel, do 4004 ao 80486 e insinua que eles são todos iguais] Nesse meio tempo aconteceram os chips RISC e agora eles estão acima de 100MIPS. Logo estarão à 200MIPS. Essas coisas não vão desaparecer. O que vai acontecer é que esses chips tomarão o lugar da linha 80x86. Acho um erro grosseiro desenhar um sistema operacional para esta arquitetura já que ela não ficará no mercado por muito mais tempo.
(Esse parece ser o maior erro de avaliação do professor. Não só os chips RISC não dominaram o mercado mas quase desapareceram. Os chips tradicionais, como a linha x86 que seria retirada do mercado incorporou muito da tecnologia RISC e não foi substituída por ela. Os MIPS que ele cita são Milhões de Instruções Por Segundo, um referêncial de desempenho de processadores. Os 80486 ficavam perto de 50MIPS, enquanto que os 80686 mais recentes chegam perto de 10.000MIPS)
-Eu devo sugerir que todos aqueles que queiram um sistema moderno e gratuíto procurem por um que use microkernel, portável, como talvez o GNU ou algo do gênero.
(Quando refere-se ao GNU, o professor fala do projeto original do GNU de usar a dupla Mach/Hurd como kernel/servidor. Acontece que o Mach tem um desempenho muito ruim, perto de um kernel monlítico e o Hurd não ficou pronto até hoje. O Linux acabaria por substituir Mach/Hurd na tarefa de kernel do sistema GNU, criando o GNU/Linux, que usamos hoje.)

Linus Torvalds:
-Veja quem ganha dinheiro com o MINIX e quem fornece o Linux de graça. Então vamos falar de hobbies!
(Linus mostra-se ofendido com o fato de Tanenbaum dizer que seu MINIX é apenas um hobby e não uma tentativa real de construir um sistema de verdade. O comentário original parece meio ofensivo à Linus que decide reagir de maneira enérgica, esse é o tom do resto da mensagem.)
-Verdade, Linux é monolítico, e concordo que microkernels são mais bonitos. Mas se o GNU estivesse pronto na última primavera eu nem começaria meu projeto. E se esse parâmetro fosse a única coisa para classificar um kernel como bom ou ruim, eu daria razão a você. O seu MINIX não faz as coisas de microkernel muito bem, tem problemas com multi-tarefa real no kernel.
-O que o Linux faz: ele usa um subset de intruções do 386 que parece maior do que o que os outros kernels usam. Claro que isso torna o kernel difícil de ser portavel, mas deixa seu desenho mais simples. Uma troca aceitável e que tornou o Linux possível em primeiro lugar. E meu código fonte está livre, o que significa que qualquer um pode portar para onde quiser.

Tanenbaum:
-Um sistema de arquivos com multithreading (capacidade de endereçar multiplas escritas/leituras ao mesmo tempo, característica fundamental para os sistemas multi-tarefa domésticos de hoje) é um “hack” de performance. Quando há apenas uma tarefa ativa, que é o caso normal de um PC pequeno, isso não melhora nada e adiciona uma complexidade desnecessária ao código. (O professor critica Linus por implementar esse recurso em seu kernel Linux, mas se o kernel Linux não tivesse essa capacidade não teria sido adotado pelo mercado como foi)
-Eu mantenho meu ponto de que desenhar um kernel monolítico em 1991 é um erro. Seja grato por não ser meu aluno, você não tiraria boas notas por esse desenho :-)
-Meu ponto é que escrever um novo sistema operacional que está amarrado à uma plataforma, especialmente uma tão estranha quanto a da Intel, é baiscamente errado. Escrever um sistema apenas para o 386 em 1991 te dá sua segunda nota ZERO para essa matéria. Mas se você for muito bem no exame final talvez consiga se formar.
(Nota ZERO para o que se tornaria um ícone do software livre e um dos kernels de melhor reputação e desempenho da história da informática? Acho que descobrir porque não gosto muito dos professores da faculdade)


Linus Torvalds:
-Sim, o MINIX é portável, mas você pode reescrever essa frase como “O MINIX não usa nenhum dos aprimoramentos do hardware”, e a frase continuaria sendo verdadeira.
(Linus critica o fato do Minix ser muito portável mas não conseguir usar implementações técnicas das plataformas, como o sistema de paginação de memória do 386, perdendo desempenho por não usar essas características. Isso chama a atenção para uma coisa, hoje em dia os sistemas operacionais buscam uma mistura de portabilidade e uso intensivo dos recursos de hardware. Bons sistemas e programas são aqueles que conseguem usar caracteristicas especiais dos processadores, como as instruções SSE3 da Intel e as extensões de 64-bit da AMD. Há versões distintas do kernel Linux para cara uma dessas plataformas, o Windows XP também, com seu HAL procura sempre adaptar-se ao máximo ao hardware sobre o qual ele rodará. Parece então não ser uma questão de escolher entre portabilidade e uso de recursos de cada plataforma, mas sim buscar uma maneira de encaixar as duas coisas para obter um equilíbrio.)
-Não é verdade que um sistema de arquivos com multithreads seja um “hack” de performance. Quando você escreve um UNIX “obsoleto” você tem automaticamente um kernel multithread: cada processo deve fazer seu próprio trabalho, e você não precisa fazer coisas feias como filas de mensagens para fazer isso funcionar eficientemente (como nos microkernels)
-O kernel Linux é uma minúscula parte de um sistema completo: os fontes têm atualmente 200KB enquanto comprimidos. De fato o kernel Linux inteiro é muito menor que a parte i386 do microkernel Mach> i386.tar.Z da versão atual do Mach tem mais de 800KB comprimidos. Claro que o Mach tem mais recursos que o Linux mas isso ainda deve dizer alguma coisa.
(Linus quer dizer que se ele precisasse reescrever o kernel Linux para outra plataforma naquela data ainda teria menos trabalho do que se alguém quisesse adaptar o kernel Mach para uma nova máquina e discute, com esse argumento, a falta de portabilidade do Linux. De fato hoje o Linux é sem dúvida o kernel que tem versões estáveis para o maior número de plataformas do mercado, mostrando que sua portabilidade é real e exeqüível)

------------Fim das transcrições------------

Em outra mensagem Tanenbaum discute ainda o free-ness do Linux e do software em geral. Mas fica claro no texto que ele leva o uso da palavra free para a interpretação de preço baixo ou gratuíto, não havendo um entendimento ou argumentação dele sobre as liberdades de software. Ele ainda questiona-se por quanto tempo Linus conseguiria manter-se desenvolvendo o Linux quando os desenvolvedores independentes começassem a implementar coisas que ele não gostaria em seu kernel e demonstra não acreditar que o kernel Linux terá uma vida longa ou atinja êxito como um sistema operacional usável.

Eu publiquei esse post para mostrar como, às vezes, pessoas competentes e experientes em assuntos técnicos podem enganar-se quando encontram coisas ainda não vistas, e como boas idéias podem superar conceitos consolidados. No começo dos anos 90 o consenso entre os especialistas em informática era de que os processadores seriam todos RISC, que o x86 morreira, que os sistemas operacionais teriam microkernels e que o UNIX ou o GNU se firmariam como o sistema operacional padrão por todos os lados.

Desde então a Digital morreu e os Power tornaram-se processadores mistos praticamente varrendo do mercado a idéia de processadores RISC puros, a IBM abandonou o Taligent (microkernel universal para todos os seus sistemas operacionais) e os melhores kernels de hoje são mistos de conceitos de microkernels e kernels monolíticos, o x86 é a plataforma #1 em vendas no mundo todo e o Windows domina boa parte do cenário dos sistemas operacionais, deixando o UNIX e suas variantes um pouco atrás.

E no artigo passado eu contei como os testes práticos de um sistema microkernel contra um kernel monolítico mostraram que o microkernel tem realmente um desempenho inferior. São coisas para se pensar. Enquanto isso, recomendo a leitura do ensaio “A catedral e o Bazar” de Eric Raymond e uma passada na Wikipedia para ler sobre os assuntos discutidos aqui: microkernel, Mach, Linux kernel, Taligent, MacOS X e Windows NT. São leituras interessantes e muito explicativas.


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sábado, setembro 10, 2005

Teste de Plataformas

O site de notícias e análise de hardware AnandTech publicou em Junho um artigo que visava comparar a performance de hardware dos PowerMac com máquinas x86. O objetivo inicial, segundo o autor do artigo, não era contrapor os sistemas operacionais, mas sim avaliar as reais diferenças entre o hardware da Apple e do mundo IBM/PC para verificar se vale a pena investir tanto em máquinas com o logo da maçã. Porém como eles usariam o MacOS nos Apple e o GNU/Linux nos x86 uma inevitável análise entre esses sistemas acabaria sendo um efeito colateral do comparativo de hardware. O que foi levado em conta foi a performance das máquinas enquanto servidor, já que não existem muitos jogos para essas plataformas e os processadores usados nas máquinas (e a montagem de duas unidades no gabinete) não são produtos voltados para o mercado doméstico.

O comparativo levou ao ringue máquinas Dual PowerPC G5, Dual Xeon 3.6GHz e Dual Opteron 250 (2.4GHz) e os resultados são bastante curiosos:
a) O Dual Opteron mostrou-se a melhor máquina do teste, sendo incontestável sua vantagem sobre o Dual Xeon, mesmo tendo 1.2GHz de clock a menos e metade do cache L2.
b) Os resultados das máquinas Apple variaram muito, em certos testes ficavam muito próxmos dos Opteron, mas em testes como o do MySQL um Dual G5 com MacOSX server chegou a ser 8 vezes mais LENTO que um Dual Opteron com GNU/Linux.

O estranho comportamento dos PowerPCs nesse teste gerou dúvidas sobre o que estava acontecendo de errado. A plataforma usada hoje pela Apple (PowerPC) é conhecida por ter um bom desempenho principalmente em processamento maciço de dados. O que estaria acontecendo? Seria o Dual G5 realmente até 8 vezes mais lento que um Dual Opteron?

Como o primeiro teste gerou mais dúvidas que certezas e acabou mostrando que se você quer montar um servidor de dados deve fugir do Apple Xserver o pessoal do AnandTech decidiu realizar agora um novo teste, desta vez comparando as performances de GNU/Linux e MacOSX server no mesmo hardware. Eles usaram como referência os testes dos x86 com GNU/Linux.

O resultado dessa segunda bateria de testes é uma surpresa, ao menos para mim. Usando o GCC 4 (no primeiro teste foi usado o GCC 3.3) o desempenho geral do PowerPC subiu em relação ao x86. Isso significa que a equipe do GCC 4 melhorou o suporte à PowerPC (e suas instruções Altivec) em relação aos compiladores anteriores (de fato em alguns testes o aumento de desempenho chegou a 70%) provando que o primeiro teste realizado não havia sido justo com a plataforma, não permitindo que ela entregasse tudo que poderia.

Mas o grande ponto do teste para a comunidade de software livre vem agora: um DualG5 com MacOSX é 8 vezes (!) mais lento* que o mesmo DualG5 com GNU/Linux (kernel 2.6) e 14 vezes (!) mais lento* que um Dual Opteron com GNU/Linux quando servindo bases de dados MySQL!!!

*OBS: mais lento é sentido figurativo. Com 50 requisições concorrentes e considerando o Opteron/Linux como patamar de desempenho a performance dos G5 pode ser escalonada como: MacOSx(2G5): 7% da performance e GNU/Linux(2G5): 61%

A diferença de desempenho entre Opteron e G5 é muito grande, mesmo em GNU/Linux. Mas em MacOS server ela é grande demais! A diferença de desempenho enquanto servidor entre GNU/Linux e MacOS é assustadora. De fato o MacOS mostra-se um servidor muito, muito ruim, estando até muito atrás do próprio Windows.

Considerando tudo o que já foi falado à respeito do Opteron e pelos testes que já foram feitos ele é, provavelmente, a melhor plataforma para servidores multiprocessados do mercado hoje. E analisando o panorama dos sistemas operacionais, parece-me que a dupla Opteron/Linux é o que existe de mais poderoso hoje no mercado para esse tipo de solução.

Na trinca Windows x MacOSX x GNU/Linux ao menos no mercado de servidores o GNU/Linux ainda reina absoluto como sendo o melhor e mais robusto sistema operacional disponível, o que me faz pensar se o desktop não é apenas uma questão de tempo e paciência. De qualquer modo, com todo esse frenesi ao redor da Apple e que processadores eles usarão até 2008 eu me sinto à vontade para fazer a mesma pergunta novamente: Quem tem medo do MacOS?

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segunda-feira, setembro 05, 2005

Em cada possibilidade...

Um amigo meu gosta de dizer uma frase: "Em cada possibilidade há uma adversidade, mas em cada ameaça há sempre uma possibilidade.". Essa frase provavelmente não é dele, mas sim um jargão do mundo dos negócios que às vezes ele coloca em alguma conversa sobre oportunidades profissionais que temos.

Eu gosto dessa frase pela maneira (não tão) simples com a qual ela retrata um panorama que parece repetir-se ciclicamente nos mercados globais, e que tornou-se brutalmente mais visível no mundo de TI.

Quando Taylor criou suas teorias sobre mercados praticamente cunhou o modelo que é adotado até hoje pelas grandes corporações para comercializar seus produtos. Muita coisa apareceu desde então, como as teorias de Marketing e noções mais precisas de psicologia de mercados e canais de acesso, mas o modelo macro-econômico global hoje é basicamente Taylor.

Henry Ford inventou a linha de produção e deu à sua Ford Motor Co. talvez a maior arma que uma única empresa já tenha conseguido na história do capitalismo. Isso proporcionou à Ford desbancar a Daimler-Benz (considerada a inventora do automóvel como o conhecemos hoje) na produção e comercialização de veículos para as massas no começo do século 20. Tudo para que no final do mesmo século 20 a Ford Motor estivesse à beira da bancarrota pela invasão dos modelos japoneses no mercado estado-unidense.

A Intel Corp recebeu a missão de desenvolver e comercializar o que talvez seja a plataforma de microprocessador mais difundida da história (o x86) da computação pessoal (Nota: excluí o Z80 da categoria porque a Zilog hoje tem como meta mercados diferentes da Intel). Liderou o desenvolvimento dos processadores por muito tempo para hoje seguir a AMD no mercado de 64-bits doméstico (o EMT64 é clone do AMDx86-64 assim como o 4x86 da AMD era clone do 4x86 da Intel).

A Apple criou sozinha o conceito de computador pessoal para hoje estar restrita a não mais do que 5% do mercado mundial de computadores pessoais. A IBM (que a rigor copiou o conceito da empresa da maçã) implementou um padrão tecnicamente inferior, mas que suplantou os outros competidores e tornou-se quase o único padrão no mercado hoje.

O panorama identificável que eu citei no começo do texto é o seguinte: grandes líderes que introduzem grandes conceitos quase nunca permanecem na liderança dos mercados que eles mesmos criaram. É curioso notar que normalmente líderes de mercado tendem, com o tempo, a serem superados ou terem seus produtos superados no mercado por empresas que antes eram seguidoras de tendências. A liderança de mercado têm imposto (em mercados globais de massa) a inferioridade técnica ou mercadológica.

Existem diversos exemplos a mais que poderiam ser citados, e o contrário parece sempre ser exceção. A Ford não é a maior produtora mundial de carros. A Apple não é a lider mundial no mercado de computadores domésticos. E de fato nem a IBM o é, pois já também perdera a liderança para outros. Os processadores da AMD têm sido considerados melhores que o da Intel em boa parte dos testes. A Microsoft popularizou seu sistema gráfico, inspirado no sistema da Apple, que por sua vez era inspirado no da Xerox.

E agora que o Microsoft Windows completa uma década de liderança absoluta no mercado, quase sem concorrentes, prepara-se para uma nova versão. Já falei em outros posts o que penso da Microsoft e suas campanhas publicitárias, e o que eu realmente espero do Windows Vista. Já falei também de como John C. Dvorak suspeita de que o Windows Vista não trará nenhuma grande novidade, coisa que eu mesmo já havia dito algum tempo antes. Mas parece-me que cada vez mais certos segmentos da mídia especializada em TI juntam-se à essa corrente: a turma que acredita que o Windows Vista será só um Windows e nada mais.

Saiu no Guia do Hardware um artigo sobre a opinião de dois colunistas estrangeiros que atestam que o lançamento do Windows Vista pode não ser uma ameaça ao GNU/Linux, mas sim uma oportunidade. Essa oportunidade que pode estar implícita no próximo lançamento da Microsoft deve ser avaliada e estudada e pode tornar-se real e acabar fortificando o GNU/Linux em sua trajetória na batalha contra o Windows.

Relatos como o do Wired News sobre um teste com o beta1 do Windows Vista colocam-me a pensar:

"Muito do que a Microsoft prometeu para o Vista nem sequer deu as caras nesse beta1, nem há uma diferença muito grande do Windows XP em termos de manejo do sistema."
Se em quatro anos de desenvolvimento a Microsoft não conseguiu implementar em seu beta1 coisas como um sistema de arquivos inteligente, porque em mais alguns meses ela conseguiria lançá-lo em versão final? Para um recurso tão importante do sistema (como a reestruturação do sistema de arquivos) um período de testes longo seria ideal para assegurar um bom funcionamento. Mas nem sinal desse recurso até agora.

"Uma diferença que pode ser notada no IE7 é a navegação por abas, como a do Mozilla (...) mas apenas isso será suficiente para impedir que os usuários optem por algo diferente?"
A Microsoft implementou (até que enfim) o recurso de abas, mas o discurso da maior segurança continua lá, em cada página de publicidade.

"O beta1 rodou vagarosamente em um PC com Athlon XP 2800 com 1GB de DRAM e uma ATi Radeon 9600."
Isso realmente era tudo que gostaríamos de ver no novo Windows, nossos hardwares sendo jogados no lixo. Argumentem à vontade que é apenas um Beta e que até a versão final muita gordura pode ser tirada para que o sistema rode mais rápido. E acordem: um Athlon XP 2800 com 1GB de RAM e ficou lento? Estou usando o Mandriva 2006 beta3 em um P3 800MHz com 640MB de RAM. Viva a Microsoft!

"A Microsoft diz que o Vista é totalmente compatível com a vasta maioria das aplicações existentes para Windows. Entretanto preféricos antigos, como scanners, cameras digitais e outros dispositivos podem apresentar problemas se seus fabricantes não oferecerem ao mercado drivers para o Vista"
E Steve Ballmer tem a pachorra de afirmar que o mundo do sotware livre é que não sabe integrar soluções. A cada versão do Windows é a mesma história, listas de incompatibilidades enormes e falta de suporte a dispositivos que todo mundo (ao menos no 3º mundo) usa. E os GNU/Linux é que não são intercompatíveis? Que é isso....

"O Beta1 do Windows Vista oferece essencialmente as mesmas funções de segurança que o Windows XP SP2 oferece"
Mas o discurso já manjado do "será mais seguro e melhor que qualquer outro Windows" continua presente em cada canto do site da Microsoft. Há a implementação de um sistema de propriedade de arquivos parecido com o sistema do UNIX, mas que no Beta 1 está desligado por padrão. Novamente: um recurso como esses só funciona bem se testado de debugado de acordo, coisa que a Microsoft não está fazendo, depois de ficar 4 anos desenvolvendo o sistema.

Coisas como o Monad, um sistema de shell e scripting parecidos com o BASH dos UNIXES que melhorariam a integração e implementação do Windows Vista em servidores já cogitam ser retirados do sistema e serem lançados como um produto separado, por mostrarem-se como pontos onde a segurança do sistema estaria altamente comprometida. De novo é mais fácil para a Microsoft fazer um sistema carente de recursos profissionais do que seguro de verdade.

Após ler esse tipo de análise fica uma sensação de que o Windows Vista será apenas uma maquiagem no Windows XP e que seus custos e falta de novidades realmente úteis sejam uma grande possibilidade para que o GNU/Linux continue crescendo no mercado corporativo e possa aparecer como alternativa para o mercado doméstico. E aí quando a Microsoft perder a liderança de mercado talvez busque de verdade ter um melhor produto, validando novamente a teoria da liderança perdida.

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