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domingo, maio 29, 2005

Microsoft: A empresa das inovações

O BlueJ é um ambiente de desenvolvimento interativo para a plataforma Java criado em uma universidade da Austrália para ensinar aos estudantes como programar com orientação à objetos. Ele deriva de um sistema chamado Blue que é formado de uma linguagem e um ambiente de desenvolvimento com fins didáticos. Por suas raízes e seu desenvolvimento é um ambiente fácil de ser manuseado e permite um aprendizado rápido das técnicas básicas de programação.

O BlueJ possui uma característica chamada ObjectBench (Bancada de Objetos em uma tradução livre) que é uma maneira fácil e rápida do programador criar e/ou utilizar objetos em uma classe enquanto cria seu código. O conceito de manipulação visual de objetos já existe há muito tempo, mas o time de desenvolvimento do BlueJ tornou isso um procedimento fácil e corriqueiro com a invenção do ObjectBench.

A coisa legal é que o funcionário da Microsoft, Dan Fernandez (Gerente de Produto para o MS Visual C#) anunciou em seu blog pessoal "uma nova característica do Microsoft Visual Studio 2005" que é........ o Object Test Bench (a Bancada de Testes de Objetos em tradução livre). Essa OTB do novo VisualStudio da MS faz a mesma coisa que o ObjectBench do BlueJ faz.

O que tem gerado polêmica é que o BlueJ já apresenta esse recurso há 6 anos, e agora a MS implanta-o em seu VisualStudio como uma novidade jamais vista pelos desenvolvedores antes. No entanto o texto não refere-se à isso como uma invenção da Microsoft em nenhum momento, mas sim como uma inovação da Microsoft. É isso enfim, depois de discutir esse assundo neste blog há muito tempo atrás chagamos à resposta. A Microsoft é a impresa das inovações!

Considerando que tratamos da empresa que deseja patentear o clique duplo de mouse como uma invenção sua para cobrar de terceiros que usem isso em seus programas; defende a implantação de patentes de software quando ela própria não respeita a propriedade intelectual de outros e não credita os inventores por suas idéias, simplesmente rouba e absorve não é surpresa para mim que a Microsoft esteja fazendo isso novamente! É apenas enojante.

E enoja mais ainda ver a maneira como isso foi feito. O responsável pelo desenvolvimento do BlueJ falou sobre isso e apresentou os screenshots do VisualStudio e do BlueJ operando de maneira similar. As imagens são identicas, com os mesmos termos e inclusive estando dispostos em diagramações iguais. É cópia pura e simples! Com 6 anos de intervalo.

Se houvessem patentes de software a Microsoft jamais poderia estar fazendo isso, cometendo esse tipo de crime. É interessante pensar que é a Microsoft o maior defensor da implantação das patentes de software, mas que se elas existissem desde a década de 80 a Microsoft seria, provavelmente, uma empresa de compotas de figo hoje em dia, pois nem interface gráfica ela teria já que a do Windows foi roubada da Apple, que foi roubada antes da Xerox. Me pergunto se isso tudo não seria uma maneira deliciosamente diabólica de forçar os defensores do software livre a pensarem nas patentes de software como a solução para um dilema que surge com o código fonte aberto: uma empresa pode ver o código de um programa livre, copiá-lo e colocá-lo para rodar em seu produto proprietário e como ninguém, além de seus desenvolvedores, pode ver o fonte, nunca ninguém saberá o que aconteceu de fato.

Já que não podemos ver o código fonte do Windows o que garante que a Microsoft não irá pegar o código de gerenciamento de memória, por exemplo, do kernel Linux e implementá-lo? Mas sequer podemos considerar as patentes de software para proteger o mercado de ações dessa natureza, pois seu efeito restritivo e danoso engessaria tantas áreas do desenvolvimento de TI que levaria as pequenas empresas de software para a idade média.

Talvez esse episódio do BlueJ seja um aviso para que a comunidade de Software Livre e os governos pensem em maneiras de controlar o uso que empresas de software proprietário possam vir a fazer de código fonte livre disponível publicamente. E essa discussão deve começar antes que essas empresas possam roubar mais idéias e código de projetos livres como a Microsoft acaba de fazer com o BlueJ.

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segunda-feira, maio 02, 2005

Sobre Software Livre

Houve repercussão na imprensa sobre os comentários do Ministro Furlan (que comentei no tópico anterior) mas o que me parece é que não se pode dizer que exista um entendimento claro da sociedade a respeito do que signifique Software Livre. Elio Gaspari, reporter conceituado, escreveu o artigo Furlan e Bill Gates x Zé Dirceu para vários jornais do país e classifica o assunto como "desgramado de chato". Sinceramente não me lembro de discussões filosóficas ou burocráticas que tenham sido particularmente empolgantes ou excitantes a ponto e serem um parâmetro de comparação para isso.

De qualquer modo, Gaspari puxa o conteúdo de seu artigo para o âmbito político apenas e finaliza a discussão sobre o PC Conectado com um texto pra lá de interessante: "Há no mercado as máquinas AMD, vendidas na Índia a U$ 185. Eles vão ao governo, pedem os mesmos incentivos fiscais do programa oficial e a patuléia só tem a ganhar. Em vez de um milhão de computadores, vão aparecer dois milhões."

É terrível ler isso, ainda mais proveniente de um reporter de prestígio. É esse tipo de coisa que alimenta as minhas "birras" com certas profissões. A medicina corporativista, por exemplo, onde os médicos recebem propina dos laboratórios farmacêuticos para empurrar para as pessoas remédios que elas não precisam para doenças que, às vezes, elas não tem. O direito, que mais vale-se das distorções interpretativas do código, que da prática ética para executar todos os tipos de prostituição moral imagináveis pelo homem. E o jornalismo, que transforma qualquer pessoa em um especialista sem a necessidade de comprovação. Um jornalista é um profissional que cursou uma faculdade que o ensinou a lidar com as palavras, com a opinião pública e com um código moral praticamente abstrato. Porém depois de formado ele pode falar sobre qualquer coisa, por menos que ele entenda do assunto, que sua opinião ainda assim será crível para a maioria das pessoas.

Não estou me referindo ao Sr. Gaspari em específico, mas sim à classe jornalística, que movimentou-se contra a tentativa de criar o Conselho Federal de Jornalismo como se estivesse lutando contra o AI-5 do regime militar. O CFJ seria um órgão regulamentador cujo papel seria fiscalizar e punir jornalistas que falhassem na manutenção da ética e cometessem a coisa que mais observa-se em mídias escritas hoje, escrever besteira. Os Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREAs) fiscalizam e regulamentam essas profissões e fazem questão de punir seus associados quando necessário. Muitas outras profissões tem Conselhos fortes, mas a classe jornalística escapou disso em uma ação ardilosa, mobilizando a opinião pública contra algo que ela própria considerava censura, e eu chamo apenas de regulamentação da profisão. Tudo bem no paraíso, afinal é bem melhor não ser responsável nunca pelas coisas que fazemos.

Obrigado, eu não acho melhor dois milhões de computadores do que um, porque esse um milhão a mais estaria rodando o Microsoft Windows Starter Edition. E antes que você venha me dizer que sou "anti-Microsoft" leia isto: o problema não é ser Microsoft ou ser Windows. Isso é politicagem que só serve pra encher páginas de jornal barato. Quando um ministro vêm à público dizer que temos que resolver o problema sem ignorar o software proprietário está fazendo lobby pelas empresas. Quando um repórter diz que poderíamos dar aos fabricantes e à Microsoft incentivos fiscais para que ela entregue um Windows mais barato está sendo superficial e tolo.

Independente de qual partido a pessoa tome, se pelo software proprietário ou pelo livre, há uma coisa que não pode ficar de fora da lista de argumentos a considerar, e isso não é impostos, ou o preço final da cópia do software. No modelo proprietário os usuários serão sempre apenas usuários. O único jeito de aprender como o sistema funciona é indo trabalhar dentro da empresa que criou o programa, nesse caso específico seria a Microsoft. Isso não pode ser mudado, pois as empresas, como a Microsoft, não querem que isso mude, já que se apenas elas detêm o conhecimento o monopólio de mercado é questão de tempo e de manutenção.

Apenas o software livre permite que os usuários superem o muro que os separa de entender como um computador funciona de verdade, pois não apenas o código, os métodos e toda a técnica usada para criar um programa estão lá ao alcance da mão; como também está lá uma comunidade inteira para partilhar informações e, o mais importante, é garantida à todos a liberdade para estudar, modificar, alterar e compilar tudo de novo, para que você aprenda e possa, com o tempo, aproximar o programa das suas reais necessidades. E nem o Ministro Furlan, nem Elio Gaspari tocam nesse assunto.

A questão política é bem mais profunda também, pois com software livre o governo não precisaria subsidiar o financiamento de licenças de software. Já no modelo proposto pela Microsoft, por mais barato que o Windows Starter Edition seja, o meu e o seu dinheiro estarão sendo gastos nessas licenças. Todos estaremos pagando por cópias de Windows para terceiros, e além disso não me parecer justo, estaremos usando como pretexto a inclusão digital para forçar a venda de um produto que não respeita as liberdades individuais de acesso ao conhecimento que deveriam ser garantidas pela constituição da República.

Em seu texto Gaspari afirma que 9 em cada 10 computadores do mundo usam o Windows. Isso é um mal entendido. A pesquisa das Top 100 em tecnologia da revista Info Exame publicada em Abril de 2005 mostra que 68% das 100 empresas pesquisadas usam GNU/Linux. Me parece um dado bem diferente de dizer que 90% das máquinas rodam Windows. Ao estimular o uso de GNU/Linux por adolecentes e crianças estamos dado à eles a oportunidade de aprenderem a usar um produto que está difundindo-se e, portanto preparando-os para o mercado de trabalho no futuro.

Isso é verdade e torna-se visível quando pensamos que a maioria esmagadora dos usuários de Windows tem sérias dificuldades para administrar seus computadores. Usuários de Windows pedem ajuda à terceiros para executar tarefas como particionar discos, fazer manutenção de hardware e muitos outros procedimentos que estão para o computador assim como calibrar os pneus estão para os automóveis. Usuários novatos em GNU/Linux enfrentam as mesmas dificuldades, e ao passo que a documentação disponível para GNU/Linux é mais complexa e exige mais leitura e esforço para ser compreendida ela também é, invariavelmente, tecnicamente mais apurada e correta. Percebe-se em usuários GNU/Linux, mesmo nos novatos, um conhecimento técnico que inexiste em boa parte dos usuários de Windows. Muitos podem dizer que isso deve-se ao fato do GNU/Linux ser mais complicado de lidar. Outros afirmarão que isso ocorre pelo fato do GNU/Linux ser livre, e portanto permitir a todos que aprendam esses conceitos de maneira irrestrita. Qualquer que seja a razão o fato é que falar em inclusão digital usando software proprietário é fazer uma releitura do Mobral, programa de alfabetização que ensinava as pessoas a escreverem o próprio nome e depois as rotulava de alfabetizadas. O resultado disso é uma massa gigante de analfabetos funcionais, pessoas que até sabem ler e escrever, mas que compreendem muito pouco, senão nada do que lhes é passado de forma escrita.

Incluir o Windows e outros softwares proprietários em um programa que visa educar e preparar os jovens desse país para o mercado de trabalho não é, nem de londe, inclusão social. Estaremos apenas criando um exército de operadores de computadores que ficarão paralisados no próximo ataque de vírus pela internet. Apenas o acesso irrestrito e livre ao conhecimento proporcionará uma massa de usuários que realmente saibam operar computadores. E não é o governo ou os lobbys de empresas e políticos que devem escolher o que as pessoas poderão aprender.

São os usuários que devem decidir até onde querem chegar. E entre o Windows e o GNU/Linux, apenas a alternativa livre não impõe barreiras à essa decisão. É exatamente por isso que o software livre é chamado dessa forma, porque o usuário também é livre. Se ao tomar conhecimento do GNU/Linux o usuário optar livre e espontâneamente por usar o Windows deve estar à vontade para ir à uma loja e adquirir uma cópia desse sistema. Isso não só é livre escolha, como também regulamentação de mercado.

Mas enquanto o debate político não considerar a questão de o quanto cada proposta pode contribuir para a educação verdadeira da população, para a contribuição que cada modelo pode ou não dar ao Brasil como nação será como vem sendo: um debate demasiadamente político e pouco prático. Um milhão de computadores com software livre podem gerar um milhão de profissionais e experts em informática, que podem saber programar e administrar sistemas. Um milhão de computadores com software proprietário podem gerar um milhão de usuários de computador que estarão, pelas condições economico-sociais do Brasil, tentados a piratear os programas mais recentes e que, talvez, continuem precisando de ajuda para reinstalar seus sistemas após o próximo ataque de virus pela internet.

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