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terça-feira, abril 26, 2005

Furlan e a confusão

Em reportagem do jornal de orientação de direita O Estado de São Paulo o Ministro do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior brasileiro, Sr. Luiz Fernando Furlan é citado como sendo defensor do software proprietário no programa PC Conectado. “Parece estranho que um país que está avançando na produção de software, tendo um universo extraordinário de empresas pequenas e médias atuando, possa discriminar o software proprietário", disse Furlan.

Sem citar especificamente a Microsoft Furlan disse "É claro que um programa como o do PC Conectado deve privilegiar o software livre. Mas a minha visão é muito prática. É como se fizessem um programa de um veículo básico e a lei proibisse alguém de oferecer um opcional", disse Furlan. "Temos de pensar que a propriedade intelectual é um bem para o Brasil. Nós seremos e já somos um importante produtor de software."

O que o ministro da república Luiz Furlan estaria fazendo? Defendendo a Microsoft? Defendendo o software proprietário? Fazendo Lobby? Ou apenas confusão?

O ministro confunde software proprietário com propriedade intelectual. São duas coisas distintas, não relacionadas, mas toda vez que alguém que usa no peito um crachá da Microsoft fala de software livre faz questão de misturar. E essa política do confundir pra convencer alcança agora um membro do primeiro escalão do governo. O ministro equivoca-se em suas afirmações, mostrando estar despreparado para discutir o assunto, simplesmente por desconhecer premissas básicas.

Mas não há problema! É para isso que acomunidade do software livre existe, para quando você não sabe algo poder perguntar à alguém! É por isso que agora eu explico os pontos que confundiram o Sr. Furlan, para que nenhum outro funcionário do governo saia em público dizendo bobagens! Aqui vamos:

1- Optar por software livre não é discriminar o software proprietário: É opção! São produtos distintos, com características distintas. No modelo livre você está livre para modificar, alterar e inspecionar o software. No modelo proprietário você está amarrado ao fornecedor para fazer isso por você. Ambos modelos trazem pontos fortes e fracos e escolher um deles é opção de mercado. Quando o governo faz licitações de automóveis opta por veículos à gasolina para escapar do cartel dos usineiros do álcool. A opção por software livre é legal e não discriminatória como citou Furlan.

2- As empresas que fazem software proprietário se auto-discriminam: A legislação que o Brasil está aprovando para optar preferencialmente por software livre não é discriminatória na media em que não veta este ou aquele fornecedor. Ela pede preferência para uma solução que é considerada tecnicamente superior, mais barata e ainda por cima beneficia a sociedade brasileira. Aonde está o mau negócio? Qualquer empresa pode produzir software livre ou proprietário, se a lei diz que o governo deve preferir software livre uma empresa só será impedida de ganhar a concorrência por sua própria falta de vontade de produzir este tipo de software. Então a culpa é de quem? Se o governo abrir licitação para comprar caminhonetes à diesel estará discriminando os fabricantes de modelos à gasolina? Acho que não! Ademais, quem deve escolher o que será comprado; o comprador ou o vendedor? Obrigar o governo a comprar software proprietário só para manter "isonomia" é empurrar para o consumidor um produto que ele não deseja, por um preço que ele não acha justo. Você gostaria que fizessem isso com você? Por que então concordaria que fizessem isso com seu estado?

3- Quem não tem competência que não se estabeleça: Meu avô dizia isso toda vez que ia em algum lugar e não era bem atendido. Existem várias empresas de software aflorando no Brasil e isso é ótimo, é sinal que estamos crescendo. Se elas produzirem apenas software proprietário não poderão fornecer ao governo. E daí? Apenas 6% do mercado nacional de software é público. A maioria esmagadora das empresas ganha dinheiro vendendo para iniciativa privada e se fizer um trabalho competente terá seu espaço. Mas não conseguiriam competir com a Microsoft, você poderia argumentar. Exato! Por isso não vale a pena proteger o mercado da Microsoft, porque ela já é grande demais e sua concorrencia é desleal demais para com nosso pequeno mercado de software. O que o ministro Furlan usa como argumento para não preferirmos adotar o software livre é o maior argumento para irmos para o software livre de uma vez. Quantas empresas do Brasil teriam condições de criar um sistema operacional pra concorrer com o Windows nas licitações do governo? A resposta é ZERO! Se preferirmos o software livre teremos na concorrência a Conectiva, a Cobra, o Kurumin, e ao menos mais 2 ou 3 soluções de empresas brasileiras. Qual cenário ajuda mais o desenvolvimento de tecnologia local? Pense e chegue às suas conclusões. Além disso a choradeira da Microsoft pelo PC Conectado não é pelo que acontece no governo brasileiro. O problema da Microsoft é se a moda pega e empresas e governos de outros países do mundo fizerem o mesmo. A Microsoft não quer que a oportunidade de crescimento do software livre apareça.

4- Software livre e Propriedade intelectual não são antônimos: Essa é uma das maiores "guerras" filosóficas da turma do software livre. A microsoft faz questão, através das entrevistas de seus evangelizadores, de afirmar que o Linux viola propriedade intelectual, que software livre é anti-patentes e mais centenas de outras mentiras (SIM! Chamei uma das empresas mais poderosas do mundo de MENTIROSA!!!!). Nada disso, software livre só é livre porque o detentor dos direitos autorais lhe cede os direitos de uso daquele software gratuítamente. Software livre tem propriedade intelectual sim e ela sempre é registrada pelo autor do software. A diferença é que os autores do software livre não estão apenas preocupados com seus bolsos (claro que todos querem ganhar algum dinheiro) mas também com o desenvolvimento social do mundo em que vivem. Se você quiser fazer software livre pode registrar patentes, propriedades intelectuais, à vontade, mas deve comprometer-se em não cobrar nunca pelo seu trabalho e deixar os outros usuários livres para estudá-lo e modificá-lo se quiserem. Não consigo entender do que a Microsoft tem tanto medo. Em um mundo onde dinheiro é poder pessoas que trabalham em projetos voluntariamente e empresas que dão seus sistemas de graça não deveriam representar perigo, afinal nunca ninguém terá tando dinheiro e poder como a Microsoft. O medo da Microsoft é que sim, o GNU/Linux é muito melhor que Windows, e quando as pessoas descobrirem isso, quando esse sistema livre deixar de ser lider em um nicho específico e passar a ser a vedete do mainstream não haverá quem combater, quem comprar ou quem processar, o estrago estará feito. Então a Microsoft precisa combater isso agora, enquanto é pequeno, e o faz com a única coisa que resta quando você não tem argumentos, a mentira. Opa, entendi do que a Microsoft tem medo.

5- Software livre e desenvolvimento social são sinônimos: Usando software livre uma nação pode melhorar as condições de vida de seu povo de muitas maneiras. Com os 28 bilhões de reais gastos por ano com licença de software o Brasil poderia investir mais em saúde, educação, ferrovias, rodovias e baixar os impostos que eu e você pagamos. Várias empresas nacionais podem desenvolver sistemas operacionais, editores de texto, de imagem, de vídeo, milhares de outras coisas e vender produtos à preços compatíveis com a realidade brasileira (nada de sistemas operacionais à 500 reais a cópia). O dinheiro pago pela compra desses produtos não vai para o exterior e permanece aqui para gerar emprego e renda para o povo brasileiro. Pelo fato de ser aberto e permitir o seu estudo por qualquer um o software livre é a melhor maneira de um estudante aprender a programar um computador, pois vê programas reais em funcionamento, nada de exemplos bobos de livros de computação. Essa característica, à longo prazo, pode nos transformar na nação com maior capacidade de produção tecnológica do mundo, basta querer! Por seu baixo custo o software livre pode ser implantado em qualquer programa de inclusão digital, com praticamente qualquer computador 486 ou superior, sendo a melhor alternativa para baratear o acesso de pessoas carentes à tecnologia, dando-lhes a oprtunidade de ter uma profissão, um emprego e uma vida melhor.

É realmente chocante que o ministro do Desenvolvimento ignore todos esses fatores e defenda a compra de software proprietário pelo governo, mesmo que isso signifique alimentar uma empresa transnacional, evasão de divisas, e manutenção de um estado artificial criado por esta companhia onde os usuários usam programas copiados ilegalmente para assegurar uma base instalada segura para permitir todo tipo de manobra e lobby político. Que o governo adote o software livre e que a Microsoft e outras empresas que queiram vender ao governo mudem sua política de traficantes para que a tecnologia possa ser realmente acessível a todos. É isso que eu quero pro Brasil.

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domingo, abril 24, 2005

FISL 6.0

fisl6.0
De 01 a 04 de Junho acontece no Brasil na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, o Festival Internacional de Software Livre. O FISL 6.0, como o evento está sendo chamado, reunirá grandes personalidades internacionais e nacionais do Software Livre e é uma boa oportunidade para que todos possam não só interar-se do que acontece no mundo do SL mas também conhecer as novas tendências e assistir grandes palestras sobre diversos temas.

A programação oficial do evento já está online e pode-se conferir a variedade de temas que serão tratados em debates e reuniões. Desde filosofia do software livre até suas implicações políticas, passando pelas áreas técnica, social e cultural. O evento também será usado por diversas comunidades para promover encontros de usuários e troca de experiências.

Desde o surgimento do Forum Social Mundial, Porto Alegre tornou-se sinônimo de preocupação com a igualdade social e inclusão de minorias. Como o software livre está intimamente ligado à esses conceitos por sua essência a cidade é o local ideal para receber o evento. Aliás o FISL é reconhecido como um dos maiores eventos do mundo na área razão pela qual recomendo muito uma visita para todos aqueles que vêem no SL não apenas uma opção técnica de liberdade, mas também a possibilidade de construir uma sociedade melhor.

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quinta-feira, abril 21, 2005

A licença do BitKeeper

Pra quem não sabe o BitKeeper é um programa proprietário de manutenção de versões para desenvolvimento de programas. Mesmo sendo proprietário o programa tinha uma licença gratuíta (mas fechada) para o Linux. Isso porque o desenvolvedor do BitKeeper é uma empresa de um amigo pessoal de Linus Torvalds chamado Larry McVoy. Graças à licença gratuíta para o Linux, Torvalds implantou o BitKeeper no kernel Linux há cerca de 3 anos.

Até aí tudo bem, já que a licença do BitKeeper não previa a cobrança para utilização em Linux. O problema é que essa mesma licença proibia qualquer usuário do BitKeeper de criar sistemas de controle de versão que viessem a concorrer contra o próprio BitKeeper. Isso faz com que qualquer pessoa que use-o esteja automáticamente proibida de desenvolver algo na mesma área, já que o código do BitKeeper é fechado e proprietário. A coisa esquentou quando Andrew Tridgell co-autor do Samba anunciou que fazia engenharia reversa em pacotes do BitKeeper pra criar uma versão compatível mas totalmente livre.

Torvalds não gostou dessa iniciativa e pediu a Tridgell que parasse esse desenvolvimento. A suspensão do trabalho não ocorreu e a empresa de McVoy descontinuou a versão gratuita do BitKeeper, impedindo Torvalds de mantê-lo no kernel Linux. Torvalds por sua vez acusou Tridgell de ser o responsável pela situação toda e, em listas públicas de discussão têm acusado-o de prejudicar o desenvolvimento do kernel.

Desde então Torvalds vêm trabalhando em um sistema de controle de pacotes chamado git e não é sabido se haverá compatibilidade com o BitKeeper ou se as coisas mudarão e quanto mudarão. Mas Torvalds já mostrou-se indisposto a adotar a solução desenvolvida por Tridgell. Tridgell defendeu-se afirmando que nunca foi usuário do BitKeeper e que portanto sua licença, e a polêmica proibição, não aplicariam-se a ele deixando-o livre para desenvolver um concorrente.

Se, de fato, Tridgell não usava ou usou o BitKeeper então a coisa toda não passa de um acesso de raiva de McVoy e quem estaria desrespeitando os termos da licença seria o próprio Linus Torvalds... irônico não?

Mas a questão maior por trás de tudo isso é, a meu ver, mais profunda. Pra que usar um sistema proprietário no desenvolvimento do kernel Linux? Qual o sentido disso? Toda a confusão que está ocorrendo não é culpa de Tridgell, tendo ele usado ou não o BitKeeper. A culpa toda é de McVoy e Torvalds, o primeiro por cancelar aparentemente sem razão a licença gratuíta para usuários Linux; e o segundo por usar um sistema proprietário para fazer a manutenção do programa que pode ser considerado modelo de sucesso em software livre.

Jamais um software proprietário poderia ser usado no desenvolvimento do kernel Linux e esse é o maior erro dessa história toda. É uma incoerência ideológica pela qual Torvalds paga agora, sendo obrigado a desenvolver de ultima hora um sistema de correções para que o desenvolvimento de seu kernel não pare. Além da mancha em sua reputação que o desentendimento com uma grande figura do mundo do software livre (Tridgell) por estar defendendo um software que é proprietário.

Que feio...

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